Da importância de pedir desculpas

Pedir desculpas é valorizar os próprios sentimentos

por Roberto Shinyashiki


"A vida é cheia de mal-entendidos, não dá para evitá-los. O importante é não deixar que eles cresçam para que tenhamos um sono tranquilo. Na maioria das vezes, as pessoas que nos magoaram não fizeram isso por maldade, mas simplesmente por descuido"
Um dos maiores recursos para gerar felicidade é manter a vida sempre em dia. Meu amigo o consultor organizacional Ken O Donnell diz que podemos descobrir o grau de maturidade de uma pessoa de acordo com o tempo durante o qual ela consegue carregar um mal-estar em relação a alguém.
Uma pessoa que tem maturidade percebe facilmente quando alguma coisa está maculando seu coração. É como se fosse uma camisa branca em que um simples pingo de azeite é percebido a distância. Já quem não amadureceu se parece mais com uma camisa preta, que não mostra a sujeira. Quando você presta atenção em si mesmo, é fácil perceber que alguma coisa não está bem nos relacionamentos com as pessoas que ama. Ao notar que criou um mal-estar, prontifica-se a se desculpar com alguém que magoou ou questionar quem magoou você.

Já quem só se importa consigo mesmo nem sequer é capaz de imaginar que feriu o outro. Quem valoriza os próprios sentimentos tanto quanto os das outras pessoas age de forma diferente: pede desculpas, o que é uma maneira de dizer eu te amo.

Um pedido de desculpas é uma forma de dizer que você tem tamanha sintonia com o outro que é capaz de sentir que uma palavra sua feriu os sentimentos dele. Procurar um amigo para falar de algo que ele fez e que magoou você é uma forma de dizer você é importante para mim.

Isso acontece raramente porque muitas pessoas preferem deixar pra lá quando estão chateadas com alguém. Pensam que quem ama entende o comportamento do outro. O problema é que nem sempre há um coração assim tão compreensivo e, com o tempo, a situação mal resolvida acaba fazendo com que se afastem do amigo que as magoou.

A vida é cheia de mal-entendidos, não dá para evitá-los. O importante é não deixar que eles cresçam para que tenhamos um sono tranquilo. Na maioria das vezes, as pessoas que nos magoaram não fizeram isso por maldade, mas simplesmente por descuido. Conversar sobre isso mostra que você é uma pessoa especial.

Quem tem a sabedoria de manter os relacionamentos livres de incômodos também conserva a cabeça livre de pendências. Quando sabe que tem de fazer alguma coisa, vai lá e faz, parte para o tudo ou nada, pois entende que, enquanto não o fizer, estará com a cabeça ocupada com o problema.

É incrível como somos capazes de deixar que as pendências se arrastem até o último minuto. Um jovem, por exemplo, tem de fazer a inscrição para o vestibular. Sabe a data em que as inscrições começam, mas deixa para fazer a dele na semana seguinte e a preocupação de não esquecer já começa a ocupar espaço em sua mente.

Na semana seguinte, ele arruma um monte de coisas para fazer e deixa para depois. Enquanto isso, a preocupação vai aumentando e só terminará quando a pendência for resolvida.

Lembre-se: só quem mantém a mente livre de pendências e preocupações tem tempo para ser feliz e olhos para os passarinhos da vida.

Ensinamentos - Lama Padma Samten

"Um mestre já falecido dizia: “Se você culpa seu marido por seus problemas, você tem uma condenação perpétua — os próximos vão ter a mesma cara, os mesmos problemas do primeiro.” Com namoradas é assim também. Podemos simplificar todo este processo com uma palavra — carma. É um processo muito sutil, não é uma lei que nos condena. Se fosse assim, não existiria a palavra Buda. Buda não é o ser, não é uma pessoa. Buda é uma condição de libertação de todos esses impulsos." Lama Padma Samten

Antes mesmo do perdão existe a não-culpa.”
Lama Padma Samten: Antes mesmo do perdão existe a não-culpa. O perdão é um pouco perigoso no sentido de que ele aponta para alguém que está sendo perdoado. Enquanto que a culpa também aponta para alguém. Mas nós compreendemos a inexistência do sentido absoluto da identidade, aí não faz sentido apontar nem culpas, nem perdão. Nossa natureza é livre, basta refazer os votos. A culpa é um aspecto ilusório, construído, luminoso, como os aspectos todos do Samsara. Significa nós tomarmos algo particular como uma ação e identificarmos a pessoa ou a identidade a partir disso. Naturalmente a pessoa não é isso, a pessoa é uma condição de liberdade, não é uma condição de prisão.

Este vídeo é curtinho e muito explicativo 


“A igualdade é experimentada pela nossa capacidade de entender que, ao trazer benefícios aos outros seres, nós também nos beneficiamos diretamente.”
Pergunta: Não entendo bem a correspondência entre as qualidades e as 5 sabedorias. Por exemplo, para a cor verde, qual a correspondência entre a habilidade de “destruir” e a sabedoria da causalidade? Para a cor vermelha, entre “estruturar” e a sabedoria discriminativa? O Lama poderia explicitar essa correspondência para cada um dos 5 Diani Budas?
Resposta do Lama: Essa é uma boa pergunta. Diz respeito à descrição operativa. Vou começar pela cor azul, que corresponde ao Buda Akshobia, sabedoria do espelho. Quando estamos trabalhando com esta sabedoria podemos entender como que as pessoas estão operando com as suas mentes no sentido de que há uma co-emergência entre o mundo externo e o mundo interno, como elas experimentam a essência do acolhimento. É justamente entender como que as pessoas operam e poder penetrar no mundo delas como elas o experimentam, e ao mesmo tempo, também através da sabedoria da co-emergência, reconhecer a liberdade natural de que ela dispõe. Reconhecer isto é o acolhimento.
A sabedoria da cor amarela é a sabedoria da igualdade, do Buda Ratnasambhava. A igualdade é experimentada pela nossa capacidade de entender que, ao trazer benefícios aos outros seres, nós também nos beneficiamos diretamente. Está ligada a nossa capacidade de manifestarmos felicidade por beneficiar os outros seres. Beneficiar os outros seres é essencialmente sustentá-los no esforço de superarem as suas dificuldades e manifestarem suas qualidades positivas em níveis mais e mais profundos. Quando isto ocorre, estamos manifestando a sabedoria da igualdade. Esta é uma atividade sem esforço. O fato de que não precisamos fazer esforço é uma manifestação natural e não fabricada desta sabedoria da igualdade, que trata da sustentação das qualidades positivas dos outros e da proteção frente aos obstáculos. Ela vem como se fosse algo para nós mesmos, algo natural.
Temos também a sabedoria discriminativa do Buda Amitaba que está baseada nas Quatro Nobres Verdades e no Nobre Caminho de Oito Passos. Ela oferece o eixo, a estrutura para as nossas vidas e também é o fio que une nossas experiências atuais com o caminho e o resultado. Portanto, esta é a sabedoria que estrutura a nossa vida quando queremos ajudar os outros seres. É a estrutura budista que podemos oferecer após ter acolhido os seres e iniciado a sustentação de suas qualidades positivas e de sua proteção frente ao sofrimento. Através da sabedoria discriminativa, nós ajudamos as pessoas a se conectarem por si mesmas, de modo independente e lúcido, numa estrutura de caminho que dá sentido às suas vidas.
Estas três etapas parecem que resolvem a questão, porém, como acontece conosco também, quando queremos ajudar as outras pessoas, vamos encontrar obstáculos que se contrapõem à própria estrutura. Mesmo que ela reconheça a estrutura como virtuosa e desejável, surgem obstáculos que precisam ser trabalhados por uma ação decidida. Este é o sentido do destruir: compreender a causalidade, a sabedoria da causalidade, essa é a sabedoria do Buda Verde, Amogasidi. Nós entendemos que as ações e as causas que produzem estas ações podem ser positivas ou negativas de acordo com seu resultado. Logo, as ações negativas que não foram superadas através da estrutura ou que subverteram a estrutura, precisam ser destruídas como uma forma de ajuda. O Lama diz que “destruir” foi uma palavra que ele inventou para sintetizar.
Então, nós temos este ponto: nós acolhemos, sustentamos, ajudamos a estruturação e destruímos os obstáculos. Parece que não falta nada, mas falta o ponto principal. Se tudo isto é feito, mas a pessoa não encontra a realização da sua face última que é a sua face verdadeira, aí vem a sabedoria de Dharmata, cor branca, que corresponde à sabedoria daquilo que esta além de vida e morte, nome e forma, espaço e tempo, amor ou abandono, vitórias e derrotas, etc. Esse é o ponto culminante do caminho, além de fumar e não fumar

Saudade do que não tive

As vezes somos tão bons em criar nossa realidade paralela que chegamos a sentir saudade daquilo que nunca tivemos.
Como aquela paixão que nunca se realizou.
Como aquela viagem que nunca tivemos coragem de fazer.
Como aquele emprego que não buscamos.
Como aquele dia em que nos sentimos amados por alguém que nunca nos amou.
Nossa mente é poderosa e tem uma habilidade incrível em nos fazer acreditar naquilo que só existiu na nossa realidade paralela, no nosso mundo interno.
Buscamos refúgio neste paraíso de sonhos onde pintamos o céu de verde num piscar de olhos. É a nossa fantasia, nosso mundo fantástico, nossa fábrica de ilusões.
O problema é acordar, dói.
De repente uma tristeza profunda, um assombro, um grito alto para chamar atenção de toda a distração do mundo.
É a realidade fria se mostrando impetuosa.
Será que tudo foi uma ilusão que eu criei, protagonizei e dirigi?
Só o tempo ...


Do acolhimento à distância - coisas de relacionamento

Talvez uma das coisas mais difíceis nos relacionamentos seja desapegar dos melhores momentos. Os momentos em que você se sentiu tão amada que nada mais importava. O momento em que o seu amor que parecia do tamanho do mundo foi correspondido na mesma medida. Nos agarramos a estes momentos porque são a plenitude daquilo que sentimos. Desejamos desesperadamente que aqueles momentos durem para sempre e na ânsia de segurá-los cometemos erros que podem naturalmente levá-los para mais longe da realidade.
Também criamos distâncias.
O que parece um antídoto, as vezes separa tanto que não resta mais nada que possa sequer lembrar aquela plenitude momentânea. Deixamos o tempo correr, deixamos a vida seguir seu curso para que a poeira assente sem avaliar o que pode advir desta atitude.
Nem sempre podemos acolher a distância como algo natural, as vezes ela parece uma escolha muito bem arquitetada, produzida com uma intenção misteriosa. 
Ninguém é imune as consequências de algo que pareça desamor. Nada permanece intacto diante disto.
Temos que aprender a lidar com esta fragilidade.
Tudo está em transformação, tudo é metamorfose, difícil é saber se o que restou ainda é suficiente para manter viva uma relação, um amor.
Há pessoas que não sabem lidar com o acolhimento, elas preferem a distância porque é com isto que estão acostumadas. Não percebem o grande círculo em que se encontram, correndo atrás do próprio rabo como se fosse um novo grande desafio.
Desafio é quebrar padrão, desafio é trilhar um caminho diferente.
Acolher o outro, este sim é um grande desafio.

Nós tínhamos que quase morrer todos os dias

Eu estava viajando nas férias, estava na Grécia e tive uma crise fortíssima de bronquite, como nunca tive antes. Eu não conseguia respirar nem inspirar e tossia muito. Faltou-me tanto ar que eu achei que iria morrer.
Eu pensei imediatamente em minha mãe, havia saído do Brasil sem me despedir dela. Que descuido!
Pensar na morte é coisa que todo mundo evita, dá medo, melhor não pensar... Mas veja que paradoxo interessante. Pensar na morte tão pertinho de mim, ali naquele hospital grego me fez sentir a vida mais intensamente. Na verdade tinham muitas coisas que eu não estava fazendo para tornar da minha vida algo mais saudável, mais feliz.
Eu rezei baixinho "Deus, que não seja nada grave, Deus que eu melhore, Deus eu ainda não quero que acabe, tem um monte de coisas que eu ainda preciso fazer, me dá mais tempo por favor"
Parece um tanto dramático, eu sei, mas eu realmente levei um susto daqueles.
Pensei em todas aquelas coisas que eu desejei fazer para o meu bem estar e deixei para depois, pensei nas pessoas que eu me descuidei, pensei  no meu templo tão mal cuidado (meu corpo); pensei no meu coração tão negligenciado...
Cuidar de si, antes de mais nada, é cultivar pessoas e coisas que nos fazem bem, é ter atitudes saudáveis na direção de si mesmo e daqueles que nos cercam. Amar-se é querer para si aquilo que faz bem, aquilo que não agride, que não desequilibra, que não machuca, que não enfraquece.
Eu percebi que andei fazendo escolhas menos saudáveis dentre as opções que eu tive.
A minha vida não estava toda errada, até muito pelo contrário, ia até bem, mas sempre temos pontos a melhorar, seja em nós mesmos, seja em decisões que relutamos em tomar.
Eu estava fazendo a viagem dos meus sonhos, estava feliz, não queria mais voltar para a minha vida cotidiana, queria emendar uma viagem na outra e seguir viajando até não aguentar mais, se é que se chega neste ponto de não aguentar mais... eu duvido.
Quando o médico voltou com os resultados dos exames e disse que a notícia era boa, que não era pneumonia, mas uma infecção e ele iria me liberar, toda a vida vibrou dentro de mim. Meu corpo teve uma reação incrível, sem tomar nenhuma medicação eu fiquei bem, claro, foi uma reação passageira, de euforia, mas do hospital eu fui para um restaurante lindo e tomei um vinho delicioso e comi maravilhosamente, feliz.
Eu tive que tomar remédios fortíssimos por toda a viagem, mas tive que ficar doente para lembrar de toda a vida que tinha dentro de mim, esta força vibrante, esta energia que nos movimenta e nos faz seguir em frente.

Tínhamos que quase morrer todos os dias para não esquecer desta força incrível que temos dentro de nós mesmos.

Tínhamos que quase morrer todos os dias para não ferirmos aqueles que amamos por coisas tão fúteis e fugazes, para olharmos para eles todos os dias como se fosse a ultima vez, para não deixarmos o orgulho ou a vaidade falar mais alto do que amor em nosso coração;
Tínhamos que quase morrer todos os dias para vivermos o presente em toda sua plenitude, para não deixarmos que fantasmas do passado contaminassem nosso coração;
Tínhamos que quase morrer todos os dias para que a garra e a vontade de viver brilhassem dentro de nós mais forte do que todos os nossos sofrimentos e traumas;
Tínhamos que quase morrer todos os dias para ver com os olhos do coração toda a beleza que existe em cada dia de vida que nos é concedido;
Tínhamos que quase morrer todos os dias para sabermos distinguir as opções momentâneas daquelas que são essenciais para a nossa felicidade;
Tínhamos que quase morrer todos os dias para darmos o verdadeiro valor àqueles que nos amam de todo o coração e sabermos distinguir destes aqueles que não.
Tínhamos que quase morrer todos os dias para escolhermos para hoje o melhor que pudéssemos alcançar e oferecer de nós mesmos para os outros aquilo de melhor que possuímos.
Ainda me pergunto todos os dias o que compartilhei de bom com aqueles que passaram por mim hoje e espero não ter que quase morrer para desfrutar desta chance incrível que é estar vivo agora.

Para passear mais na vida e menos na rede

Um amigo me enviou links de vários tours virtuais de cidades, pontos turísticos e museus pelo mundo. Achei o Google mais incrível ainda, uauuuu. Passeios sem sair da frente da tela do computador. Viajar na ideia sem tirar o traseiro da cadeira. Uaaaauuuu.
A tecnologia me surpreende todos os dias, de verdade, eu ainda me pego de boca aberta com as descobertas e projetos em andamento.
Eu não tenho tempo para desfrutar taaantaaaa novidade.
Hoje em dia meu trabalho absorve um grande tempo na frente de um computador, quando estou de folga eu quero me movimentar, viajar, sentir o cheiro, tocar, caminhar, quero sentir a presença e a energia dos lugares.
Pode ser que um dia a tecnologia entregue tudo isto, talvez até já entregue para alguns.
Eu passo, muito obrigada.
Se a tecnologia um dia realmente quiser me servir, seria por favor, para trabalharmos menos, ganharmos mais e assim termos mais tempo para viajar, caminhar, sentir para conhecer, tocar, ver o mundo com os nossos próprios olhos, sem filtro.
Até lá, me parece que hoje em dia a gente está trabalhando muito mais por causa dela.

Aliás tem algumas ótimas exposições acontecendo agora, bora caminhar no museu!


Instituto Tomie Ohtake recebe exposição “Obsessão Infinita” da mestre em arte japonesa Yayoi Kusama  de 22 de maio à 27 de julho, de terça a domingo, das 11h às 20h. A entrada é gratuita.