Eu estava viajando nas férias, estava na Grécia e tive uma crise fortíssima de bronquite, como nunca tive antes. Eu não conseguia respirar nem inspirar e tossia muito. Faltou-me tanto ar que eu achei que iria morrer.
Eu pensei imediatamente em minha mãe, havia saído do Brasil sem me despedir dela. Que descuido!
Pensar na morte é coisa que todo mundo evita, dá medo, melhor não pensar... Mas veja que paradoxo interessante. Pensar na morte tão pertinho de mim, ali naquele hospital grego me fez sentir a vida mais intensamente. Na verdade tinham muitas coisas que eu não estava fazendo para tornar da minha vida algo mais saudável, mais feliz.
Eu rezei baixinho "Deus, que não seja nada grave, Deus que eu melhore, Deus eu ainda não quero que acabe, tem um monte de coisas que eu ainda preciso fazer, me dá mais tempo por favor"
Parece um tanto dramático, eu sei, mas eu realmente levei um susto daqueles.
Pensei em todas aquelas coisas que eu desejei fazer para o meu bem estar e deixei para depois, pensei nas pessoas que eu me descuidei, pensei no meu templo tão mal cuidado (meu corpo); pensei no meu coração tão negligenciado...
Cuidar de si, antes de mais nada, é cultivar pessoas e coisas que nos fazem bem, é ter atitudes saudáveis na direção de si mesmo e daqueles que nos cercam. Amar-se é querer para si aquilo que faz bem, aquilo que não agride, que não desequilibra, que não machuca, que não enfraquece.
Eu percebi que andei fazendo escolhas menos saudáveis dentre as opções que eu tive.
A minha vida não estava toda errada, até muito pelo contrário, ia até bem, mas sempre temos pontos a melhorar, seja em nós mesmos, seja em decisões que relutamos em tomar.
Eu estava fazendo a viagem dos meus sonhos, estava feliz, não queria mais voltar para a minha vida cotidiana, queria emendar uma viagem na outra e seguir viajando até não aguentar mais, se é que se chega neste ponto de não aguentar mais... eu duvido.
Quando o médico voltou com os resultados dos exames e disse que a notícia era boa, que não era pneumonia, mas uma infecção e ele iria me liberar, toda a vida vibrou dentro de mim. Meu corpo teve uma reação incrível, sem tomar nenhuma medicação eu fiquei bem, claro, foi uma reação passageira, de euforia, mas do hospital eu fui para um restaurante lindo e tomei um vinho delicioso e comi maravilhosamente, feliz.
Eu tive que tomar remédios fortíssimos por toda a viagem, mas tive que ficar doente para lembrar de toda a vida que tinha dentro de mim, esta força vibrante, esta energia que nos movimenta e nos faz seguir em frente.
Tínhamos que quase morrer todos os dias para não esquecer desta força incrível que temos dentro de nós mesmos.
Tínhamos que quase morrer todos os dias para não ferirmos aqueles que amamos por coisas tão fúteis e fugazes, para olharmos para eles todos os dias como se fosse a ultima vez, para não deixarmos o orgulho ou a vaidade falar mais alto do que amor em nosso coração;
Tínhamos que quase morrer todos os dias para vivermos o presente em toda sua plenitude, para não deixarmos que fantasmas do passado contaminassem nosso coração;
Tínhamos que quase morrer todos os dias para que a garra e a vontade de viver brilhassem dentro de nós mais forte do que todos os nossos sofrimentos e traumas;
Tínhamos que quase morrer todos os dias para ver com os olhos do coração toda a beleza que existe em cada dia de vida que nos é concedido;
Tínhamos que quase morrer todos os dias para sabermos distinguir as opções momentâneas daquelas que são essenciais para a nossa felicidade;
Tínhamos que quase morrer todos os dias para darmos o verdadeiro valor àqueles que nos amam de todo o coração e sabermos distinguir destes aqueles que não.
Tínhamos que quase morrer todos os dias para escolhermos para hoje o melhor que pudéssemos alcançar e oferecer de nós mesmos para os outros aquilo de melhor que possuímos.
Ainda me pergunto todos os dias o que compartilhei de bom com aqueles que passaram por mim hoje e espero não ter que quase morrer para desfrutar desta chance incrível que é estar vivo agora.
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