Prazeres efêmeros e o prazer da felicidade

O fim de semana ainda nem acabou e já foi tão intenso que parece infinito.
Eu tive que apaziguar uma fera que dorme no homem, mas quando acorda está sedenta, sedenta, voraz e raivosa.
Pedi ajuda para todos os santos, desde Jesus, Buda a Shiva. Agradeço ao universo pela paz estabelecida sem uma gota de sangue, mas com muitas, muitas lágrimas, lágrimas que foram o bálsamo que a fera precisava para adormecer, ufa!
Eu vi o meu amor cuidadoso explodir em cores, em carinho, em olhares, em paz.
Amor e paz são coisas que deveriam caminhar sempre juntas, não sei porque a gente teima em separar.
Eu vi o filme do Chico Xavier, gostei muito. É uma experiência de vislumbre da humildade, amor e abnegação. O filme é bem fiel aos livros que eu já li dele, um filme sério, sem sensacionalismo, sem efeitos especiais, simples como o Chico sempre foi.
Depois do filme, que me deixou em estado de graça, eu fui passear com minha alma pelo jardim de lótus.
Ainda estou tentando absorver alguma coisa de tudo aquilo que se passou neste passear de alma.
Ouvi falar das nossas cascas, cascas que nos foram incorporadas e que adquirimos sem consciência do que se formava, sem saber que cada uma que surgia nos deixava mais longe de nossa própria luz. São as cascas de nosso ego, de nossos preconceitos, nossos mitos, tabus, são os nossos medos e as armadilhas que o nosso orgulho armou para nos defender, são tantas e tantas coisas.
No fundo, mesmo distantes desta luz, sabemos que ela existe, embora tenhamos uma vaga lembrança do que ela seja, percebemos vez ou outra algum lampejo de seu calor, algum rastro de seu cheiro e sentimos a saudade mais difícil de suportar, que é a falta daquilo que você não sabe o que é.
Em alguns momentos, mesmo que rapidamente vemos a brecha do que fomos ou daquilo que gostaríamos de ser.
Parece tão simples, mas é de uma complexidade tremenda!
Um facho desta luz pode ser percebido em outra pessoa, é uma forma de recordar aquilo que é você, na verdade, mas que por causa das suas cascas você não pode ver. Então você se apega nesta fonte, onde você pode ter, mesmo que um pouquinho, daquela lembrança de você mesmo.
Pura ilusão!
Sem nos atentarmos a verdade de que aquela pessoa não pode nos resgatar, nem resgatar nossa verdadeira luz, nos apegamos na ilusão, e como toda ilusão, ela acaba, vira desilusão e dói. Quando dói, nós culpamos a fonte que secou, mas na verdade, não secou, ela só não nos satisfaz mais, secou daquilo de que nós precisávamos, aquilo nos iludimos que ali havia.
Nos iludimos o tempo todo com prazeres efêmeros e culpamos o outro, ou a vida, ou o destino por ele ter acabado, mas como não acabaria se era efêmero? No fundo sabemos que aquele prazer não é duradouro, mas nos entregamos a ilusão de uma intensidade vaidosa e egocêntrica.
Os prazeres efêmeros são saborosos e fugazes, através deles temos a idéia ilusória de que encontramos a felicidade, encontramos nossa alma. Idéia ilusória que desmancha no abrir dos olhos, no despertar após uma noite.
Enquanto perdemos tempo e oportunidades de fazer a busca efetiva de nós mesmos, nos distraímos com essas idéias ilusórias e desculpas inventadas para nos enganar de que não é o nosso momento, de que não estamos prontos. Enquanto brincamos neste esconde-esconde, o tempo não pára, o trem passa e a vida evapora.
Ah quem diga, mas todo prazer é efêmero. Eu não acredito nisso. A felicidade duradoura existe e não é um momento, é um estado de ser, de prazer, e é possível.
Tem mais coisas sobre isso que aos poucos irei digerir.

Nesta noite eu ouvi esta poesia, que me tocou intensamente.

Egoísmo


Sinto falta de você.
Mas o que sinto falta é de tudo o que é seu e me falta.
Sinto falta de minhas faltas que em você não faltam.
Sinto falta do que eu gostaria de ser e que você já é.
Estranho jeito de carecer, de parecer amor.
Hoje, neste ímpeto de honestidade que me faz dizer,
Eu descobri minhas carências inconfessáveis que insisto em manter veladas.
Acessei o baú de minhas razões inconscientes
E descobri um motivo para não continuar mentindo.
Hoje eu quero lhe confessar o meu não amor, mesmo que pareça ser.
Eu não tenho o direito de adentrar o seu território
Com o objetivo de lhe roubar a escritura.
Amor só vale a pena se for para ampliar o que já temos.
Você era melhor antes de mim, e só agora posso ver.
Nessa vida de fachadas tão atraentes e fascinantes;
nestes tempos de retirados e retirantes, seqüestrados e seqüestradores,
A gente corre o risco de não saber exatamente quem somos.
Mas o tempo de saber já chegou.
Não quero mais conviver com meu lado obscuro,
E, por isso, ouso direcionar meus braços
Na direção da dose de honestidade que hoje me cabe.
Hoje quero lhe confessar meu egoísmo.
Quem sabe assim eu possa ainda que por um instante amar você de verdade.
Perdoe-me se meu amor chegou tarde demais,
Se meu querer bem é inoportuno e em hora errada.
É que hoje eu quero lhe confessar meu desatino,
Meu segredo tão desconcertante:
Ao dizer que sinto falta de você
Eu sinto falta é de mim mesmo.


 (Padre Fabio de Melo)

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