Sábado com Clarice e Fernando


Eu estava em um café na Vila Madalena, saboreando Clarice e Fernando enquanto esperava meu carro ficar pronto na oficina.
Que sabor tem estes dois, que delícia é lê-los, divertido e profundo, denso e reconfortante, ao menos para mim o é, pensamentos desconexos invadem minha mente a todo minuto, segundo, é rápido demais! E me sinto acolhida neste universo deles que também é assim.
Eu tinha acabado de ler uma frase de Clarice e me imergi em outro espaço, eu estava em outro café, que parecia aquele da Pinacoteca, olhando para aquelas árvores imensas e aquele jardim sem fim, ela disse " que as coisas são desconhecidas até que rebentam numa conhecida, a pessoa está só no mundo de modo que deve tomar certas providencias urgentes de silencio e meditação, já que não se sabe nem se pode agir, e que de vez em quando a gente pode receber este presente gratuito que é a palavra amiga de um amigo, e suponho que se há compensação e não vejo por que ela haveria de ser maior - esta já é grande e é mais do que se merece." Ah Clarice como são doces suas palavras!
E eu que estou na minha viagem, acordo por um segundo e a vejo entrar pela porta do café, linda, com aquele olhar, meu Deus não pode ser. Incrivelmente era uma mulher tão assustadoramente parecida com Clarice que me enfeitiçou e eu não consegui mais tirar os olhos, que situação. Não, eu não sou do tipo que paquera mulheres, aliás nem homens, eu definitivamente não sou do tipo que paquera alguém. Mas aquela mulher talvez tenha achado que sim, tão fixamente eu olhei para ela por alguns minutos, pelo menos até me dar conta de meu delírio.
Este livro me encantou de uma forma intensa e cala tão fundo dentro de mim que com palavras não consigo expressar minha felicidade em saboreá-lo. Presente inestimável de um amigo adorável, não o papel e a tinta, pois estes terei que devolver, o presente foi a apresentação, a sugestão de conhecê-los, como lhe sou grata meu fiel amigo e sempre o serei.
Terei que ficar com eles por algum tempo mais porque não consigo me afastar agora, irei reler cada palavra para gravá-las em minha alma, o papel e a tinta irei devolver, mas o que me tocou será meu para sempre, ler e reler até me sentir saciada, embriagada dessas tão profundas e intensas palavras.
O nome do livro é Cartas perto do coração (Fernando Sabino e Clarice Lispector), e apesar de, talvez, querer dizer perto do coração deles, acaba por penetrar no coração da gente.
E encerrando esta declaração de amor, citarei Fernando para não ser injusta com nenhum dos dois.
"A coisa é mais séria e afinal tudo redunda em puro egoísmo: a gente procura ajudar-se a si mesmo apenas, e usa todos os caminhos, incluisve os indiretos, de cinco ou seis destinos que a gente pode tocar com as mãos. Ninguém ajuda ninguém, e a verdade é que estamos sozinhos, cada um consigo mesmo. Não ajuda porque todo gesto, toda palavra, todo movimento desinteressado visando uma realidade fora da nossa é mais egoísta que o mais sórdido interesse. Porque nasce do orgulho e pressupõe um julgamento. Não nos entregamos a ninguém: absorvemos."

3 comentários:

  1. Olá, passei para uma visita e adorei seu blog, espero poder voltar mais vezes.

    Forte abraço

    Caurosa

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  2. Ler Fernando Sabino é um Encontro Marcado com A Vida Real, do Cotidiano, a leitura é uma Companheira de Viagem incrível e não me deixa assim, como dizer..Um Homem Nu...
    Gostei muito do seu texto. Beijo

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  3. Ainda me surpreendendo com você mulher, eu volto.

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