Edna O'Brien, Sophie Calle, Gay Talese, Catherine Millet, encerrando

Este não é um blog de literatura, nem eu tenho a pretensão de fazer uma cobertura completa da Festa Literária de Paraty. Acho que existem outras pessoas e blogs com maior competência para isso.
Minha intenção aqui é apenas deixar as minhas impressões sobre a festa que estive pela primeira vez para que eu mesma não esqueça mais. Afinal a minha memória esta cada vez mais traiçoeira.
Tivemos a oportunidade de conhecer o universo de muitos autores. Eu queria mesmo fazer um post para cada um deles, mas não estou tendo tempo e as informações estão sumindo da minha memória dia após dia. Então resolvi fazer um apanhado de todos que mais gostei ou ouvi falar de uma forma interessante.
Minha impressãogeral, foi que muitas mesas tratavam de um assunto bastante popular "relacionamento".
Formas novas, tão novas de se relacionar que quase chocam, ou chocam realmente. Pessoas com um pouco a mais de coragem para sair do convencional e ousar. Alguns sucessos, alguns fracassos e no fim, me pareceu, muita inspiraçao para escrever. Relacionamento ainda é um dos combustíveis mais eficazes para a arte.

Edna O'Brien tratou com franqueza da sexualidade em seu livro. Country Girls, foi escrito de forma passional, entre sentimentos de perda, de amor, sem desconsiderar a necessidade de alguma luta diante do confronto entre a literatura e a aceitação dela.
Ela falou de sexo em seu livro, de saudade de sua terra natal, a Irlanda, falou de sua mãe também, ou seja, assuntos de conflito do ser humano.

Gay Talese em meio a sua palestra propriamente dita, se emocionou ao falar da filha e admitiu que humilhou a esposa publicamente com seu livro, mas que apesar disso ela continuou com ele.
"Se acabei com casamentos? O meu mesmo não acabou, e eu era a vítima mais imediata. Este ano eu e Nan completamos nosso 42º aniversário. Os casamentos não duram por várias razões, mas uma das razões pelas quais tantas pessoas se divorciam é que eles acham que a ‘felicidade’ é a prioridade suprema, enquanto a felicidade de verdade (como romance, sexo, ou ganhar na loteria) é encarada como alegria de curta duração.
Assuntos muito mais sólidos mantém casais juntos, e a grande qualidade pode ser resumida em uma palavra: respeito. Nada é mais importante do que isso."

Mesa de Shophie Calle e Grégoire Bouillier (o casal com contas acertadas)
Sophie conta que quando recebeu o email de Grégoire não entendeu bem se aquilo era realmente uma ruptura. Sem saber como responder, ela pediu a 107 mulheres de profissões diferentes que interpretassem o texto para ela. Com isso fez uma exposição que viaja o mundo. De um limão fez uma limonada, segundo ela própria.
E porque não foi falar com ele? Porque não saberia o que dizer a ele. “E o projeto artístico passou a me interessar mais, mas se eu fosse falar com ele, teria preferido a história de amor. E abriria mão do projeto.”
Grégoire é chamado a dizer que se concorda com a versão de Sophie sobre o fim dessa história de amor. Talvez seja importante lembrar que o direito fundamental de alguém é amar e deixar de amar.
Na minha visão lavaram a roupa suja da forma mais elegante possível dentro da anormalidade dos dois.

Catherine Millet, ela foi um assombro positivo.
A escritora e crítica de arte francesa de Catherine Millet, autora do livro 'A vida sexual de Catherine M.', em que contava em detalhes sua vida de 'serial lover'. Na mesa 'As sem-razões do amor', com a participação de Maria Rita Kehl, fala sobre sexualidade e a crise de ciúmes do marido, com quem vive um relacionamento aberto, e que rendeu o livro 'A outra vida de Catherine M.'.
Confesso até que me identifiquei com ela em muitos momentos. Não, eu não sai por ai fazendo sexo com desconhecidos. E não, eu não invadiria o espaço do meu companheiro da forma como ela fez.
Eu me identifiquei com as profundezas do seu ser, vai além dos livros, além das experiências, é o que, na verdade, a levou a fazer tudo isso.
“Escrevo para me livrar de mim mesma.”
“Era um paradoxo: eu e Jacques tínhamos um casamento aberto e eu sabia que ele tinha muitas amantes. Mas a possibilidade de que ele sentisse algo por aquela mulher me transtornou.”
Ela disse que saiu da crise de ciúme ao perceber que estava sentindo prazer com aquilo e quando se descobriu, ao contar casualmente sua situação a um taxista, pertencente à “comunidade das mulheres traídas pelo marido”. Segundo ela, o lugar-comum ajudou a lhe dar alívio. “Mas sempre precisamos de algo mais. Por isso, uso a literatura, para me distanciar do que vivi e me olhar de fora”. "A brutalidade com que o sofrimento me atingiu foi paralisante por alguns momentos"
"Eu procuro sensações precisas. Eu fecho os olhos tentando reencontrar as sensações para escrever"
"Encontrar a palavra certa para descrever essa sensação"
"A eterna busca da cura pela escrita, eu acredito que podemos melhorar, mas curar-se não."
"Eu perco a memória inicial, eu só lembro das coisas pelos elementos que descrevi"
"Depois que eu escrevi eu me livrei delas"
" A cautela, a permanência longe, a valorização extrema (ou a falta total de valor) sexual, é na verdade o cuidado com uma fragilidade imensamente irremediável e intransponivel.
"Esse trato com luvas de pelica sobre o amor"

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