Eu queria

Eu queria ter escrito mais em 2019.
Eu queria ter me exercitado, feito mais yoga, ter dançado.
Eu queria ter lido mais também, só estudei, a literatura para salvar a vida, ficou sem espaço.
Eu queria ter viajado mais, queria ter ido visitar mais amigos...
Tantas coisas deixadas no pretérito imperfeito de 2019, no abismo do meu cansaço entre a vida que eu gostartia de estar vivendo e aquela que paga as contas.
2019 e a vida (ainda) ironizando o meu desejo de ter mais tempo com a perturbação do medo de ter menos recursos para desfrutar desse tempo.
A dicotomia dos últimos anos.
Todos os meus desejos não realizados neste ano advindos da falta de tempo ou do excesso de cansaço.  Passar 8 horas do meu dia no escritório está me fazendo deixar de gostar do meu trabalho.
Eu quero mais tempo para a vida, mas não quero passar pela preocupação de que isto possa causar um desiquilíbrio financeiro.
Além disso, fazer o que eu amo aos fins de semana, sem precisar que isso seja meu "trabalho" me proporciona uma liberdade maravilhosa. Não depender desse recurso para pagar as contas é tão relaxante...
E antes que fique parecendo uma reclamação, que fique claro, não é. Constatar e escrever sobre isso é parte do tratamento.

Nos percebemos. Isso faz de nós seres humanos.

pretérito imperfeito do indicativo se refere a um fato ocorrido no passado, mas que não foi completamente terminado.



A nossa vulnerabilidade de cada dia


"A vulnerabilidade neste contexto significa a disposição de se expor, de se expressar de uma forma autêntica e franca, de fazer coisas sem garantia, de correr riscos. Quando as pessoas se desarmam e se arriscam a tirar a armadura que as protegem, elas se abrem também às experiências da vida que podem trazer propósito e significado à sua existencia. A sensação de vulnerabilidade pode não ser confortável, mas também pode não ser dolorosa."
Este insight faz parte do relato do estudo da pesquisadora americana Brené Brown.

"Ao analisar centenas de entrevistas, ela identificou que no grupo de pessoas capazes de estabelecer conexões fortes e verdadeiras (que também tinham fortes sensações de pertencimento e de valor próprio), duas características estavam sempre presentes: a vulnerabilidade e a coragem, sendo as duas intimamente correlacionadas."

 "A coragem não em um sentido de bravura, mas a de contar sua história, mostrando quem se é de todo o coração; a coragem de ser autêntico de uma forma compassiva consigo mesmo e de mostrar suas imperfeições. Para se conectar, é preciso deixar a pessoa que você acha que deveria ser ir embora para dar lugar a quem você realmente é. Ou seja, se não conseguimos ser autênticos com compaixão, não conseguimos nos conectar verdadeiramente ao outro."

Assistam este vídeo, realmente é maravilho.




Então, inspirada por esta mensagem eu quero compartilhar algumas coisas que tem me acontecido. Antes quero contextualizar, eu tenho dois trabalhos, um de executiva, que me sustenta completamente financeiramente e também me absorve grande quantidade de tempo e energia, e outro que é meu propósito de vida, minha paixão, meu sentido, eu sou terapeuta complementar integrativa aos fins de semana. Eu ajudo as pessoas a desenvolverem ferramentas internas e externas para que possam lidar melhor com os desafios da vida, estresse, traumas, mal-estares, através de atendimento terapêutico e workshops. Facilito o desenvolvimento da consciência para que tenham mais saúde mental, espiritual e consequentemente física.

Recentemente eu descobri que tenho uma certa tendência genética para doenças autoimunes e após uma administração de vacinas no ano passado eu comecei a ter algumas manifestações. Meu sistema de saúde física nunca foi grande e robusto. Eu me lembro de criança, chegar no consultório do pediatra e ele me chamar de Olivia Palito e sempre estar tomando Biotônico Fontoura e vitaminas. Eu tive bronquite na infância e adulta me descobri com alergias de contato bem severas. Tive uma crise de stress aos 30 anos e fui buscar ajuda nas terapias complementares, encontrei o Reiki e partir disso outras técnicas foram sendo reveladas e eu me entreguei a este estudo, foi assim que fui construindo a o meu trabalho com as terapias complementares. 
Aos 43 anos ainda tenho algumas crises de bronquite, alergias controladas (só deixar de ter contato com tudo que é alérgico) psoríase e muito recentemente, 24 horas atrás precisamente, eu tive a confirmação de que estou com uma doença rara e sem cura, que acomete o osso do pulso, felizmente tem tratamento e eu felizmente tenho recursos para me tratar, além de ter encontrado um ótimo médico para me orientar.
Quando eu recebi a notícia, primeiro chorei, fiquei triste, pensei um montão de coisa, cabeça ficou a mil por segundo, mas ai percebi que duas portas se abriram, uma que me ecoava uma voz sussurrante e convidativa, dizendo "Por quê? Por que com você? - e na outra porta, um silêncio profundo, quase assustador. Chorei um pouco mais, pedi espaço das pessoas próximas, precisa estar comigo mesma... precisava dar um primeiro passo...
Entrei pela porta do silêncio, meditei, refleti, fiz minhas práticas espirituais e senti paz no meu coração. Por que não comigo? Na porta que deixei para trás, quanta auto importância e arrogância, quanta vitimização. 
Se eu encontro sentido em justamente ajudar as pessoas a terem compaixão e aceitação por suas condições incontroláveis, parece que a vida me põe a serviço deste propósito através da experiência em minha própria pele, as dores de um corpo que é frágil, como todo corpo humano é.
Então a mensagem que quero deixar é que trabalhar o autoconhecimento, a espiritualidade, a caridade, a empatia, assim como a vulnerabilidade, não vão fazer de ninguém uma pessoa imune aos desafios da vida, a fragilidade do corpo humano ou as peças que a nossa mente e o nosso ego nos prega. Não. Tudo isso vai continuar acontecendo como acontece para todo mundo, mas certamente vai ajudar você a entender melhor suas emoções e a estabelecer relações mais profundas de afeto onde a aceitação e a compreensão estarão presentes. Certamente vão te ajudar a não entrar pela porta do vitimismo, que leva facilmente para uma postura egoísta, autocentrada e com visão limitada sobre a realidade, consequente a solidão, a depressão acabam por se manifestar quando entramos por esta porta.
Também, ter acesso às ferramentas complementares, não significa abandonar a medicina tradicional, pelo contrário, ajuda a ter uma visão mais crítica e analítica sobre os profissionais da saúde, ajuda a se auto responsabilizar pelo seu tratamento, a mudar seu estilo de vida para colaborar com toda a cadeia de ajuda que você estiver recebendo, faz de você um agente da sua própria saúde, com uma postura ativa e atuante sobre seu bem estar. Todas as técnicas de terapias complementares são ferramentas, suporte, se prometerem um milagre, fuja, pois não há como ninguém saber quais são de fato as experiências que outra pessoa tem que passar ou viver para que a sua jornada seja íntegra e genuína. Isso cabe a cada um, saber de si mesmo.
Uma segunda mensagem que eu quero deixar é: Não acredite na vida perfeita das mídias sociais, elas não existem, é tudo falso. Principalmente das pessoas que trabalham com terapias, pois dessas pessoas, a vida é desafio atrás de desafio, é a vida lapidando a ferramenta e está tudo certo, isso é ser humano. Terapeuta também sofre, também fica doente, também chora. Na hora de escolher alguém para te ajudar, busque pessoas de verdade e não projetos de Super Humanos Perfeitos fabricados para te convencer de uma vida perfeita que não existe.
Respira fundo, lentamente, puxa o ar para a barriga, dá uma pausinha e solta devagar, se possível no dobro do tempo que puxou o ar, faz isso algumas vezes, vai te ajudar a pensar e se sentir melhor. A vida é cheia de desafios, mas também de beleza, não tenha medo ou vergonha de ser vulnerável, no fim dessa brincadeira vamos todos morrer, aproveite cada minuto.

Eu sei de coisas que eu não queria saber

Eu sei de coisas que eu não queria saber, eu vejo coisas que eu gostaria de não ver.
Toda habilidade nesta Terra das dualidades guarda em si as duas polaridades, pode ser uma benção ou uma desgraça, somos nós que a validamos como tal.
Embora, muitas vezes me proteja, a minha sensibilidade\habilidade de ler as realidades, algumas vezes, como hoje, eu só queria não saber. Queria acreditar que a ignorância é uma benção, mas sei que é só mais um aspecto da ilusão...


Desapego

"Desapego - Onde há desapego existe a habilidade para soltar. Há também amor e a capacidade de dar aos outros a oportunidade de serem eles mesmos. Minha própria atitude não exerce influencia. Assim os outros têm a chance de se expressar facilmente e naturalmente. Quando sou desapegado também sou amoroso. Com felicidade interior assisto tudo que a vida traz para a vida de cada um. Eu consigo ver as possibilidades internas que cada um tem para se tornar autoconfiante. O verdadeiro desapego dá uma chance aos outros de crescer." Brahma Kumaris


A integridade nossa de cada dia

Uma qualidade cada vez mais rara de encontrar. 
integridade
in·te·gri·da·de
sf
1 Estado ou característica de algo que está inteiro; inteireza: “Estamos aqui em missão oficial, com o objetivo de reprimir uma rebelião contra a integridade da República” (JU).
2 Estado ou característica daquilo que se revela intato: “As palhinhas centenárias não iam resistir ao peso de sua saúde – disse a anfitriã, temendo pela integridade do delicado trançado”(TM1).
3 FIG Qualidade ou caráter de uma pessoa de conduta irrepreensível; honestidade: O contador mostrava integridade em todo o seu trabalho.
4 Característica de quem é inocente ou puro; inocência: Maria é um verdadeiro anjo. Uma pessoa da maior integridade.
ETIMOLOGIAlat integrĭtas.

Relativismo sobre integridade não existe. Integridade é uma daquelas coisas que se é ou não se é.

Um coração íntegro não pode ser corrompido. 
É urgente que nos compreendamos, é urgente que saibamos quem somos em toda a nossa complexidade, porque há no coração de cada um de nós, algo tão honesto e íntegro que jamais, mesmo em meio a toda confusão e a todo caos, ainda se mantém inteiro, íntegro, honesto.
É urgente que tenhamos a coragem de olhar para nós mesmos com toda a honestidade e saibamos o que realmente nos habita.

Por todas as relações, que sejam conectadas a partir deste lugar, que não oferece garantias, mas que é permeado pela verdade.
Que assim seja!

OBS: Se você terminou de ler isso e ficou se perguntando o que é ser íntegro nas suas relações, a começar por aquela que você tem com você mesmo... é urgente encontrar um terapeuta e buscar a sua verdade. Se não aconteceu ainda é porque você precisa de ajuda.
Não dá para ser íntegro se você não se conhecer. E só você pode dar este passo. 
As facilidades e ferramentas estão por toda parte, mas você precisa querer, e além de querer, não desistir porque nem sempre é gostoso.

Boa sorte.


 

Uma viagem para contar, retiro nos Andes

A viagem que se faz para dentro de nós mesmos é uma viagem imprevisível e, invariavelmente, carrega dor e delícia. Ela pode se intensificar mil vezes se você estiver cercado pelo vazio, pelo nada, pelo silêncio.

Há muito tempo eu vinha namorando a ideia de fazer um retiro na Cordilheira dos Andes.
A minha amiga e orientadora espiritual já foi doze vezes e dessa vez me disse que já estava na hora de eu me proporcionar essa experiência. Ela é uma pessoa muito especial, que eu tenho a honra de conviver, de ouvir, e principalmente me relacionar. Ela não acredita em outra forma de expansão de consciência e desenvolvimento espiritual que não seja pela experiência direta. Eu concordo plenamente.
As palavras e o entendimento cognitivo podem ensinar, trazer conhecimento, referências, sem dúvida alguma, mas a sabedoria eu só acredito através da experiência direta, seja física ou metafísica.

Práticas na natureza selvagem são as melhores e mais fortes, para mim.
Experiências na natureza são incrivelmente intensas, isso eu posso atestar de corpo e alma, pois a natureza em mim tem um efeito um tanto difícil de explicar. Na natureza eu me restauro, me fortaleço, lembro quem eu sou, me aproprio dos meus talentos, de minha sabedoria interior e desconecto de todo o resto.

Eu tenho a sorte de ter um companheiro que embarca nas minhas missões e loucuras. Eu jamais poderia ir se ele não me apoiasse, afinal foram mais de sete mil kilometros, muita estrada, muito deserto, muita Argentina... muitos povoadinhos, estradas de terra, frio, altitude, banhos frios no frio... Porém, também tivemos muita conversa boa, risadas, música, paisagens maravilhosas, animais que nunca haviamos visto antes, mais risadas, papos sérios e caretas (várias) Puxa vida, foi a melhor viagem da minha vida. Se você quer saber se está com a pessoa certa, caia numa estrada sem fim com ela, vá para lugares onde não haja distrações, sem TV, sem celular, sem pessoas, é sua prova das provas, se o tédio não destruir sua ilusão, significa algo, algo muito bom aconteceu neste encontro.

O céu que vimos no deserto, certamente não veremos em outro lugar, aquele escuro da noite mostra mais estrelas no céu, bem mais estrelas, mais planetas, mais constelações e durante o dia o azul mais lindo que já vi.

Não havia casas, não havia pessoas, não havia antenas, eletricidade, celular, apenas a vida pulsando diante de nós, naquele escuro, naquele silêncio, naquele nada que é tudo.

Saimos de casa no dia 13 de abril e retornamos em 05 de maio com o coração pleno, com muita coisa para integrar, toda a experiência para assimilar...
Logo mais fará dois meses que voltamos e eu ainda estou integrando tudo aquilo que aconteceu lá.
Difícil contar, difícil colocar em palavras tudo que eu senti... eu estou tentando hoje, mas percebo o quanto é difícil...
Ainda me emociono muito ao lembrar.
Estivemos a 4.700 de altitude, isso altera a mente. É uma coisa que recomendo para qualquer pessoa, vá para a altura, se aventure, você terá outra percepção do seu corpo, outro entendimento sobre o funcionamento de sua mente e do quão vulneráveis são os impulsos que a movimentam.
Em alguns momentos eu não conseguia andar, outros não conseguia falar, andar e falar ao mesmo tempo então... nem pensar!

Hoje eu posso entender porque é  tão comum ouvir que os religiosos vão para o monte ou para a montanha para orar, meditar, rezar. Que falam com Deus lá no alto.

Realmente nas alturas é mais fácil se conectar com o Divino que há em toda a parte. Isso não significa que somente está lá, de jeito algum, o Divino está em toda a parte. É mais fácil porque estamos mais disponíveis, porque o silêncio e a beleza da natureza são facilitadores, e principalmente porque nós mesmos estamos presentes em nós mesmos, não estamos distraídos.
Você pode chamar de Deus, de Tupã, de Grande Espírito, de Buda, de Krishna, pode chamar do que você quiser, o nome não importa. O que importa, no meu ponto de vida é que você sinta a presença Divina durante todo o tempo entre o abrir e o fechar dos olhos em todos os dias.
E, além disso, confie nesta Inteligência Superior, ela está ai, está aqui e por toda parte, ela está sempre presente.




Das relações e essas coisas...

Das relações e essas coisas...

Na dúvida, se for ferir, melhor calar.
O que sai pela boca de alguém importante ao nosso coração é matéria de seriedade, de alegria ou de aflição. Que se tenha consciência.


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A mentira nossa de cada dia. Que verdade você conta?

Em tempo de fake news, dia da mentira parece até um pleonasmo.
Eu vejo as midias sociais como o maior muro da mentira que já se pode ver, ali, tão exposto, toda ilusão do mundo.
Rostos felizes (?) expondo sorrisos criados a base de antidepressivos e entorpecentes, em alguns casos, ambos.
Não somos perfeitos! Estamos todos muito longe daquela perfeição plástica e esteriotipada das nossas linhas do tempo...
E eu nem acho que deveríamos expor nossas intimidades contando para todo mundo as nossas misérias, não é isso. Penso que não "vender" uma falsa vida já seria o bastante.
A coisa mais intrigante para mim é a vida que todo mundo quer ter, sem contar o milagre que o mundo quer saber.
Qual é a motivação? Para que serve isso?
Eu acho lindo quando alguém resolve publicar como fez tal coisa, porque nisso sim eu consigo ver algo de útil.
Pessoas que fazem viagens incríveis e contam para a gente como conseguiram economizar aqui e ali em trajetos ou acomodações, que compartilham experiências do tipo, "por este caminho eu fui e não funcionou então sugiro que tente outro" ou ainda, "eu fui por ali e funcionou comigo, mas eu tinha um tio naquela cidade que me emprestou o carro"
Porque falar que atravessou o mundo com a grana do carro que vendeu se naverdade, quem ajudou a bancar a viagem foi a mãe, o pai, os irmãos?
Qual o sentido em disseminar uma realidade que nunca existiu?
Eu não entendo...
Não que não existam estas pessoas, claro que existem. Eu já conheci pessoalmente algumas. Pessoas que fazem viagens incríveis porque optam por comer 4 maçãs por dia durante a viagem, sem problema algum nisso, acho sensacional. O problema para mim é a pessoa comer maça por 29 dias e no jantar de despedida, no trigesimo dia fotografar a lagosta no por do sol, como se assim tivessem sido todas as suas refeições.
A mesma lógica eu vejo na filosofia de vida "natural e simples" do hippie-chic-yogui-vegano pseudo auto sustentável, mas sustentado por algum capitalista, "escravo do sistema". A pessoa é toda trabalhada no dialética comunitária de uma sociedade alternativa e abomina estar no sistema capitalista, mas recebe de bom grado a mesada do pai, mãe, irmã, ex companheiro que vive aquela vida "insana".
Ainda não vi um contra-sistema recusar financiamento que veio da mão de um "entregue ao sistema" com a dignidade de quem recusa dinheiro que não vem abençoado por um sistema financeiro alinhado com sua filosofia de vida.
Seria bem simples. Reflita: Eu aceitaria um dinheiro que veio do tráfico?
Deveria ser igual, se no discurso da pessoa, permanecer no sistema capitalista, como um empregado CLT que tem que ficar 8 horas dentro de um escritório, for tão terrível assim.
A mentira nossa de cada dia, vem embrulhada da hipocrisia nossa de cada dia.
"Eu não concordo com este sistema, mas aceito ser sustentado por alguém de dentro dele."

A mentira nossa de cada dia normalmente contamos para nós mesmos. E muitas, eu diria até a maioria delas, contamos para nos convencer, para validar uma ilusão, para alimentar uma fantasia.

Veja, me incluo nessa. Quem nunca?

É a falta de contato comigo mesmo que me afasta das minhas verdades. É o excesso de barulho que não me permite ouvir a voz que vem de dentro. É o excesso de atividades, de distrações que não me deixam espaço para ver o que vai dentro de mim, no meu coração. É tanta coisa para fazer que não dá tempo... temos a desculpa tão perfeita quanto esfarrapada.

Outro dia me surpreendi com a separação de um casal por quem eu nutro muito afeto. Pensei comigo: "mas semana passada estavam postando declarações de amor, como assim separação agora..."
É assim mesmo que acontece, parece que vão postando para tentar se convencer e na ânsia tentam convencer aos outros, para quem sabe, os outros os convencer de que está tudo bem... mas não param para se olhar nos olhos e investigar onde foi que se perderam, onde estavam quando tudo aquilo ruiu, se ainda dá para resgatar, se vale a pena dedicar algum tempo em reconstruir algo novo...

Então hoje, só para variar, 1o de abril. Que verdade você conta?


Meu refúgio

Todo mundo deveria ter um lugar onde pudesse ser acolhido, escutado e aceito. Um lugar onde se sentisse seguro para se investigar, se desconstruir, silenciar e se aceitar. Um pedaço de chão onde pudesse sentir a força do Divino, da Mãe Terra reverberando dentro de si. Um lugar de abraços honestos, olhares sinceros e corações abertos para onde pudesse ir. Todos nós merecemos passear por lugares de paz. No Tao Tien eu encontrei uma família, muito amor, práticas e desafios incontáveis, muita risada e sabedoria compartilhada. Tenho tanta gratidão por este lugar, por essa família, por estes guardiões e cuidadores, que uma vida não basta para agradecer

Uma reflexão sobre distorsões

A gente precisa urgentemente abrir a mente para desenvolver formas novas de se relacionar (com tudo) e perceber que copiar as “velhas” fórmulas e transvesti-las de outros nomes não as torna menos nefastas. Distorções de significados e atitudes distorcidas não se tornam nobres só porque o “novo” nome está pegando carona em causas nobres. 
Precisamos ficar atentas e atentos as nossas atitudes e aos nossos vieses enrustidos e/ou inconscientes e mais do que nunca, perceber quando algo nebuloso precisa ser validado com um nome bonito para que “pareça” justificável e não somente a repetição de um padrão que não traz benefício concreto as nossas relações, nem nunca trouxe, em tempo algum.

É tempo de repersarmos se uma mentira em troca de lealdade é justificável. É tempo de refletirmos se o tal corporativismo masculino já não fez estragos suficentes a ponto de não ser desejado pela mulheres.

Já ouvi algumas vezes que as mulheres tinham alguma inveja do corporativismo masculino. Frases do tipo: Os homens são unidos e as mulheres não; Os homens são leais e as mulheres se traem; Os homens se protegem e as mulheres competem entre si; São frases fáceis de encontrar em textos que tratam da competitividade feminina.
Existe algo bem nefasto no corporativismo masculino, que tem a ver com o quanto eles são cúmplices, o quanto se protegem ao acorbertarem suas mentiras, suas pequenas escapadelas. Parece que existe mesmo um acordo velado entre eles, uma espécie de código de honra, não sei...

Eu não invejo a lealdade dos ladrões, dos piratas ou dos mentirosos.  Simplesmente não quero fazer parte de mentiras, seja por uma boa causa, seja por corporativismo, seja por sororidade. Uma mentira é uma mentira mesmo que você a transvista de um nome nobre.

Tive que refletir sobre isto nesta semana. Uma mulher me pediu para mentir para o meu companheiro para poder me encontrar com ela sem que ele soubesse, foi um pedido claro, não deixou dúvidas, apesar de não deixar claro o motivo e nem qual seria o assunto exatamente. E na hora eu respondi que tudo bem. Por considerar a privacidade dela e pensar em sororidade eu confesso que não vi nenhum mal na hora, mas depois me vi refletindo em qual das duas atitudes de fato poderia corromper meu coração. Quando eu disse a ela que não diria para ele, eu realmente não tinha pensando no quanto isso seria uma falta de lealdade com ele, olhar no olho de alguém e mentir definitivamente não é uma coisa que agrada meu coração.
Foi quando estavamos frente a frente e ele me perguntou que eu me dei conta, "porque eu tenho que mentir para ele? Em nome de que?" Por que uma mentira é necessária e justificável?
Não há resposta que satisfaça meu coração. Qualquer coisa que comece com uma mentira não está certa. Talvez haja alguma justificativa na guerra, na resistência, na revolução, no mundo dos negócios, não sei dizer ao certo. O que eu sei dizer com toda a reflexão pela qual me submeti, é que se as mulheres repetirem os mesmos comportamentos dos homens este mundo não vai mudar, só vai mudar de mão, mas continuará o mesmo.
Feminismo para mim não tem nada a ver com mulheres se comportando como homens, feminismo para mim tem a ver com mulheres se comportando com quiserem, com liberdade. E tanto homens quanto mulheres não tem direito de utilizar a palavra lealdade para fazer da mentira algo aceitável ou bonito, porque não é. Bonito é a gente poder agir com transparência, com verdade e pensar em nossa atitudade baseada em honestidade, clareza e em não causar dano a qaulquer ser humano, independente do seu genero.
O meu desejo para o movimento feminista, do qual me considero parte, é que não se cometam os mesmos erros do patriarcado, que todos possam se beneficiar da liberdade, incluindo ai dizer a verdade, porque mentir para fazer algo pressupõe que ela não exista.

Parábola - Jogue a vaquinha do precipício!

Era uma vez, numa terra distante, um sábio chinês e seu discípulo. Certo dia, em suas andanças, avistaram ao longe um casebre. Ao se aproximar, notaram que, a despeito da extrema pobreza do lugar, a casinha era habitada. Naquela área desolada, sem plantações e sem árvores, viviam um homem, uma mulher, seus três filhos pequenos e uma vaquinha magra e cansada. Com fome e sede, o sábio e o discípulo pediram abrigo por algumas horas. Foram bem recebidos. A certa altura, enquanto se alimentava, o sábio perguntou:
Este é um lugar muito pobre, longe de tudo. Como vocês sobrevivem?
O senhor vê aquela vaca? Dela tiramos todo o nosso sustento”, disse o chefe da família. Ela nos dá leite, que bebemos e também transformamos em queijo e coalhada. Quando sobra, vamos à cidade e trocamos o leite e o queijo por outros alimentos. É assim que vivemos.
O sábio agradeceu a hospitalidade e partiu. Nem bem fez a primeira curva da estrada, disse ao discípulo:
Volte lá, pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali em frente e atire-a lá pra baixo.
O discípulo não acreditou.
Não posso fazer isso, mestre! Como pode ser tão ingrato? A vaquinha é tudo o que eles têm. Se eu jogá-la no precipício, eles não terão como sobreviver. Sem a vaca, eles morrem!
O sábio, como convém aos sábios chineses, apenas respirou fundo e repetiu a ordem:
Vá lá e empurre a vaca no precipício.
Indignado, porém, resignado, o discípulo voltou ao casebre e, sorrateiramente, conduziu o animal até a beira do abismo e o empurrou. A vaca, previsivelmente, estatelou-se lá embaixo.
Alguns anos se passaram e durante esse tempo o remorso nunca abandonou o discípulo. Num certo dia de primavera, moído pela culpa, abandonou o sábio e decidiu voltar àquele lugar. Queria ver o que tinha acontecido com a família, ajudá-la, pedir desculpas, reparar seu erro de alguma maneira. Ao fazer a curva da estrada, não acreditou no que seus olhos viram. No lugar do casebre desmazelado havia um sítio maravilhoso, com muitas árvores, piscina, carro importado na garagem, antena parabólica. Perto da churrasqueira, estavam três adolescentes robustos, comemorando com os pais a conquista do primeiro milhão de dólares. O coração do discípulo gelou. O que teria acontecido com a família? Decerto, vencidos pela fome, foram obrigados a vender o terreno e ir embora. Nesse momento, pensou o aprendiz, devem estar mendigando em alguma cidade. Aproximou-se, então, do caseiro e perguntou se ele sabia o paradeiro da família que havia morado lá havia alguns anos.
Claro que sei. Você está olhando para ela, disse o caseiro, apontando as pessoas ao redor da churrasqueira.
Incrédulo, o discípulo afastou o portão, deu alguns passos e, chegando perto da piscina, reconheceu o mesmo homem de antes, só que mais forte e altivo, a mulher mais feliz, as crianças, que haviam se tornado adolescentes saudáveis. Espantado, dirigiu-se ao homem e disse:
Mas o que aconteceu? Eu estive aqui com meu mestre uns anos atrás e este era um lugar miserável, não havia nada. O que o senhor fez para melhorar tanto de vida em tão pouco tempo?
O homem olhou para o discípulo, sorriu e respondeu:
“Nós tínhamos uma vaquinha, de onde tirávamos nosso sustento. Era tudo o que possuíamos. Mas, um dia, ela caiu no precipício e morreu. Para sobreviver, tivemos que fazer outras coisas, desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos. E foi assim, buscando novas soluções, que hoje estamos muito melhor que antes.
(Autor desconhecido)
Quantas vezes ficamos de vaquinha em vaquinha, dando desculpas esfarrapadas para não construir algo novo em nossa vida?
Preste atenção as suas justificativas, elas podem ser a vaquinha que você precisa jogar no precipício.

Sobre conexão e empatia

Ouvindo uma palestra do Marshall Rosenberg (Comunicação não Violenta) sobre empatia, me vieram algumas reflexões sobre reações, sobre ego, sobre defesa, sobre conexão, aos poucos vou tentar escrever sobre tudo isso.

Quando você está numa discussão, como e com o que é a sua conexão? Você já parou para perceber? Não responda rápido! Inspire profundamente antes...

Somos treinados durante toda a vida para sermos automatizados, inconscientemente, estamos programados para não nos conectarmos verdadeiramente uns com os outros. Então diante de um embate, debate ou discussã, nós buscamos a nossa defesa, ou a correção do que o outro disse, ou até validar o passado.
Não sabemos nos conectar com verdadeira empatia às necessidades da outra pessoa, ou às nossas. Não sabemos ouvir sem julgar, não sabemos dar espaço para o outro se expressar integralmente, não sabemos como ficar na zona de desconforto que a expressão desesperada do sofrimento do outro nos causa.
E, invariavelmente ao se relacinar a gente vai conviver e encarar o sofrimento daquela pessoa. É urgente desenvolver a comunicação não violenta.
De boas intenções e inabilidades são feitas as violências sutis nossas de cada dia.
Minha reflexão é sobre mim mesma, mas inclui um convite a você, para auto observação e auto análise, uma investigação profunda e honesta neste impulso "inconsciente" de se sobressair ou se defender perante uma conversa mais acalorada.
 “Todo ato violento é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida”  Marshall Rosemberg