Pensamentos Des-con-nexos

A gente mal sabe viver em duas ou três pessoas numa mesma casa como pode achar que pode viver em comunidade? Não, estamos longe de ter uma mente comunitária.
Dividir espaço é um grande desafio, é prática de compaixão e aceitação a cada entrada no banheiro, é prática de generosidade a cada refeição, é prática de se alegrar com a alegria do outro a cada pia pós refeições Hoje eu estou tal qual a Flaira Ferro querendo me curar de mim.
O trabalho neste sistema capitalista é nadar em mar aberto, você nunca chega na borda e vez ou outra ainda é rondando por tubarões que você não tem certeza se já estão satisfeitos ou a procura de carne nova, neste caso melhor não sangrar para não correr o risco.
O tempo está me deixando parecida com a minha avó, mas não é do jeito que eu queria, brincalhona e sarcástica, estou virando a reclamona julgadora e isso é uma constatação bem triste.
Ela dava conta de tudo sozinha, mas reclamava de estar fazendo uma coisa atrás da outra enquanto outros membros da mesma casa estavam curtindo seu tempo de folga, que ela nunca tinha. Ela não parava um minuto, não me lembro de tê-la visto sem estar "reinando" como ela dizia.
Dava conta de tudo, mas não precisava, realmente tinham muitas pessoas naquela casa, mas ela fazia tudo e para quem estava lá, isso era maravilhoso. Só para ela que era um cansaço sem fim.
E é disso que que surgiu meu pensamento de hoje. 
Em volta de um exausto é quase certo que haja pessoas mais relaxadas... mas se eu consigo relaxar e ser feliz vendo alguém exausto sem lhe estender a mão, então o que eu sou? Qualquer tarefa dividida em dois é mais fácil de lidar, até um reino para reinar. Então dividir em dois ou três ou quatro para que possam terminar tudo mais rápido e assim TODOS possam relaxar, não seria uma solução?
Parece fácil mas na vida real não é. Falta evolução humana de consciência.

"Sou a maldade em crise
Tendo que reconhecer
As fraquezas de um lado
Que nem todo mundo vê
Fiz em mim uma faxina
E encontrei no meu umbigo
O meu próprio inimigo
Que adoece na rotina
Eu quero me curar de mim
Quero me curar de mim
Quero me curar de mim
O ser humano é esquisito
Armadilha de si mesmo
Fala de amor bonito
E aponta o erro alheio
Vim ao mundo em um só corpo
Esse de um metro e sessenta
Devo a ele estar atenta
Não posso mudar o outro
Eu quero me curar de mim
Quero me curar de mim
Quero me curar de mim
Vou pequena e pianinho
Fazer minhas orações
Eu me rendo da vaidade
Que destrói as relações
Pra me encher do que importa
Preciso me esvaziar
Minhas feras encarar
Me reconhecer hipócrita
Sou má, sou mentirosa
Vaidosa e invejosa
Sou mesquinha, grão de areia
Boba e preconceituosa
Sou carente, amostrada
Dou sorriso e sou corrupta
Malandra, fofoqueira
Moralista, interesseira
E dói, dói, dói me expor assim
Dói, dói, dói despir-se assim
Mas se eu não tiver coragem
Pra enfrentar os meus defeitos
De que forma, de que jeito
Eu vou me curar de mim
Se é que essa cura há de existir
Não sei, só sei que a busco em mim
Só sei que a busco
Me curar de mim
Me curar de mim
Me curar de mim
Me curar de mim"
Compositores: Flaira Fernanda Cardoso Ferro

Dificuldade de expressar suas emoções?

Alexitimia é uma desordem psicológica inadaptada caracterizada pela incapacidade de identificar e descrever verbalmente emoções e sentimentos em si mesmo, bem como em outros. A palavra significa literalmente “sem palavras para a emoção”, e vem do grego lexis “falta” e timia para “emoção”.

A gente tinha que ter essa matéria desde o jardim de infância, praticar a vulnerabilidade e expressar sentimentos e emoções, saber lidar com nossa incoerência, nossa instabilidade e nossas limitações. Tudo isso faria com que aceitássemos melhor a nós mesmos e aos outros.
Bendita terapia. Depois da terapia hoje tudo veio á tona, essa engasgado na garganta, essa tosse de quem tem algo entalado, esse grito com choro.
Estou tão cansada dessa sensação de impotência que hoje só sentei no sofá e chorei, chorei até gritar, até caírem todas as lágrimas, chorei compulsivamente até cansar. Não resolveu nada, mas deu um alívio.

Que tempos tristes vivemos como país, como grande comunidade brasileira, como sociedade. É de chorar mesmo.

E naquele momento não importou se eu estou bem, se eu tenho trabalho e alimento na geladeira e uma casa, um amor para compartilhar a vida. A única e dolorosa condição naquele momento era eu, a brasileira que acompanha a morte de 4.000 mil pessoas por dia, que tem 45 mil órfãos da pandemia...
Não está fácil...



DURGA, A PODEROSA GUERREIRA E PROTETORA HINDU

 DURGA, A PODEROSA GUERREIRA E PROTETORA HINDU

     texto de Mirella Faur


“Eu me ajoelho perante Ti Durga, eu abaixo a minha cabeça e oro com fervor.

Proteja-me Durga. Teus braços são um abrigo contra todas as maldades,

Acolha-me nos Teus braços e proteja-me Grande Durga!

Om Dum Durgayei Namaha! ”


Om Shree Matre Namaha (eu me ajoelho perante a Mãe)

Jai Ambe Gauri, Jaya Shyaamaa Gauri (eu louvo a Mãe Dourada, eu honro a Mãe Negra)

Jaya Jagatambe, Hey Maa Durga!  (Vitória para Ma Durga, a Mãe do Mundo)

Mahabharata (texto sagrado do hinduismo)


De acordo com a religião hindu, Durga é a “Mãe do Universo”, suprema e inacessível, no entanto, é uma das deusas mais amadas. Sua proteção é inexpugnável, como a de uma fortaleza e ela também elimina o sofrimento. Durga existe eternamente nos corações e mentes dos seus devotos, ela modela, nutre e dissolve nomes e formas, ilumina os sete vórtices de poder do corpo sutil humano. Quando forças demoníacas ameaçam o universo, ela é a sua defensora e a vitória alcançada restabelece o equilíbrio. Durga simboliza também a energia transformadora dentro de nós, que dissolve os aspectos da personalidade que estamos prontos para deixar ir. No Sul da Índia ela é cultuada como uma deusa guerreira, enquanto no Norte é reverenciada como a noiva de Shiva e guardiã da unidade familiar. O culto de Durga existe na Índia desde o século V a.C. e continua sendo um dos mais populares no hinduísmo, celebrado cada ano com um festival - Durga Puja - que lembra uma mescla do Natal cristão e o carnaval, em um país onde sua religião tem 4000 anos. 

Para compreender a complexidade do seu arquétipo, devemos partir do princípio de que a Deusa representa uma totalidade de muitas formas e nomes. Na teologia hindu, os poderes primais são: Criação, Preservação e Destruição. Nas tradições europeias, o poder agressivo pertence ao polo masculino, em contraste com o poder feminino receptivo e nutridor. Na religião hindu o princípio masculino permanece passivo, até ser ativado pelo feminino. Durga é “o supremo poder do Ser Supremo”, o mais conhecido mito é sua vitória, quando matou o demônio Mahisha metamorfoseado em búfalo, depois que os deuses tinham falhado. 

 A seguir, a história desta luta tirada de Markandeya Purana, 82.

“Uma longa luta existiu entre os deuses liderados por Indra e os anti-deuses cujo rei era Mahisha, “o poderoso”, que venceu a guerra e se instalou no céu, enquanto os deuses perambulavam pela terra, sem moradias. Decididos a reverter a situação, os deuses liderados por Shiva e Vishnu concentraram seus poderes e os manifestaram como jatos de fogo colorido em vermelho, branco e preto, saindo das suas bocas e que, unindo-se, se materializaram como uma belíssima forma feminina, pura e radiante. Ela era Durga, a Grande Deusa, que personifica a união de todos os poderes dos deuses e semideuses juntos. O poder de Shiva formou a cabeça, o de Jama, os cabelos, de Shiva, os braços; o poder da Lua, os seios e de Brahma, os pés. Do poder do Sol se formaram os dedos dos pés, de Vasus, as unhas, de Kubera, o nariz, de Prajapati, os dentes, de Agni, os olhos, de Vayu, as orelhas. Cada deus entregou as suas armas à deusa: Shiva entregou o seu tridente (trishula), Vishnu, seu disco (chakra) e Brahma, o japamala e o licor da imortalidade (amrita). Os semideuses presenteiam igualmente à Durga suas armas e atributos: Varuna dá-lhe a concha, Agni, sua lança, Indra, o raio, Yama, um bastão, Surya, seus raios dourados, com os quais a pele da deusa brilha como o próprio Sol. E a montanha Himavat presenteia-lhe um leão mágico como montaria. O exército inimigo, poderoso como o mar enraivecido, ataca a deusa, que simplesmente permanece sentada em seu círculo de fogo, pois as armas demoníacas não conseguem atingir a deusa. O leão balança a juba, e ela sopra sua concha, produzindo um som aterrorizante e anunciando uma vitória que seria prontamente sua. A cada exalação que ela faz, um novo exército se materializa, prestes para a batalha. As Matrikas, as energias de todos os deuses, vêm igualmente em seu auxílo. Finalmente, ela invoca os poderes que os deuses lhe tinham outorgado para materializar Kali, a devoradora do tempo, que é sua forma mais terrível. Durga começa a lutar, matando todos os guerreiros que ousam colocar-se ao alcance de suas armas mortíferas. Ao ver seu exército assim dizimado, Mahishasura solta um grito de ira e assume sua forma de búfalo. Começa a galopar em direção à deusa, matando todos os guerreiros que seu alento de fogo alcança. Quando Durga percebe o ataque do búfalo-demônio, concentra novamente suas forças e começa assim uma feroz e sanguinária luta entre eles. Mahisha ou Mahisasma, depois que assumiu diversas formas, se transformou em búfalo. Durga lançou seu laço e prendeu o búfalo, que instantaneamente se transformou num imenso leão. A deusa corta a cabeça do leão, mas este se transforma em um elefante, que por sua vez é prontamente decapitado por ela. Mahishasura assume novamente sua forma de búfalo e é preso à terra pelo pé de Durga, que finalmente corta sua cabeça, vencendo assim a batalha. Quando o demônio morre, seu exército inteiro se esvai no ar. Então, Deuses, Devas, Gandharvas, Apsaras e humanos vem apresentar seus respeitos e agradecimentos, fazendo um puja para ela. "Inclinamo-nos perante ti. És a boa fortuna dos virtuosos, a inteligência nos corações dos eruditos, a fé no coração dos bons, a modéstia no coração dos justos. Que possas sempre proteger o universo."

Um dos aspectos mais notáveis dos cultos hinduístas é a sua elaborada e diversa iconografia. Existem muitas representações de Durga, suas pinturas e estátuas estão em todos os templos e altares e cada um dos detalhes retrata algo sobre sua natureza e atributos. Durga é extremamente bela, geralmente coroada com ouro, vestida com sáris vermelhos (cor do poder), ricamente bordados, cavalgando um leão ou um tigre; estes detalhes revelam atributos de coragem, poder, vontade, determinação. Às vezes ela tem três olhos, o esquerdo indicando desejo ou a Lua, o direito, ação ou o Sol e o centro da testa, fogo e conhecimento. É cercada por oito ou mais yoginis, espíritos femininos portando espadas e consideradas feiticeiras, ou por Dakinis, forças femininas aterrorizantes. 

A imagem de Durga matando o demônio metamorfoseado em búfalo é o retrato do triunfo das forças do Bem sobre o Mal. Os símbolos que caracterizam Durga são as armas que ela segura nas mãos.

- A concha de Vishnu, o poder do som.

- O arco e flechas doados por Rama que representam energia.

- O raio, do Indra que pode destruir qualquer coisa.

- O botão de lótus é a espiritualidade doada por Brahma.

- O disco giratório (no seu dedo), o chacra de Vishnu que destrói o mal.

- A espada representa o conhecimento de Shiva que corta através da confusão.

- O tridente, também de Shiva, combate a inação e a ação, causas dos males físicos, mentais e espirituais. O tridente simboliza as três qualidades humanas: Satwa (a pureza mental e a mente contemplativa), Rajas (atividade e energia dos desejos e ambições) e Tamas (letargia e estresse). Para ter paz e felicidade devemos ter o equilíbrio entre elas.

Outros objetos de poder incluem taça de vinho, mala (rosário hindu), escudo ou lança. Nas imagens, o leão parece feroz, o búfalo agonizante, enquanto a deusa é serena, sorrindo, aparentemente prestando pouca atenção à batalha, porém percebe-se a sua concentração perfeita do corpo, mente e espírito. Durga é armada e perigosa, uma eficiente protetora contra qualquer mal. A palavra sânscrita durga significa um lugar protegido e difícil de alcançar. Durga protege a humanidade ao destruir as forças malignas: as energias negativas e os vícios como arrogância, egoísmo, ciúme, ódio, maldade, preconceitos, cobiça.

Uma descrição diferente dos símbolos os associa com suas oito mãos, que protegem os fiéis em todas as direções. O chacra com o disco giratório na sua mão direita superior representa o dharma, o cumprimento dos deveres e responsabilidades. A concha na sua mão esquerda superior – que produz o mantra OM –simboliza a felicidade em realizar os deveres, sem ressentimentos. A espada - na segunda mão direita inferior - simboliza o conhecimento que ajuda na erradicação dos vícios e das qualidades negativas. O arco e a flecha - na sua segunda mão esquerda inferior - simbolizam energia e recomendam que ao enfrentar dificuldades na vida, devemos preservar nossos valores e caráter. O lótus - na terceira mão esquerda inferior - simboliza desapego e desprendimento e ensina a expansão da consciência, assim como a flor de lótus se eleva da lama e revela sua beleza imaculada. Esta é a única maneira de receber as bênçãos. O bastão - na terceira mão inferior - é o símbolo de Hanuman e representa devoção e entrega, aceitando os fatos da nossa vida como a vontade divina e mostrando devoção e aceitação. O tridente - na quarta mão direita inferior - significa a coragem para eliminar os aspectos negativos e enfrentar os desafios. A quarta mão direita inferior estendida simboliza o perdão e as bênçãos; devemos perdoar a nós e aos outros pelos erros e males causados. O leão é o símbolo das tendências animalescas descontroladas (raiva, arrogância, egoísmo, ciúme, maldade) e o fato dele ser montado por Durga, é um lembrete e incentivo às pessoas para conhecerem seus defeitos e não ser por eles controlados. O tigre representa o poder ilimitado possuído por Durga, usado para proteger e destruir o mal.

A deusa Durga é venerada sob nove formas e nomes, cada aspecto reverenciado durante um dia do festival Navratri no mês sagrado de Aswin (entre setembro e outubro).

1. Shailaputri, “a Filha das Montanhas” - uma das primeiras encarnações de Durga- monta um touro e segura um tridente e um lótus; equiparada com Parvati, a consorte de Vishnu. 

2. Brahmacharini é cultuada no segundo dia do Festival, como uma deusa que segura um rosário e uma vasilha de água e ensina austeridade e o caminho para o êxtase.

3. Chandraghanta cavalga o leão, segura um lótus e tem uma meia lua na testa. Simboliza paz e prosperidade e possui dez mãos.

4. Kushmanda é a “Criadora do Universo”, cujo brilho criou o ovo cósmico. Acredita-se que a sua luz impede o domínio da escuridão sobre a Terra. Cavalga um leão e tem dez mãos.

5. Skanda Mata, a mãe de Kartikeya, carrega o filho nos braços, está sentada sobre um lótus e tem três olhos.

6. Kathyayani é a filha do sábio Kathya.

7. Kaalratri é a forma mais feroz de Durga, tem a pele escura, a aparência descuidada, três olhos e uma guirlanda de relâmpagos. Apesar de aparentar fúria e agressão, ela assegura aos seus devotos que irá protegê-los do mal.

8. Maha Gauri demonstra paz e pureza, é vestida de branco, cavalga um touro e leva nas mãos o tridente (trishul) e um pequeno tambor (damaru). A sua mão direita é elevada em sinal de benção.

9. Siddidatri cavalga um leão e é a mais benévola forma de Durga, abençoando todos os devotos e lhe conferindo poderes mágicos.

As nove formas citadas são apenas as principais, pois Durga tem 108 nomes oficiais que são entoados nas orações e canções. As mais conhecidas são Devi, Deusa, Jaya, Mangalaya, Vijaya, Varada, Auspiciosa, Conquistadora, Doadora, Vitoriosa. Os outros títulos (sem citar os complicados nomes hindus) são: “A Deusa dos três mundos, Aquela que é lindamente vestida e usa guirlandas bonitas, A que se assemelha ao Sol nascente, Bonita como a Lua cheia, A portadora de muitas armas, A destruidora de Mahisha, Deusa suprema celestial, A que confere a vitória na guerra, A que garante a remoção do sofrimento, Doadora de bênçãos, Protetora dos viajantes e da terra, Protetora contra a ignorância, desespero e males causados por inimigos, Guardiã das colinas e do mar, Deusa benevolente que garante sucesso em todos os empreendimentos”.

Durga é considerada uma manifestação de Shakti ou uma combinação das qualidades de Lakshmi, Sarasvati, Kali, que se expressa pelas suas armas, emblemas e mudras (gestos rituais). Ela representa a pura energia divina (jyoti) que é a personificação do poder feminino e criativo. Como Grande Mãe, é a destruidora dos demônios que existem dentro ou fora de nós. Ao mesmo tempo feroz e paciente, como personificação da compaixão divina, Durga nos oferece conhecimento, força, energia, ação, sendo nossa Protetora e Defensora divina.  Em situações de perigo ou pânico devemos apelar a Ela, mas devendo manter o nosso equilíbrio, avaliando a real natureza dos nossos desafios e problemas e o apego aos antigos padrões de medos limitantes. Podemos nos ver ajoelhados aos pés de Durga, percebendo a força que emana das suas armas e que afastam os nossos inimigos. Mesmo como Protetora, Durga é uma “Mãe Terrível” também para nós, mostrando como devemos encarar os medos e limitações, descobrir nossas verdades e, com a sua ajuda, agir ou decidir.

Celebrações de Durga

O festival Navratri ou Durga Puja dura nove dias, do final de setembro até começo de outubro, cada dia sendo dedicado a uma forma específica da Deusa. Esta festa é a maior e mais popular entre os festivais hindus, sendo não apenas uma data religiosa, mas um feriado nacional em toda a Índia e nas comunidades hindus no mundo. A razão deste festival é celebrar a visita que Durga - encarnada como Uma - faz aos seus parentes no mundo humano. Pode ser visto como o Natal europeu ou o carnaval brasileiro, quando tudo para e todo mundo se empenha em preparar decorações e imagens de barro. As imagens mostram Durga sozinha ou cercada pelos seus quatro filhos: Kartik, Ganesh, Sarasvati e Lakshmi, representando o “Protetor, o Iniciador do puja, o Conhecimento e a Provedora” aspectos que em sua totalidade manifestam o poder amplo de Dureza. Principalmente no Sul da Índia, o festival é uma celebração extática, com uma ininterrupta série de cantos de louvação, poemas, orações, oferendas, danças, comidas e bebidas, cada dia tendo uma cerimônia diferente. No final, as imagens são entregues de forma ritualística no rio, para levar Durga de volta ao seu marido – Shiva ou Vishnu – na sua morada nas montanhas, de onde fluem os rios. São entoados cantos melancólicos chamados agamami, para as pessoas se despedirem da Deusa.

Em Bengali, o festival dura dez dias e as pessoas seguem alguns preceitos religiosos e jejuns nos primeiros dias para depois mergulharem na atmosfera de alegria e celebração. Comemoram-se as seguintes etapas:

Maha Shasti – a chegada de Durga e dos seus filhos para a Terra é anunciada com tambores e a remoção de véus das estátuas de Durga.

 Maha Saptami – no sétimo dia, no nascer do Sol, uma árvore é vestida com seda amarela e bordados vermelhos para personificar Durga, tornando-se o ponto central das procissões conduzidas por sacerdotes e músicos e com oferendas de nove tipos de plantas consagradas a Deusa.

Maha Ashtami – comemora a vitória de Durga vencendo o demônio Mahishasura em forma de búfalo. Em alguns lugares remotos ainda se sacrificam animais, prática cada vez menos usada. São recitados hinos em sânscrito e feitas oferendas de flores e as meninas são honradas com uma cerimônia Kumari puja.

Maha Navami – o nono dia, é o auge da celebração, que começa após uma cerimônia de purificação e continua com música e dança.

Dashami é o último dia, quando as pessoas se despedem com tristeza da Deusa, cujas estátuas são levadas para o rio.

Sendo a personificação do poder cósmico, Durga é difícil para definir, suas qualidades sendo excessivas e opostas. Quando furiosa, ela é associada com Kali e apesar delas terem representações e cultos diferentes, são aspectos da mesma energia feminina – Shakti. Os hindus acreditam que a Kali se originou da testa de Durga com o propósito de matar os demônios Shimbu e Nishumbu. No calor da batalha, Kali perdeu o controle e começou a destruir tudo que encontrava na sua frente, parando somente quando o deus Shiva ficou se prosternando na sua frente. Uma imagem popular de Kali a mostra pisando no peito de Shiva, com os olhos arregalados e a língua à mostra, como se fosse por espanto ou remorso.

No entanto, Durga é também Mataji, a “Mãe do Universo”, que ensina as mulheres encontrarem seu poder interior e a independência para conseguirem alcançar seus objetivos. Durga é um modelo para desafiar os estereótipos sociais, ela apoia as mulheres que decidem permanecer solteiras ou adotam comportamentos e relacionamentos diferentes dos padrões habituais, desafiando restrições, proibições ou perseguições. Ela é a companheira e aliada das mulheres que desafiam as convenções e regras impostas pelas estruturas sociais ou culturais patriarcais e masculinas. A rebeldia personificada pela Durga deve ser fundamentada na definição clara dos valores e objetivos honestos, justos e íntegros. Semelhante ao arcano da Força do tarô, a postura de Durga cavalgando – ou abrindo a boca - de um leão ou tigre, é uma perfeita ilustração da liberdade e domínio necessários para enfrentar limitações, destruir amarras e criar uma forma de expressão pessoal. Como uma comparação, pode-se dizer que Durga tem as habilidades guerreiras de Kali, mas sem a sua ferocidade e descontrole. Durga reúne em si a beleza, a força física, a ação ou a espera, a habilidade de destruir ou curar, protegendo assim a individualidade integral das mulheres.

Durga pode ser invocada como proteção nos embates, desde que a motivação seja justa, pois a retidão pessoal é essencial para obter a sua ajuda. Durga promove apenas causas corretas e que beneficiem o Universo. Por isso é necessário meditar bastante antes de invocá-la, para avaliar se a causa é justa e não prejudicará outras pessoas. 

Ritual para Durga

Diferente de outros arquétipos divinos, Durga –assim como Kali - é uma “deusa viva”, seu culto fazendo parte de uma das maiores religiões atuais e as suas celebrações mobilizando um imenso séquito de devotos. Ela foi reverenciada desde os mais remotos tempos e é mencionada nas escrituras sagradas hindus como os Puranas e Vedas. Pelas diferenças geográficas, culturais e sociais, existem variações na maneira em que a deusa é honrada. Por isso, mesmo que não temos muita proximidade com a cultura hindu, se nos prepararmos com respeito e cuidado, estudando suas características e atributos, poderemos atrair suas bênçãos e pedir que ela faça parte da nossa vida. 

Sem precisarmos de um templo ou sacerdote, para realizarmos um culto individual (pujana) na nossa casa, devemos preparar um espaço adequado, em cujo centro iremos colocar um altar coberto com uma toalha de seda amarela, uma imagem ou estatueta da Durga, incenso de sândalo, guirlandas de flores (amarelas ou vermelhas), uma lamparina ou vela vermelha. Como oferenda, arroz cozido com açafrão ou curry, algumas laranjas ou mangas e chá indiano, temperado com garam masala (mistura de especiarias). 

As etapas a seguir são as seguintes:

1- Purificação – pessoal (banho com sal e essência de sândalo) e do ambiente (incenso de sândalo). Para honrar a origem de Durga, devemos vestir uma túnica indiana (amarela ou vermelha) ou um sári. Para completar a purificação, salpicaremos no altar e no ambiente, água aromatizada com essência (de rosas, melissa, laranjeira).

2 - Harmonização – entoar mantras olhando a imagem da Deusa (o mais simples é OM ou os mais específicos do CD: Hey Ma Durga, de Krishna Das). 

“Hey Ma Durga, Hey Ma Durga

Jai Jagadambe Hey Ma Durga,

Ma Kali Durge Namo Namah

Jai Jagadambe Ma Durga, Jai Jagadambe Ma Durga

Hey Ma Durga, Hey Ma Durga”.

3 - Honrar as quatro direções (começando no Leste) juntando as palmas das mãos e dobrando os joelhos em saudação para cada direção.

4 - Louvar Durga – ler ou rememorar o seu mito quando derrotou o demônio-búfalo. Entoar seu mantra de reverência Jai Mata Durga Jai Jai (“reverencio a Mãe Durga”) ou entoar seus títulos. Acender vários bastões de incenso e balançá-los na frente da imagem.

5- Contemplar a imagem de Durga observando cada detalhe do seu corpo, ornamentos, armas. Depois de algum tempo, fechar os olhos e vê-la na sua tela mental enquanto entoa seu mantra. Aos poucos irá perceber a sua presença, envolvendo-a no seu brilho, removendo medos e bloqueios. Afirmar com convicção que está protegida e segura no seu maternal abraço (pode criar uma afirmação mental ou por escrito, que irá pronunciar quando sentir algum medo ou perigo ao seu redor).

6- Uma ampliação desta visualização pode ser feita ao se concentrar em algum objetivo específico, algum obstáculo ou energia negativa (interna ou externa). Sentindo a presença de Durga ao seu lado, imaginar o crescimento do seu poder interior, o fortalecimento da sua vontade e coragem tomando conta do seu ser. Projetar mentalmente estas qualidades ampliadas como se fossem flechas alcançando seu alvo, eliminando os obstáculos e aniquilando as negatividades. Manter a visão da sua vitória e conquistas na sua mente e perceber como a sua aura ficou impregnada com o vermelho da ação corajosa e o dourado do sucesso alcançado”.

7 - Agradecimento – inclinar-se perante a imagem, elevar a vasilha com o arroz, o chá, as flores e as frutas colocadas sobre uma bandeja, agradecendo a presença e proteção da Deusa na sua vida. Apagar a vela com os dedos molhados e guardar os objetos do altar. Levar depois a oferenda para um rio, lago, mar ou perto de uma árvore frondosa.

Culpa e responsabilidade

 Eu gosto de pensar sobre o significado das coisas, principalmente quando envolve sentimentos. 

Eu não sou do tipo que se sente culpada. Foram anos de terapias e práticas para ressignificar e entender a diferença entre culpa e responsabilidade. Além de décadas da minha vida onde permiti que me manipulassem a partir da culpa que me incutiram, quando na verdade eram  suas próprias neuroses, traumas e crenças distorcidas. Coisas que deveriam estar sendo tratadas em terapia e não sendo atiradas como lanças nefastas em relacionamentos e afetos, todos eles, incluindo amizades e familiares, além do amoroso. Essa minha INdisponibilidade para satisfazer a expectativa do outro sobre aquilo que ele gostaria que eu sentisse para atender sua necessidade, é um tipo de liberdade, que não sem dor, me faz reconhecer quem eu realmente sou e o que genuinamente brota no meu coração e não do meu ego. A dor vem de perceber que ao não permitir que meu coração seja colonizado, alguns confundem com frieza e desamor, mas eu costumo pagar o preço. Distorções do significado de amor, amizade e afeto que foram sendo metamorfoseadas em sofrimento comunitário e sacrifício. Amor é mais próximo de liberdade do que de expectativa e, não tem nada a ver com querer que o outro supra a necessidade que eu mesma deveria suprir, sobre meu bem estar, minha alegria, minha felicidade. 

Então assumir a responsabilidade é totalmente diferente de se sentir culpada. E todos nós deveríamos refletir sobre este desejo maléfico de que os outros sintam culpa para que se movam como a gente acha que seria mais “amoroso “ e também refletir, honestamente sobre o prazer que pode surgir ao ver o outro se sentindo culpado por algo que nos afetou. Amenizar danos é assumir a responsabilidade e arcar com as consequências de um ato. E, muitas vezes implica em atitudes efetivas e não em sentimento de culpa, pois sentir-se culpado não altera em nada o que foi feito ou dito ou não feito ou não dito. A corrupção do coração nasce no ego carente e desesperado por ser amado, por ser validado em suas distorções. 

Que todos nós possamos encontrar em nossos corações a verdade essencial de nosso ser. E, com aceitação e amorosidade possamos permitir que cada um seja o que pode ser, porque isso é ser adulto, isso é ser espiritualizado afetivamente. 

Não colonize o coração de alguém e não permita que façam isso com o seu. 

Se relacionar em liberdade é que é amar verdadeiramente.

Amor e Liberdade

O amor é generoso e liberta.

Não me ofereça seu sacrifício como prova de amor;

Não me dedique nada que seja produzido a partir do seu esforço como expressão do seu amor;

Não me trate com calculada e treinada delicadeza para me convencer do seu amor;

Não deixe de ser quem você é para validar o seu amor;

Não use o amor para justificar seu ego, sua carência, seus traumas; não é para isso o amor; 

O amor não exige que você se mutile ou se sacrifique para atender as expectativas do ego;

O amor não tem nada a ver com expectativas;

O amor naturalmente se manifesta e se expressa, não por esforços, mas apenas pelo estado legítimo e natural amoroso;

O amor não exige estratégias, pois não produz moedas de troca; 

O amor não estimula a opressão e nem a prisão de te encaixar em um modelo padrão que tira sua liberdade; o amor não te encaixota;

O amor não dá espaço para  a colonização; isso é seu ego viciado quem faz;

O amor não faz você imune, nem isento, nem perfeito, nem  aprovado, não é disso que se trata o amor;

O amor não quer que você idealize sua manifestação neste mundo; pelo contrário, ele quer que você aceite a sua imperfeição; ele te estimula a ser você mesmo, completa e alegremente;

Amor e liberdade são almas gêmeas, um não existe sem o outro.

No universo amoroso o elemento básico do amor é você poder ser quem você é, com  liberdade para se expressar plenamente, em luz e sombra; Relaxar em você mesmo, sem ter que atender às expectativas do outro, sem pressão, sem projeção;

O amor não se sujeita a ser utilizado como barganha, sentença ou desculpa, pois é grande demais pra isso; 

O amor não compactua suas fantasias dramáticas, faz o oposto, as destrói;

Se você ama verdadeiramente alguém, o seu SER se manifesta livremente sem medo e sem condições; afinal o AMOR sabe que só pode florescer se houver verdade em quem somos. O amor ama a verdade e por isso costuma revelar o que está obscuro e inconsciente;

O amor genuíno faz brotar seres genuínos;

O amor te faz íntegro se sua essência não se corrompe; E se dissolve se a verdade do seu coração for corrompida;

E tudo isso produz a liberdade e o relaxamento naturalmente, sem esforço, sem obrigação, sem condicionamento, sem exigência, só você sendo quem você pode ser e permitindo que o outro seja como pode e consegue ser. Isso é AMOR.

O amor não espreme , não frustra, não obriga;

O amor não te entristece, ele te ajuda a perceber suas vulnerabilidades para que você possa se fortalecer através do amor; 

A sabedoria do amor começa de você para você mesmo; o estado amoroso é primeiro para você mesmo; 

E se você não se sente assim diante do amor, há em você muitas camadas de dor que precisam do seu cuidado e atenção para que não distorçam o amor em servidão;

O amor só pode existir em liberdade e relaxamento;

O resto foi construído pelos romances, pelo seu ego e pela Disney.

Julgamento


jul.gar, transitivo

emitir juízo
sentenciar
decidir como juiz ou árbitro
decidir por sentença
supor, conjeturar
formar opinião ou juízo crítico sobre; avaliar
jul.gar, intransitivo

pronunciar sentença; sentenciar
ter-se por; considerar-se


Está no dicionário, importante contextualizar.

Eu pratico a tentativa de não julgar. Nem sempre consigo, mas cada vez que sim, nossa(!) que maravilha e leveza que é.

Imagine que vida mais leve seria se pudessemos olhar para tudo como se fosse a primeira vez, sem dar tanto espaço para essa mente cheia de julgamentos, preconceitos e crítérios?

Eu tenho vários amigos que compartilham comigo seus segredos inconfessáveis porque sabem que eu estou nessa prática há muito tempo. E isso acaba intensificando a minha prática. Um desafio e tanto, mas como é feito com pessoas do meu afeto, me trazem mais bons resultados.

O que seria não julgar, quando a mente já tão acostumada a fazer isso automaticamente, não pede licença para fazer imediatamente?
Talvez um voto, que pode começar por se observar para perceber o quanto é pesado o julgamento automatizado, o quanto cruel e pouco compassivo e empático é este automatismo julgador. E, mais ainda, como é incrivelmente cruel a reprodução disso, de você para você mesmo. O que acontece fora, está acontecendo dentro.

Não julgar também tem muito de compaixão e humildade, e julgar tem muito de arrogância e egocentrismo, com algo de se achar superior. (alerta de julgamento na postagem ;(

Julgar é fechado. Apreciar, contemplar, observar é aberto.

Quando julgamos fixamos aquilo, aquele ou aquela que estamos julgando em uma caixa, deixamos de dar o espaço para sua manisfestão, expressão genuína que possui o potencial latente de nos ensinar.

Aquilo que nos ensinaram sobre julgar bom e mau, preto e branco, escuro e claro - nos deixou tão limitados... Deixamos de ver a magnitude da vida porque estreitamos nossa visão.
E não significa que julgar é só aquilo que você fala de negativo (quem dera) julgar também é expressar o positivo.
 Isso me lembrou uma fala do Lama Samten

"Mas você é ótima, Tatá! Isso é um julgamento. Esse julgamento é venenoso, porque se eu digo que você é ótima, numa outra hora eu posso dizer que você não é ótima, porque eu começo a julgar, e isso introduz uma avaliação. A porta dos infernos começa com um elogio. Então, eu não quero oferecer essa porta dos infernos pra ti. Eu ofereci isso assim só para mostrar que essa é a porta dos infernos. “Mas você é uma boa menina”. (Risos) No inferno não está escrito inferno. Está escrito céu. Mas é um céu sob condições. E céu sob condições é mortal. Imagina, se tu quer enganar as pessoas, arrastar elas para um buraco, tu não vais escrever: LUGAR HORRÍVEL! Tu vais escrever: LUGAR MARAVILHOSO!"

Que tal aproveitar que 2020 está começando e fazer um voto de evitar o julgamento e observar quando escaparem de você?

Estaremos juntos nessa.

"Que possamos apreciar e nos relacionar com todos como apreciamos o por do sol. Ao contemplá-lo você não fica julgando se está melhor ou pior do que ontem, se deveria ter mais laranja ou mais vermelho ou menos rosa, se foi rápido ou demorado. Você apenas se permite por aqueles instantes repousar seu olhar e sua atenção naquela contemplação. da natureza"

Bons votos! Boas práticas!

Também

Para começar bem o ano

1 . Desafie o medo.
Fuja do que é confortável. Esqueça a segurança. Viva no lugar onde você tem medo de viver. Destrua sua reputação. Seja notório.

2 . Seja corajoso.
Não se contente com as histórias que vieram antes de você. Desvende seu próprio mito.

3. Seja grato.
Use a gratidão como uma capa e ela preencherá todos os buracos de sua vida.

4 . Aja.
Por que eu deveria ficar no fundo de um poço, se eu tenho uma corda forte em minhas mãos?

5. Tenha fé.
À medida que você começar caminhar, aparece o caminho.
6. Abrace contratempos.
Se você fica irritado com cada atrito, como você vai ser lapidado?
7. Olhe para dentro.
A sua tarefa não é buscar o amor, mas apenas procurar e encontrar todas as barreiras dentro de si mesmo, que você construiu para se proteger contra o amor.
8. Aprenda com o sofrimento.
A ferida é o lugar por onde a luz entra em você.
9. Não se preocupe com o que os outros pensam de você.
Eu quero cantar como os pássaros cantam , não me preocupar com quem ouve ou o que eles pensam .
10. Faça o que você ama.
Deixe-se ser atraído pela força pungente do que você realmente ama.

Inspirado na obra de Rumi, por Tiffani Gyatso


Eu queria

Eu queria ter escrito mais em 2019.
Eu queria ter me exercitado, feito mais yoga, ter dançado.
Eu queria ter lido mais também, só estudei, a literatura para salvar a vida, ficou sem espaço.
Eu queria ter viajado mais, queria ter ido visitar mais amigos...
Tantas coisas deixadas no pretérito imperfeito de 2019, no abismo do meu cansaço entre a vida que eu gostartia de estar vivendo e aquela que paga as contas.
2019 e a vida (ainda) ironizando o meu desejo de ter mais tempo com a perturbação do medo de ter menos recursos para desfrutar desse tempo.
A dicotomia dos últimos anos.
Todos os meus desejos não realizados neste ano advindos da falta de tempo ou do excesso de cansaço.  Passar 8 horas do meu dia no escritório está me fazendo deixar de gostar do meu trabalho.
Eu quero mais tempo para a vida, mas não quero passar pela preocupação de que isto possa causar um desiquilíbrio financeiro.
Além disso, fazer o que eu amo aos fins de semana, sem precisar que isso seja meu "trabalho" me proporciona uma liberdade maravilhosa. Não depender desse recurso para pagar as contas é tão relaxante...
E antes que fique parecendo uma reclamação, que fique claro, não é. Constatar e escrever sobre isso é parte do tratamento.

Nos percebemos. Isso faz de nós seres humanos.

pretérito imperfeito do indicativo se refere a um fato ocorrido no passado, mas que não foi completamente terminado.



A nossa vulnerabilidade de cada dia


"A vulnerabilidade neste contexto significa a disposição de se expor, de se expressar de uma forma autêntica e franca, de fazer coisas sem garantia, de correr riscos. Quando as pessoas se desarmam e se arriscam a tirar a armadura que as protegem, elas se abrem também às experiências da vida que podem trazer propósito e significado à sua existencia. A sensação de vulnerabilidade pode não ser confortável, mas também pode não ser dolorosa."
Este insight faz parte do relato do estudo da pesquisadora americana Brené Brown.

"Ao analisar centenas de entrevistas, ela identificou que no grupo de pessoas capazes de estabelecer conexões fortes e verdadeiras (que também tinham fortes sensações de pertencimento e de valor próprio), duas características estavam sempre presentes: a vulnerabilidade e a coragem, sendo as duas intimamente correlacionadas."

 "A coragem não em um sentido de bravura, mas a de contar sua história, mostrando quem se é de todo o coração; a coragem de ser autêntico de uma forma compassiva consigo mesmo e de mostrar suas imperfeições. Para se conectar, é preciso deixar a pessoa que você acha que deveria ser ir embora para dar lugar a quem você realmente é. Ou seja, se não conseguimos ser autênticos com compaixão, não conseguimos nos conectar verdadeiramente ao outro."

Assistam este vídeo, realmente é maravilho.




Então, inspirada por esta mensagem eu quero compartilhar algumas coisas que tem me acontecido. Antes quero contextualizar, eu tenho dois trabalhos, um de executiva, que me sustenta completamente financeiramente e também me absorve grande quantidade de tempo e energia, e outro que é meu propósito de vida, minha paixão, meu sentido, eu sou terapeuta complementar integrativa aos fins de semana. Eu ajudo as pessoas a desenvolverem ferramentas internas e externas para que possam lidar melhor com os desafios da vida, estresse, traumas, mal-estares, através de atendimento terapêutico e workshops. Facilito o desenvolvimento da consciência para que tenham mais saúde mental, espiritual e consequentemente física.

Recentemente eu descobri que tenho uma certa tendência genética para doenças autoimunes e após uma administração de vacinas no ano passado eu comecei a ter algumas manifestações. Meu sistema de saúde física nunca foi grande e robusto. Eu me lembro de criança, chegar no consultório do pediatra e ele me chamar de Olivia Palito e sempre estar tomando Biotônico Fontoura e vitaminas. Eu tive bronquite na infância e adulta me descobri com alergias de contato bem severas. Tive uma crise de stress aos 30 anos e fui buscar ajuda nas terapias complementares, encontrei o Reiki e partir disso outras técnicas foram sendo reveladas e eu me entreguei a este estudo, foi assim que fui construindo a o meu trabalho com as terapias complementares. 
Aos 43 anos ainda tenho algumas crises de bronquite, alergias controladas (só deixar de ter contato com tudo que é alérgico) psoríase e muito recentemente, 24 horas atrás precisamente, eu tive a confirmação de que estou com uma doença rara e sem cura, que acomete o osso do pulso, felizmente tem tratamento e eu felizmente tenho recursos para me tratar, além de ter encontrado um ótimo médico para me orientar.
Quando eu recebi a notícia, primeiro chorei, fiquei triste, pensei um montão de coisa, cabeça ficou a mil por segundo, mas ai percebi que duas portas se abriram, uma que me ecoava uma voz sussurrante e convidativa, dizendo "Por quê? Por que com você? - e na outra porta, um silêncio profundo, quase assustador. Chorei um pouco mais, pedi espaço das pessoas próximas, precisa estar comigo mesma... precisava dar um primeiro passo...
Entrei pela porta do silêncio, meditei, refleti, fiz minhas práticas espirituais e senti paz no meu coração. Por que não comigo? Na porta que deixei para trás, quanta auto importância e arrogância, quanta vitimização. 
Se eu encontro sentido em justamente ajudar as pessoas a terem compaixão e aceitação por suas condições incontroláveis, parece que a vida me põe a serviço deste propósito através da experiência em minha própria pele, as dores de um corpo que é frágil, como todo corpo humano é.
Então a mensagem que quero deixar é que trabalhar o autoconhecimento, a espiritualidade, a caridade, a empatia, assim como a vulnerabilidade, não vão fazer de ninguém uma pessoa imune aos desafios da vida, a fragilidade do corpo humano ou as peças que a nossa mente e o nosso ego nos prega. Não. Tudo isso vai continuar acontecendo como acontece para todo mundo, mas certamente vai ajudar você a entender melhor suas emoções e a estabelecer relações mais profundas de afeto onde a aceitação e a compreensão estarão presentes. Certamente vão te ajudar a não entrar pela porta do vitimismo, que leva facilmente para uma postura egoísta, autocentrada e com visão limitada sobre a realidade, consequente a solidão, a depressão acabam por se manifestar quando entramos por esta porta.
Também, ter acesso às ferramentas complementares, não significa abandonar a medicina tradicional, pelo contrário, ajuda a ter uma visão mais crítica e analítica sobre os profissionais da saúde, ajuda a se auto responsabilizar pelo seu tratamento, a mudar seu estilo de vida para colaborar com toda a cadeia de ajuda que você estiver recebendo, faz de você um agente da sua própria saúde, com uma postura ativa e atuante sobre seu bem estar. Todas as técnicas de terapias complementares são ferramentas, suporte, se prometerem um milagre, fuja, pois não há como ninguém saber quais são de fato as experiências que outra pessoa tem que passar ou viver para que a sua jornada seja íntegra e genuína. Isso cabe a cada um, saber de si mesmo.
Uma segunda mensagem que eu quero deixar é: Não acredite na vida perfeita das mídias sociais, elas não existem, é tudo falso. Principalmente das pessoas que trabalham com terapias, pois dessas pessoas, a vida é desafio atrás de desafio, é a vida lapidando a ferramenta e está tudo certo, isso é ser humano. Terapeuta também sofre, também fica doente, também chora. Na hora de escolher alguém para te ajudar, busque pessoas de verdade e não projetos de Super Humanos Perfeitos fabricados para te convencer de uma vida perfeita que não existe.
Respira fundo, lentamente, puxa o ar para a barriga, dá uma pausinha e solta devagar, se possível no dobro do tempo que puxou o ar, faz isso algumas vezes, vai te ajudar a pensar e se sentir melhor. A vida é cheia de desafios, mas também de beleza, não tenha medo ou vergonha de ser vulnerável, no fim dessa brincadeira vamos todos morrer, aproveite cada minuto.

Eu sei de coisas que eu não queria saber

Eu sei de coisas que eu não queria saber, eu vejo coisas que eu gostaria de não ver.
Toda habilidade nesta Terra das dualidades guarda em si as duas polaridades, pode ser uma benção ou uma desgraça, somos nós que a validamos como tal.
Embora, muitas vezes me proteja, a minha sensibilidade\habilidade de ler as realidades, algumas vezes, como hoje, eu só queria não saber. Queria acreditar que a ignorância é uma benção, mas sei que é só mais um aspecto da ilusão...


Desapego

"Desapego - Onde há desapego existe a habilidade para soltar. Há também amor e a capacidade de dar aos outros a oportunidade de serem eles mesmos. Minha própria atitude não exerce influencia. Assim os outros têm a chance de se expressar facilmente e naturalmente. Quando sou desapegado também sou amoroso. Com felicidade interior assisto tudo que a vida traz para a vida de cada um. Eu consigo ver as possibilidades internas que cada um tem para se tornar autoconfiante. O verdadeiro desapego dá uma chance aos outros de crescer." Brahma Kumaris


A integridade nossa de cada dia

Uma qualidade cada vez mais rara de encontrar. 
integridade
in·te·gri·da·de
sf
1 Estado ou característica de algo que está inteiro; inteireza: “Estamos aqui em missão oficial, com o objetivo de reprimir uma rebelião contra a integridade da República” (JU).
2 Estado ou característica daquilo que se revela intato: “As palhinhas centenárias não iam resistir ao peso de sua saúde – disse a anfitriã, temendo pela integridade do delicado trançado”(TM1).
3 FIG Qualidade ou caráter de uma pessoa de conduta irrepreensível; honestidade: O contador mostrava integridade em todo o seu trabalho.
4 Característica de quem é inocente ou puro; inocência: Maria é um verdadeiro anjo. Uma pessoa da maior integridade.
ETIMOLOGIAlat integrĭtas.

Relativismo sobre integridade não existe. Integridade é uma daquelas coisas que se é ou não se é.

Um coração íntegro não pode ser corrompido. 
É urgente que nos compreendamos, é urgente que saibamos quem somos em toda a nossa complexidade, porque há no coração de cada um de nós, algo tão honesto e íntegro que jamais, mesmo em meio a toda confusão e a todo caos, ainda se mantém inteiro, íntegro, honesto.
É urgente que tenhamos a coragem de olhar para nós mesmos com toda a honestidade e saibamos o que realmente nos habita.

Por todas as relações, que sejam conectadas a partir deste lugar, que não oferece garantias, mas que é permeado pela verdade.
Que assim seja!

OBS: Se você terminou de ler isso e ficou se perguntando o que é ser íntegro nas suas relações, a começar por aquela que você tem com você mesmo... é urgente encontrar um terapeuta e buscar a sua verdade. Se não aconteceu ainda é porque você precisa de ajuda.
Não dá para ser íntegro se você não se conhecer. E só você pode dar este passo. 
As facilidades e ferramentas estão por toda parte, mas você precisa querer, e além de querer, não desistir porque nem sempre é gostoso.

Boa sorte.


 

Uma viagem para contar, retiro nos Andes

A viagem que se faz para dentro de nós mesmos é uma viagem imprevisível e, invariavelmente, carrega dor e delícia. Ela pode se intensificar mil vezes se você estiver cercado pelo vazio, pelo nada, pelo silêncio.

Há muito tempo eu vinha namorando a ideia de fazer um retiro na Cordilheira dos Andes.
A minha amiga e orientadora espiritual já foi doze vezes e dessa vez me disse que já estava na hora de eu me proporcionar essa experiência. Ela é uma pessoa muito especial, que eu tenho a honra de conviver, de ouvir, e principalmente me relacionar. Ela não acredita em outra forma de expansão de consciência e desenvolvimento espiritual que não seja pela experiência direta. Eu concordo plenamente.
As palavras e o entendimento cognitivo podem ensinar, trazer conhecimento, referências, sem dúvida alguma, mas a sabedoria eu só acredito através da experiência direta, seja física ou metafísica.

Práticas na natureza selvagem são as melhores e mais fortes, para mim.
Experiências na natureza são incrivelmente intensas, isso eu posso atestar de corpo e alma, pois a natureza em mim tem um efeito um tanto difícil de explicar. Na natureza eu me restauro, me fortaleço, lembro quem eu sou, me aproprio dos meus talentos, de minha sabedoria interior e desconecto de todo o resto.

Eu tenho a sorte de ter um companheiro que embarca nas minhas missões e loucuras. Eu jamais poderia ir se ele não me apoiasse, afinal foram mais de sete mil kilometros, muita estrada, muito deserto, muita Argentina... muitos povoadinhos, estradas de terra, frio, altitude, banhos frios no frio... Porém, também tivemos muita conversa boa, risadas, música, paisagens maravilhosas, animais que nunca haviamos visto antes, mais risadas, papos sérios e caretas (várias) Puxa vida, foi a melhor viagem da minha vida. Se você quer saber se está com a pessoa certa, caia numa estrada sem fim com ela, vá para lugares onde não haja distrações, sem TV, sem celular, sem pessoas, é sua prova das provas, se o tédio não destruir sua ilusão, significa algo, algo muito bom aconteceu neste encontro.

O céu que vimos no deserto, certamente não veremos em outro lugar, aquele escuro da noite mostra mais estrelas no céu, bem mais estrelas, mais planetas, mais constelações e durante o dia o azul mais lindo que já vi.

Não havia casas, não havia pessoas, não havia antenas, eletricidade, celular, apenas a vida pulsando diante de nós, naquele escuro, naquele silêncio, naquele nada que é tudo.

Saimos de casa no dia 13 de abril e retornamos em 05 de maio com o coração pleno, com muita coisa para integrar, toda a experiência para assimilar...
Logo mais fará dois meses que voltamos e eu ainda estou integrando tudo aquilo que aconteceu lá.
Difícil contar, difícil colocar em palavras tudo que eu senti... eu estou tentando hoje, mas percebo o quanto é difícil...
Ainda me emociono muito ao lembrar.
Estivemos a 4.700 de altitude, isso altera a mente. É uma coisa que recomendo para qualquer pessoa, vá para a altura, se aventure, você terá outra percepção do seu corpo, outro entendimento sobre o funcionamento de sua mente e do quão vulneráveis são os impulsos que a movimentam.
Em alguns momentos eu não conseguia andar, outros não conseguia falar, andar e falar ao mesmo tempo então... nem pensar!

Hoje eu posso entender porque é  tão comum ouvir que os religiosos vão para o monte ou para a montanha para orar, meditar, rezar. Que falam com Deus lá no alto.

Realmente nas alturas é mais fácil se conectar com o Divino que há em toda a parte. Isso não significa que somente está lá, de jeito algum, o Divino está em toda a parte. É mais fácil porque estamos mais disponíveis, porque o silêncio e a beleza da natureza são facilitadores, e principalmente porque nós mesmos estamos presentes em nós mesmos, não estamos distraídos.
Você pode chamar de Deus, de Tupã, de Grande Espírito, de Buda, de Krishna, pode chamar do que você quiser, o nome não importa. O que importa, no meu ponto de vida é que você sinta a presença Divina durante todo o tempo entre o abrir e o fechar dos olhos em todos os dias.
E, além disso, confie nesta Inteligência Superior, ela está ai, está aqui e por toda parte, ela está sempre presente.




Das relações e essas coisas...

Das relações e essas coisas...

Na dúvida, se for ferir, melhor calar.
O que sai pela boca de alguém importante ao nosso coração é matéria de seriedade, de alegria ou de aflição. Que se tenha consciência.


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A mentira nossa de cada dia. Que verdade você conta?

Em tempo de fake news, dia da mentira parece até um pleonasmo.
Eu vejo as midias sociais como o maior muro da mentira que já se pode ver, ali, tão exposto, toda ilusão do mundo.
Rostos felizes (?) expondo sorrisos criados a base de antidepressivos e entorpecentes, em alguns casos, ambos.
Não somos perfeitos! Estamos todos muito longe daquela perfeição plástica e esteriotipada das nossas linhas do tempo...
E eu nem acho que deveríamos expor nossas intimidades contando para todo mundo as nossas misérias, não é isso. Penso que não "vender" uma falsa vida já seria o bastante.
A coisa mais intrigante para mim é a vida que todo mundo quer ter, sem contar o milagre que o mundo quer saber.
Qual é a motivação? Para que serve isso?
Eu acho lindo quando alguém resolve publicar como fez tal coisa, porque nisso sim eu consigo ver algo de útil.
Pessoas que fazem viagens incríveis e contam para a gente como conseguiram economizar aqui e ali em trajetos ou acomodações, que compartilham experiências do tipo, "por este caminho eu fui e não funcionou então sugiro que tente outro" ou ainda, "eu fui por ali e funcionou comigo, mas eu tinha um tio naquela cidade que me emprestou o carro"
Porque falar que atravessou o mundo com a grana do carro que vendeu se naverdade, quem ajudou a bancar a viagem foi a mãe, o pai, os irmãos?
Qual o sentido em disseminar uma realidade que nunca existiu?
Eu não entendo...
Não que não existam estas pessoas, claro que existem. Eu já conheci pessoalmente algumas. Pessoas que fazem viagens incríveis porque optam por comer 4 maçãs por dia durante a viagem, sem problema algum nisso, acho sensacional. O problema para mim é a pessoa comer maça por 29 dias e no jantar de despedida, no trigesimo dia fotografar a lagosta no por do sol, como se assim tivessem sido todas as suas refeições.
A mesma lógica eu vejo na filosofia de vida "natural e simples" do hippie-chic-yogui-vegano pseudo auto sustentável, mas sustentado por algum capitalista, "escravo do sistema". A pessoa é toda trabalhada no dialética comunitária de uma sociedade alternativa e abomina estar no sistema capitalista, mas recebe de bom grado a mesada do pai, mãe, irmã, ex companheiro que vive aquela vida "insana".
Ainda não vi um contra-sistema recusar financiamento que veio da mão de um "entregue ao sistema" com a dignidade de quem recusa dinheiro que não vem abençoado por um sistema financeiro alinhado com sua filosofia de vida.
Seria bem simples. Reflita: Eu aceitaria um dinheiro que veio do tráfico?
Deveria ser igual, se no discurso da pessoa, permanecer no sistema capitalista, como um empregado CLT que tem que ficar 8 horas dentro de um escritório, for tão terrível assim.
A mentira nossa de cada dia, vem embrulhada da hipocrisia nossa de cada dia.
"Eu não concordo com este sistema, mas aceito ser sustentado por alguém de dentro dele."

A mentira nossa de cada dia normalmente contamos para nós mesmos. E muitas, eu diria até a maioria delas, contamos para nos convencer, para validar uma ilusão, para alimentar uma fantasia.

Veja, me incluo nessa. Quem nunca?

É a falta de contato comigo mesmo que me afasta das minhas verdades. É o excesso de barulho que não me permite ouvir a voz que vem de dentro. É o excesso de atividades, de distrações que não me deixam espaço para ver o que vai dentro de mim, no meu coração. É tanta coisa para fazer que não dá tempo... temos a desculpa tão perfeita quanto esfarrapada.

Outro dia me surpreendi com a separação de um casal por quem eu nutro muito afeto. Pensei comigo: "mas semana passada estavam postando declarações de amor, como assim separação agora..."
É assim mesmo que acontece, parece que vão postando para tentar se convencer e na ânsia tentam convencer aos outros, para quem sabe, os outros os convencer de que está tudo bem... mas não param para se olhar nos olhos e investigar onde foi que se perderam, onde estavam quando tudo aquilo ruiu, se ainda dá para resgatar, se vale a pena dedicar algum tempo em reconstruir algo novo...

Então hoje, só para variar, 1o de abril. Que verdade você conta?


Meu refúgio

Todo mundo deveria ter um lugar onde pudesse ser acolhido, escutado e aceito. Um lugar onde se sentisse seguro para se investigar, se desconstruir, silenciar e se aceitar. Um pedaço de chão onde pudesse sentir a força do Divino, da Mãe Terra reverberando dentro de si. Um lugar de abraços honestos, olhares sinceros e corações abertos para onde pudesse ir. Todos nós merecemos passear por lugares de paz. No Tao Tien eu encontrei uma família, muito amor, práticas e desafios incontáveis, muita risada e sabedoria compartilhada. Tenho tanta gratidão por este lugar, por essa família, por estes guardiões e cuidadores, que uma vida não basta para agradecer

Uma reflexão sobre distorsões

A gente precisa urgentemente abrir a mente para desenvolver formas novas de se relacionar (com tudo) e perceber que copiar as “velhas” fórmulas e transvesti-las de outros nomes não as torna menos nefastas. Distorções de significados e atitudes distorcidas não se tornam nobres só porque o “novo” nome está pegando carona em causas nobres. 
Precisamos ficar atentas e atentos as nossas atitudes e aos nossos vieses enrustidos e/ou inconscientes e mais do que nunca, perceber quando algo nebuloso precisa ser validado com um nome bonito para que “pareça” justificável e não somente a repetição de um padrão que não traz benefício concreto as nossas relações, nem nunca trouxe, em tempo algum.

É tempo de repersarmos se uma mentira em troca de lealdade é justificável. É tempo de refletirmos se o tal corporativismo masculino já não fez estragos suficentes a ponto de não ser desejado pela mulheres.

Já ouvi algumas vezes que as mulheres tinham alguma inveja do corporativismo masculino. Frases do tipo: Os homens são unidos e as mulheres não; Os homens são leais e as mulheres se traem; Os homens se protegem e as mulheres competem entre si; São frases fáceis de encontrar em textos que tratam da competitividade feminina.
Existe algo bem nefasto no corporativismo masculino, que tem a ver com o quanto eles são cúmplices, o quanto se protegem ao acorbertarem suas mentiras, suas pequenas escapadelas. Parece que existe mesmo um acordo velado entre eles, uma espécie de código de honra, não sei...

Eu não invejo a lealdade dos ladrões, dos piratas ou dos mentirosos.  Simplesmente não quero fazer parte de mentiras, seja por uma boa causa, seja por corporativismo, seja por sororidade. Uma mentira é uma mentira mesmo que você a transvista de um nome nobre.

Tive que refletir sobre isto nesta semana. Uma mulher me pediu para mentir para o meu companheiro para poder me encontrar com ela sem que ele soubesse, foi um pedido claro, não deixou dúvidas, apesar de não deixar claro o motivo e nem qual seria o assunto exatamente. E na hora eu respondi que tudo bem. Por considerar a privacidade dela e pensar em sororidade eu confesso que não vi nenhum mal na hora, mas depois me vi refletindo em qual das duas atitudes de fato poderia corromper meu coração. Quando eu disse a ela que não diria para ele, eu realmente não tinha pensando no quanto isso seria uma falta de lealdade com ele, olhar no olho de alguém e mentir definitivamente não é uma coisa que agrada meu coração.
Foi quando estavamos frente a frente e ele me perguntou que eu me dei conta, "porque eu tenho que mentir para ele? Em nome de que?" Por que uma mentira é necessária e justificável?
Não há resposta que satisfaça meu coração. Qualquer coisa que comece com uma mentira não está certa. Talvez haja alguma justificativa na guerra, na resistência, na revolução, no mundo dos negócios, não sei dizer ao certo. O que eu sei dizer com toda a reflexão pela qual me submeti, é que se as mulheres repetirem os mesmos comportamentos dos homens este mundo não vai mudar, só vai mudar de mão, mas continuará o mesmo.
Feminismo para mim não tem nada a ver com mulheres se comportando como homens, feminismo para mim tem a ver com mulheres se comportando com quiserem, com liberdade. E tanto homens quanto mulheres não tem direito de utilizar a palavra lealdade para fazer da mentira algo aceitável ou bonito, porque não é. Bonito é a gente poder agir com transparência, com verdade e pensar em nossa atitudade baseada em honestidade, clareza e em não causar dano a qaulquer ser humano, independente do seu genero.
O meu desejo para o movimento feminista, do qual me considero parte, é que não se cometam os mesmos erros do patriarcado, que todos possam se beneficiar da liberdade, incluindo ai dizer a verdade, porque mentir para fazer algo pressupõe que ela não exista.

Parábola - Jogue a vaquinha do precipício!

Era uma vez, numa terra distante, um sábio chinês e seu discípulo. Certo dia, em suas andanças, avistaram ao longe um casebre. Ao se aproximar, notaram que, a despeito da extrema pobreza do lugar, a casinha era habitada. Naquela área desolada, sem plantações e sem árvores, viviam um homem, uma mulher, seus três filhos pequenos e uma vaquinha magra e cansada. Com fome e sede, o sábio e o discípulo pediram abrigo por algumas horas. Foram bem recebidos. A certa altura, enquanto se alimentava, o sábio perguntou:
Este é um lugar muito pobre, longe de tudo. Como vocês sobrevivem?
O senhor vê aquela vaca? Dela tiramos todo o nosso sustento”, disse o chefe da família. Ela nos dá leite, que bebemos e também transformamos em queijo e coalhada. Quando sobra, vamos à cidade e trocamos o leite e o queijo por outros alimentos. É assim que vivemos.
O sábio agradeceu a hospitalidade e partiu. Nem bem fez a primeira curva da estrada, disse ao discípulo:
Volte lá, pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali em frente e atire-a lá pra baixo.
O discípulo não acreditou.
Não posso fazer isso, mestre! Como pode ser tão ingrato? A vaquinha é tudo o que eles têm. Se eu jogá-la no precipício, eles não terão como sobreviver. Sem a vaca, eles morrem!
O sábio, como convém aos sábios chineses, apenas respirou fundo e repetiu a ordem:
Vá lá e empurre a vaca no precipício.
Indignado, porém, resignado, o discípulo voltou ao casebre e, sorrateiramente, conduziu o animal até a beira do abismo e o empurrou. A vaca, previsivelmente, estatelou-se lá embaixo.
Alguns anos se passaram e durante esse tempo o remorso nunca abandonou o discípulo. Num certo dia de primavera, moído pela culpa, abandonou o sábio e decidiu voltar àquele lugar. Queria ver o que tinha acontecido com a família, ajudá-la, pedir desculpas, reparar seu erro de alguma maneira. Ao fazer a curva da estrada, não acreditou no que seus olhos viram. No lugar do casebre desmazelado havia um sítio maravilhoso, com muitas árvores, piscina, carro importado na garagem, antena parabólica. Perto da churrasqueira, estavam três adolescentes robustos, comemorando com os pais a conquista do primeiro milhão de dólares. O coração do discípulo gelou. O que teria acontecido com a família? Decerto, vencidos pela fome, foram obrigados a vender o terreno e ir embora. Nesse momento, pensou o aprendiz, devem estar mendigando em alguma cidade. Aproximou-se, então, do caseiro e perguntou se ele sabia o paradeiro da família que havia morado lá havia alguns anos.
Claro que sei. Você está olhando para ela, disse o caseiro, apontando as pessoas ao redor da churrasqueira.
Incrédulo, o discípulo afastou o portão, deu alguns passos e, chegando perto da piscina, reconheceu o mesmo homem de antes, só que mais forte e altivo, a mulher mais feliz, as crianças, que haviam se tornado adolescentes saudáveis. Espantado, dirigiu-se ao homem e disse:
Mas o que aconteceu? Eu estive aqui com meu mestre uns anos atrás e este era um lugar miserável, não havia nada. O que o senhor fez para melhorar tanto de vida em tão pouco tempo?
O homem olhou para o discípulo, sorriu e respondeu:
“Nós tínhamos uma vaquinha, de onde tirávamos nosso sustento. Era tudo o que possuíamos. Mas, um dia, ela caiu no precipício e morreu. Para sobreviver, tivemos que fazer outras coisas, desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos. E foi assim, buscando novas soluções, que hoje estamos muito melhor que antes.
(Autor desconhecido)
Quantas vezes ficamos de vaquinha em vaquinha, dando desculpas esfarrapadas para não construir algo novo em nossa vida?
Preste atenção as suas justificativas, elas podem ser a vaquinha que você precisa jogar no precipício.