Lobo Antunes, foi um prazer!

Eu não conhecia, confesso sem a menor vergonha. Ir na FLIP me apresentou para autores que não conhecia tão intimamente.
O Lobo Antunes é de uma suavidade palpável.
A voz mansa, as palavras que utiliza, a forma que se expressa, ele é uma poesia delicada.
Os aplausos da platéia de pé foram mais do que merecidos. A forma doce com que agradeceu ao público mostra um ser humano genereso, humilde que me encantou.
A mesa dele foi recheada de bom humor, carisma, curiosidades sobre sua vida e relacionamento com escritores, editores, agentes. Falou com carinho e admiração de Jorge Amado e João Ubaldo. Ele contou de sua infãncia de forma alegre e engraçada. Falou muito de seu pai e avô

Transcrevo abaixo aguns trechos:
(O pai) — Ele lia poemas em voz alta, e o primeiro poeta que leu para nós foi Manuel Bandeira. Ele gostava de artes, e pouco antes de morrer disse que queria deixar para os filhos o amor das coisas belas. Era um escritor frustrado, tinha a sensibilidade, mas não os meios de se expressar.

— Escrever é um trabalho impossível, porque você está trabalhando com coisas intraduzíveis, anteriores às palavras, e todo o problema é como transformá-las em palavras — disse. — Nas duas primeiras horas, sua polícia política ainda está funcionando. Cansado, as coisas começam a sair de regiões que nem você conhece.

— Nos momentos mais felizes, parece que um anjo está escrevendo para você. Uma vez estava escrevendo e as lágrimas caiam. E eu não sou um homem de muitas lágrimas. Mas são momentos raros. Há alturas que você pensa: “eu não vou ser capaz, para que escrever?”. Só vale a pena escrever quando nos é inconcebível, porque ler dá muito mais prazer. O leitor tinha que vir na capa do livro, não o escritor. Um livro bom é aquele que só foi escrito para mim. Os outros exemplares dizem coisas diferentes.

Sobre a família
Eu tinha 12 anos. Meu avô me chamou e disse: “Ouvi dizer que você escreve versos. Você é viado?”

Meu pai não queria ter filhos, queria ter campeões de caratê. Tínhamos que ser os melhores em tudo.

Minha avó achava o alemão um bom idioma para falar com os cavalos.

Sobre literatura brasileira
Para mim, o grande poeta do século XX é Cabral (João Cabral de Mello Neto). Também gosto de Drummond

Com a prosa (brasileira) tenho uma relação mais difícil. Começo a ler, tenho vontade de corrigir.

Jorge Amado gostava de me abraçar, me beijar. Ele dizia: “Gosto de lamber minhas crias”.

Sobre o ofício de escrever
Perguntaram a Picasso sobre a sua inspiração. E ele: “Ah se ela viesse quando estou trabalhando”.

Paulo Mendes Campos falava da importância de Didi para Garrincha. Para escrever você precisa ter Garrincha (mão) e Didi (cabeça) dentro de você

Escrevo um livro para corrigir o anterior.

Gosto dos livros de Garcia Marquez, mas não teria prazer de tê-los escrito.

Advérbios são palavras que existem para não serem usadas. Adjetivos, aquelas putas, dizia Cortazar.

Um bom livro se faz sozinho. Se a mão esta feliz, o livro sai bom.

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