O que me seduz

Eu vejo cada vez mais pessoas solteiras reclamando que não encontram ninguém e vejo tanta gente solteira que parece um grande desencontro que elas não se esbarrem por ai, ou será que esbarram e não se interessam mutuamente.
Parece que existe um abismo entre a relação que o ser humano deseja e o que a realidade oferece. Será que estamos exigentes demais? Será que estamos disponíveis realmente? Será que estamos dispostos a nos abrir para conhecer o outro? Será que verdadeiramente damos esta chance?
Me coloco neste contexto porque estou solteira atualmente e percebo o quanto é difícil encontrar alguém que me interesse ultimamente e eu nem quero encontrar um Brad Pitt, afinal estou longe de ser uma Jolie.
Eu só quero alguém que me seduza e que esta sedução se sustente por mais de três encontros.
Revejo meus conceitos regularmente. Eu não quero ser uma pessoa fechada dentro de uma idéia, eu gosto de me desafiar constantemente, mesmo que seja dentro das minhas verdades. Eu costumo desafiar a força das minhas verdades, me certificar de que são sólidas realmente, é um exercício interessante. Então vamos lá.
O que me seduz?
Me seduz a inteligência absorvida da vida, aquela que nasce do aprendizado dos que erram sim, mas não sempre no mesmo ponto. Admiro aqueles que sabem que erram, mas evoluem um passo a mais sempre. Lastimo quando alguém erra sempre igual no mesmo ponto e não se dá conta.
Me seduz o bom humor, a risada franca, a sagacidade. Seguir em frente sem esmorecer, rir da vida sem desesperar, continuar a brincar mesmo depois de ter ralado o joelho.
Me seduz a verdade, acima de todas as coisas, a verdade, não aquela nua e crua (dura), mas a verdade simples.
Me seduz o interesse claro, não aquele no decote, mas o interesse que vai além do meu corpo, o interesse pela minha alma.
Me seduz o dom e a delicadeza de me fazer sentir especial, única, querida, desejada. Me seduz a persistência na minha presença. Não a presença para preencher platéia, mas aquela que faz de mim a única audiência necessária.
Me seduz o toque preciso, o toque que impressiona, alcança, aquele que está longe da vulgaridade do toque do macho procurando uma fêmea disponível. O toque vulgar me retrai, me desagrada.
Me seduz a conversa aberta, franca, sem que seja invasiva, curiosa ou indiscreta.
Me seduz a gentileza, o tato, o contato, o olhar. Eu não quero um olhar que me dispa, eu quero um olhar que me desvende.
Me seduz a firmeza sem brutalidade, a delicadeza sem frescura, a sensibilidade sem o drama.
Me seduz a sede de conhecimento sem preconceito. A individualidade sem egoísmo. A generosidade sem espera da troca.
Me seduz a liberdade sem promiscuidade, sem desconfiança, sem mau aproveitamento da confiança conquistada.
Me seduz o respeito alheio pela minha pessoa, minha vida, meus sonhos, por aquilo que me deixa feliz.
Me seduz a alegria, o olhar sob os milagres, a consciência de que somos abençoados todos os dias pelo dom da vida.
Então eu percebo que não estou querendo nada de mais. Só alguém para dividir comigo uma cabine nesta viagem linda que é a vida. Alguém que não torne a viagem pesada, ou que tire a graça que eu sinto no percurso. Alguém que consiga ver na minha alegria a sua alegria, e que seja o tipo de companhia que faz a viagem mais gostosa pela sua presença.