Estar ao lado sem pesar com a presença.
Eu li sobre isso em um Blog que acompanho, quis conhecer o texto completo (reproduzi abaixo) porque me fez pensar e fiquei com vontade de expor por aqui até onde foram minhas reflexões sobre o tema.
É difícil saber a dose certa, se aquela preocupação, aquele cuidado, aquele carinho vai surtir o efeito de afeto e não vai pesar para o outro, muito difícil.
Às vezes eu sinto que o mundo vai acabar amanhã e ai eu quero ter perto todas as pessoas que eu amo. É uma via sacra literalmente.
Uma porque é impossível, numa cidade como São Paulo, você conseguir encontrar a todos, outra nem todo mundo está com esta disposição (achando que o mundo vai acabar amanhã).
Eu tenho amigos que eu falo todos os dias e quando eu não falo, nossa que coisa, eu coloco minha cabeça no travesseiro e é como se estivesse indo dormir sem escovar os dentes, faltou alguma coisa...
Tenho amigo que me liga todo dia, mesmo que seja rapidinho, só pra dizer um oi.
Tenho amigo que me dá um oi no MSN e pergunta se eu estou bem, realmente porque quer saber se está tudo bem por aqui (sem aquele papinho de quem está desocupado procurando alguém para teclar). Até porque meus amigos sabem que eu não fico de papinho no MSN, não gosto, não tenho paciência.
Tenho amigo que não me liga, mas que por alguma razão eu sinto que preciso falar com ele e dizer um Oi, estou por aqui, como você vai?
Tenho amigos que não falo muito, não vejo muito, mas adoro estar perto e quando acontece é como se estivéssemos sempre juntos.
E tudo isso é muito bom e eu tenho medo de perder.
Eu tenho amigo que me ensinou que nem todo dia é dia de florzinhas e que às vezes eu peso sim, mesmo sem a minha presença. (Ok, vou fazer diferente, tentar ao menos)
Às vezes eu sou urgente e sinto que o mundo vai acabar amanhã, isso me faz pensar que é uma pena porque eu queria passar mais tempo com eles. E ir visitar aqueles que eu sempre penso e não consigo ir. E visitar menos aqueles que eu vejo sempre e ficam sem a oportunidade de sentir saudade. Não pesar.
Esta vida maluca que me faz passar mais tempo no transito, menos tempo fazendo as coisas que me dão prazer, também trouxe para minha história pessoas muito especiais. Nem sempre eu consigo ver a todos, mas a agradeço por estarem aqui.
Não dá para agradar a todos. Uns acham que você sempre pode fazer mais, outros acham que você já faz demais.
Eu, neste momento, estou dando uma pausa em tudo.
Então, vai o recado:
Se eu não aparecer, apareça você.
Se eu pesar com a minha presença, me diga, isso não vai me magoar.
Se não for dia de florzinhas eu também vou entender.
Porque só os amigos verdadeiros tem a licença e a ousadia para dizer certas coisas.
Quindim da portaria (Martha Medeiros)
Estava lendo o novo livro do Paulo Hecker Filho, Fidelidades, onde, numa de suas prosas poéticas, ele conta que, antigamente, deixava bilhetes, livros e quindins na portaria do prédio do Mario Quintana: “Para estar ao lado sem pesar com a presença”.
Há outras histórias e poemas interessantes no livro, mas me detive nesta frase porque o não pesar os outros com nossa presença é um raro estalo de sensibilidade.
Para a maioria das pessoas, isso que chamo de um raro estalo de sensibilidade tem outro nome: frescura.
Afinal, todo mundo gosta de carinho, todo mundo quer ser visitado, ninguém pesa com sua presença num mundo já tão individualista e solitário.
Ah, pesa.
Até mesmo uma relação íntima exige certos cuidados.
Eu bato na porta antes de entrar no quarto das minhas filhas e na de meu próprio quarto, se sei que está ocupado.
Eu pergunto para minha mãe se ela está livre antes de prosseguir com uma conversa por telefone. não faço visitas inesperadas a ninguém, a não ser em caso de urgência, mas até minhas urgências tive a sorte de que fossem delicadas.
Pessoas não ficam sentadas em seus sofás aguardando a chegada do Messias, o que dirá a do vizinho.
Pessoas estão jantando. estão preocupadas.
Pessoas estão com o seu blusão preferido, aquele meio sujo e rasgado, que elas só usam quando ninguém está vendo.
Pessoas estão chorando.
Pessoas estão assistindo a seu programa de tevê favorito.
Pessoas estão se amando.
Avise que está a caminho.
Frescura, jura?
Então tá, frescura, que seja.
Adoro e-mails justamente porque são sempre bem-vindos, e posso retribuí-los sabendo que nada interromperei do lado de lá.
Sem falar que encurtam o caminho para a intimidade.
Dizemos pelo computador coisas que face a face seriam mais trabalhosas.
Por não ser ao vivo, perde o caráter afetivo?
Nem se discute que o encontro é sagrado.
Mas é possível estar ao lado de quem a gente gosta por outros meios.
Quando leio um livro indicado por uma amiga, fico mais próxima dela.
Quando mando flores, vou junto com o cartão.
Já visitei um pequeno lugarejo só para sentir o impacto que uma pessoa querida havia sentido, anos antes.
Também é estar junto.
Sendo assim, bilhetes, e-mails, livros e quindins na portaria não é distância: é só um outro tipo de abraço.
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