Sorriso salgado e este olhar parado

Eu, dotada de segurança inabalável sobre mim mesma e a minha confusão em torno de nós, descobri que na verdade existia um “quase” escondido, me espreitando. 
Eu, que havia conseguido um caminho tranqüilo, depois de cultivar flores que nunca nasceram, não esperava encontrar um jardim cheio de flores oferecidas a mim sem qualquer empenho de minha parte em merecê-las. 
A surpresa foi um lampejo de epifânia sonolenta e suave, mas que  me esmagou o sorriso que poderia ser o do dia... 
Em vez disso, um silêncio aterrorizador e profundo que deixou meu olhar parado e um nó que eu quero engolir mas ele insiste em ficar ali, parado, a me incomodar.
Estou a me perguntar o que ainda me prende, o que ficou quando eu achei que tudo já havia partido, o que se manteve depois de toda a exaustiva demolição de ruínas criadas de ventos.
O momento de "ser" que, fulgás, me abriu os olhos para aquele sentir insistente, finalmente me fez perceber o que restou...
Onde esteve este fio de Ariadne neste tempo todo que eu não pude notar? Onde se escondeu tão perfeitamente camuflado? Por que não se deixou levar pela brisa e a chuva quente que anunciaram uma nova primavera?
Por que insiste em me trazer este universo que não me quer visitante?
No jardim que eu não cultivei, encontrei belas flores, que mesmo repletas de um perfume especial, não me embriagaram com aquela embriaguez que encontro, quando sinto o cheiro da terra onde cultivo as flores que não brotam.
Eu já amei a terra, agora quero amar as flores! 
Não quero mais sorrisos salgados, quero a paixão produzindo a doçura, mesmo que apimentada.

2 comentários:

  1. Uau, que texto lindo ... um teseu !

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  2. Sentir o coração desnudo, tantos sentimentos à mostra, um monte de ilusões e apegos sendo dissolvidos, uma reviravolta imensa, e não contar mais com o que se desfez, nem ainda com o que está sendo tecido é mesmo assustador. Não há como retornar ao que já não existe nem como adiantar o relógio para se chegar rapidamente ao que ainda não é. Experimentar na própria alma a força terna e tecelã da vida, ao mesmo tempo em que nos sentimos tão frágeis, é um desafio que requer paciência, toda gentileza e muita fé. As novas flores já moram nos brotos, mas ainda não desabrocharam. A chuva de renovação está dentro das nuvens, mas elas ainda não verteram. A borboleta já voa na crisálida, mas ela ainda nem se deu conta direito da novidade de ter asas.

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