Nunca podemos dizer que é nosso, mas apenas que passou

O tempo que nos faz esquecer as dores é o mesmo que corre acelerado quando estamos felizes, corre solto, sem perguntar ou pedir permissão. Somente corre.
Eu ando me perguntando ultimamente algumas coisas das quais já tive a mais absoluta certeza. Não sei dizer ainda se isso é reflexo das minhas experiências, medos, ou, se é simplesmente o tempo, este que amadurece tudo, a dor, até a nossa vontade ou a nossa teimosia.
Eu também não posso cobrar do tempo a minha falta de coerência, mas me parece, agora, que a coerência se modifica também com o tempo e a referência.
No fim caímos sempre na mesma natureza das coisas, que são mutáveis e não perpetuam, da mesma forma que nascem, se modificam ou desaparecem sem aviso prévio, no máximo um sinalzinho ou outro, um sussurro, sutil como uma brisa.
Somos livres para mudarmos de ideia, ainda bem. 
E, se, a nossa mudança não ferir ninguém, ai sim é uma grande sorte, porque normalmente fere.
As vezes, eu penso que queria poder esticar o tempo quando estou com as pessoas que amo, num concerto, quando aquela música me toca o coração, embora saiba que é justamente a ideia da impermanência uma das coisas que torna o momento tão especial. Ele vai passar.
Hoje o tempo é meu amigo, eu já não me entristeço por levar às lembranças os meus momentos, algumas delas até ao esquecimento, pois já cumpriram seu papel de professores; Sofrimento só serve para duas coisas: Te aplicar um ensinamento específico e te fazer perceber o verdadeiro valor, a importância de alguma coisa oposta aquilo que te feriu um dia.
Eu não posso reclamar do tempo, ele já me curou muitas vezes.
Desfrutar o momento, para mim, não é através da voracidade, é pela presença, é estar cem porcento presente, entregue especialmente àquele momento, como se ele fosse o último, porque de fato é, não haverá outro igual nunca mais.

"Os dias são velozes como uma flecha indígena.
Voam como uma estrela cadente.
O dia presente está aqui e se dissipa tão rápido;
Que nunca podemos dizer que é nosso, mas apenas que passou."
 filme: Abraham Lincoln: Vampire Hunter






Desencontros

Há pessoas que a gente conhece para desencontrar, é um mistério, este querer muda de mão como a lua muda de fases e assim a vontade, daquela que consuma o ato, não se apresenta ao mesmo tempo para os dois.
São caprichos do destino? Medo de realizar o que idealiza? Falta de coragem de arriscar, o que? Viver?
Certa vez ouvi que o medo toma conta do vazio que o amor não preencheu, mas ai,  será que é amor?
Talvez seja o amor em meio ao medo. E este pode ser a simples constatação de que o amor não é grande o bastante. Ou quem sabe, seja a dúvida. Não a dúvida de que se ama, mas aquela que faz pensar que é melhor um sonho não realizado do que a certeza  de que não é capaz de vivê-lo.
E em caso de amor, uma decepção irremediável pode ser pior do que a frustração de um amor não vivido.
A vida é simples, as pessoas é que são complicadas.


"A vida é a arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida". (Samba da benção - Baden Powell e Vinicius de Moraes)




Por
Francisco Bosco


Para Vinicius, a experiência do amor é trágica. O que responde por essa tragicidade? O fato de que, para ele, o amor acaba: o amor é uma intensidade que queima, consome-se e consuma-se, esvaziando-se fatalmente. O que fazer, então, diante dessa experiência? Aqui começa a força: Vinicius fez um pacto com as altas intensidades, e dispôs-se a pagar seu preço, igualmente alto. Pois se o amor é uma alta intensidade que, no tempo, esvazia-se, só lhe restava aceitar essa dinâmica e acatar o fim do amor - o que significava abrir novamente a possibilidade de um novo amor, da vivência de uma nova intensidade alta, e assim sucessivamente.

A força de Vinicius - de suas letras e de sua vida, pois ético e estético estão aqui indissociavelmente ligados - vem daí, desse pacto com o que para ele se apresentava como alta intensidade. Essa, às vezes, pode - e deve - ser negativa; faz parte do preço. Pois é preciso trazer à tona, nesse pacto tão exigente, a categoria de sacrifício: todas as perdas, toda a interrupção, tudo aquilo de que é preciso desfazer-se para manter-se fiel às altas intensidades. Todos os lutos. A força é da ordem de uma firmeza ética. No pacote do pacto vêm a luminosidade e a obscuridade, os recomeços e os términos - os extremos das altas intensidades. Ou ainda: altas intensidades só têm extremos, não há meio-termo. 

Nos momentos de iluminação amorosa, no interior da alta intensidade, ocorrem vislumbres do infinito, promessas de repouso e solução: "A esperança divina de amar em paz" (Se todos fossem iguais a você - Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Pouco importa que a esses momentos sucedam novamente as dúvidas e os términos; isso é apenas o preço - alto, mas o preço. O que importa é que "A vida é a arte do encontro / Embora haja tanto desencontro pela vida". (Samba da benção - Baden Powell e Vinicius de Moraes).  
Recomendo a litura completa no link http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/article.php3?id_article=1261


Das melhores coisas da vida

Existem pessoas que parecem nos acompanham por toda a vida, com seu valor, sua presença em nossas mais íntimas emoções e pensamentos, com a importância de suas considerações ou com seu silêncio e respeito quando tudo (e somente) o  que você precisa é um colo para depositar suas lágrimas. Você não precisa dizer que não é hora de falar, esta pessoa tem o dom de perceber o que você precisa, mesmo quando nem você ainda sabe. Em meio a dor, muitas vezes, perdemos a capacidade de discernir e alguém resvalado na sutileza é um presente divino.
Quem tem a sorte de ter estas pessoas em suas vidas tem muita, mas muita sorte. Eu tenho e não é só uma.
As vezes esta pessoa não está perto geograficamente, mas sua presença é incontestável. Acolhimento e afeto podem ser transmitidos a distância também, por uma mensagem, um email, um vídeo de um gatinho com uma voz engraçada ou com uma flor.
No entanto, vez ou outra a presença se faz necessária para te devolver o lugar, o eixo, te relembrar quem você é além do ego uivando, ensurdecedor.
Se eu não tivesse mais nada, mas ainda tivesse estes anjos em minha vida, só por isto já teria valido a pena ter passado por aqui.
Hoje eu sou gratidão e amor em toda minha inteireza.
Te  amo
"I see y too"

Cheiro de saudade

Já não há mais sorriso de chegada, nem aconchego de bom dia.
Os lençóis foram lavados. Já não há roupas nos armários e nem a toalha a mais no banheiro.
Nunca houveram fotos, apenas livros, filmes e músicas, nosso universo particular e impenetrável.
Mas não há mais o nosso universo, não há você aqui, não há livro, só história.
Todos os dias eu chego em casa e abro a porta como se fosse ver seu sorriso, preciso de alguns segundos para constatar a realidade. É a minha mente me pregando peça.
O problema é o sofá. Nele está sua presença, seu cheiro, o formato do seu corpo naquele canto que era só seu.
Demorei alguns dias para me sentar nele sem você, parecia até bruxaria. O sofá me abraçava e eu sentia seu cheiro.
Resolvi lavar o sofá para ver se isso resolvia o drama de todas as noites, mas é nele também que eu resolvo minha insônia algumas vezes e fiquei com medo de não ter mais salvação.
Em noite de lua e de TPM eu me acalmo naquele sofá e nele você está comigo.
Mas ao despertar me dou conta que você não está e a saudade  inunda meu universo.
Todos os dias, ao sair, eu te vejo ali sorrindo para mim com a promessa no olhar de que nos veremos mais tarde. Estou presa àquele olhar de promessas e ao sorriso da chegada.
Hoje a saudade está sangrando meu peito, hoje eu durmo no seu sofá.


Qual é o seu amor?

Eu fiquei refletindo sobre o amor depois de ver esta postagem no Megantena, achei lindo e me pus a pensar. http://megantena.blogspot.com.br/2012/10/amarello-amor.html
Sabe, eu não acredito numa única forma de amar. Eu acredito que o amor que você sente nada mais é do que o reflexo do amor que você aprendeu. Sim, porque nós somos isso mesmo, refletimos o que tivemos como referência, experiência direta ou indireta.
Então é muito provável que a sua primeira referência de amor esteja na sua infância, É eu sei, isso é um tanto Freudiano, não há muito como fugir, a não ser pelo fato de que cada pessoa reage de uma forma em relação a mesma experiência. E este é o grande barato da humanidade.
Nós não somos programados para ter a mesma reação, o mesmo aprendizado, o mesmo trauma, cada ser humano possui seus próprios mecanismos de reação e absorção de experiências.
Isso é fácil de se observar quando temos irmãos, no meu caso somos em quatro, com um ano de diferença, mas totalmente diferentes, mesmo tendo começado a vida com os mesmos pais, no mesmo ambiente e com muitas experiências partilhadas.
Nós quatro temos uma grande possibilidade de termos tido a primeira experiência de amar e ser amado pela mesmas pessoas, nossos pais, no entanto isso não fez de nenhum de nós, pessoas que amam da mesma forma.
Acredito que alguns fatores venham de fábrica e por esta razão estão protegidos pelo mistério da vida.
Apesar de sermos um resultado de experiências, também somos totalmente capazes de mudar o que não nos traz felicidade, aquilo que está nos prejudicando, ou não fazendo bem.
Não há muita saída e nem segredo, observação, humildade, e um forte desejo de transformação aliado a coragem de fazer diferente.
Eu vejo uma infinidade de pessoas sofrendo por amor e isso me comove.
Eu também já tive as minhas dores, eu sofri e sofro, mas é pouco, tenho memória curta, uma certa dose de pragmatismo e resiliência, isso faz de mim uma vítima por pouco tempo, hoje, mas já tive meus maus momentos.
Observe de onde podem vir as suas reações mais prejudiciais numa relação, como elas nascem, como foram desenvolvidas em você. Normalmente são características bem clichês, mas o clichê é a realidade numa e crua simplesmente. Como nascem as pessoas ciumentas demais, controladoras demais, relapsas demais, carentes demais, frias demais, perigosamente generosas demais, ou simplesmente egoístas?
Como é o amor que você gostaria de ter? Como chegar até ele?
Existem vários conceitos sobre amor e felicidade, você não precisa deles. Encontre o seu.
Da mesma forma que você pode desprogramar sua forma de amar, você pode escolher qual o tipo de amor você quer viver.
O objetivo da vida é te ensinar a ser feliz, esta é a unica razão para a qual você foi concebido neste planeta. 
Pense que maravilhas a natureza teve que desenvolver para que este plano desse certo!?
Então seja feliz, descubra seu próprio jeito de amar, seu caminho é você quem desenha!





Garota Fluoxetina

Está ficando cada vez mais difícil assumir a personalidade, afinidades, e dizer não, sem magoar alguém. Parece que o mundo pirou e toda opinião que você expressa se transforma em ofensa pessoal.
É como se a gente não pudesse não gostar e não querer mais nada.
Onde foi que o mundo ficou tão bege?
Ai que preguiiiiçaaaaa que eu tenho de formalidades, convenções e política.
Eu me apropriei há muito tempo da liberdade de fazer apenas o que, realmente, me alegra o coração.
Eu não quero gastar meu tempo com coisas ou pessoas que eu não sinto realmente muito prazer em fazer ou ver; Eu não quero defender nenhuma causa; não quero participar de nenhum movimento; não quero ter que gostar de alguma coisa só porque é politicamente correto!
Ultimamente me sobra tão pouco tempo para ficar em casa, que chega o final de semana e eu não quero colocar o nariz para fora.
Não é nada pessoal, não é nada com as pessoas. É comigo. Sinto uma inclinação forte por estar sozinha, em silêncio, no máximo com o tic e tac do meu relógio da cozinha por companhia.
Sinto cada vez mais forte que as pessoas me cansam, consequente, eu as canso.
Em matéria de gente, você recebe de volta o que entrega, ou seja, a recíproca é verdadeira.
OK, isso não me incomoda, então por favor, não se ofenda.
Eu não preciso que alguém me ligue todo dia,  para eu saber que ela se importa comigo.
Amigo é amigo, você simplesmente sabe que pode contar e pronto!
Não, não precisa me perguntar como está a minha avó, meu trabalho, meu relacionamento.
Eu não quero passar a revisão das últimas notícias da minha vida.
O que é pra todo mundo, está nas redes sociais, o que é para alguns eu mesma me encarrego de noticiar.
Eu não tenho esta carência em relatar os últimos acontecimentos da minha vida para alguém.
Telefone me incomoda, de verdade não acredito que uma conversa deva ser por telefone se duas pessoas moram na mesma cidade. Neste caso, se você acredita, mande um e-mail, no meu caso, eu prefiro.
Pode parecer chatice, e talvez até seja, mas a motivação primordial neste momento é total falta de tempo, paciência e disposição para algumas coisas.
Então se você é carente, ansioso, narcisista ou talvez só um tanto egocentrado, eu não sei lidar com você e posso te chatear a qualquer momento.
Cadê a compaixão? Tirou férias enquanto a TPM está trabalhando.

Assinado: Garota Fluoxetina



Sussurros de girassóis e a utopia do desejo

Foi na palidez daqueles girassóis desbotados é que ela se confrontou com a utopia do seu desejo. Ela queria a paixão transformadora, daquelas que tiram o eixo e reorganizam ou modificam tudo do lugar. 
Ela queria que ele a amasse ao ponto de entregar-se;
Ela queria ver nele o reflexo do sentimento que a tomava por completo.
Os girassóis desbotados falavam baixinho em seu ouvido para não feri-la.
A confirmação do que já sabia girava em torno dela como um filme que já foi visto enumeras vezes na esperança, irreal, de que o final mudasse.
Na sua boca o gosto da desilusão congelava todo seu corpo, se não fosse pelo acelerado triste do seu coração, pareceria o congelamento da decepção anunciada.
A verdade girava em nota insuportável.
Suspiros e respirações profundas a traziam cada vez mais perto do fim do sonho de beijos de amora e banhos de cachoeira. Estava deixando ir e sofria.
Seu amor era tão doce que, por um instante, quase a fez esquecer dos sussurros dos girassóis.
Ela queria a vida, paixão, entrega, sensações e descobertas. 
E o que ele oferecia era a facilidade de um sentimento tão seguro que não oferecesse qualquer risco de perder-se na paixão.
A constatação do óbvio a fazia sangrar de conformismo. É assim que é. E mais nada.

Minha doce desistência

Existe uma misteriosa liberdade na desistência, mas nem todos sabem degustar. Se você estiver amarrado no conceito da vitória, persistência ou determinação pode ser que seu desfrute esteja comprometido. Há que se ter mais inteligência do que orgulho para aceitar que a luta foi bela mas que já era. Se você, verdadeiramente, tentou, lutou e se entregou de coração, corpo e alma, se você se dedicou e entregou o seu melhor por um objetivo, um ideal, um sonho ou uma pessoa e mesmo com toda a sua vontade e ação naquele sentido, se ainda assim, você não conseguiu. Meu amigo, já deu. Não se sinta mal por isso. Repouse sua cabeça na tranqüilidade dos honrados guerreiros e saiba que nem sempre é a vitória o seu destino, as vezes é somente a batalha. Pode ser que esta batalha perdida seja a lapidação que te faltava para a grande vitória que esta por vir. Respire a brisa da liberdade de não precisar vencer. Desfrute da paz que é ser senhor de si, encontre o verdadeiro sentido que está dentro de você. Não aceite a frustração do mundo como sua. A desistência, neste caso, não é derrota, é transformação.

Missão cumprida papai!

Me parece das missões das mais difíceis ser pai de menina.
Digo isso por mim, para que não haja controvérsias, já  que não é a polêmica o objetivo desta postagem.
Para uma menina seu pai é o seu primeiro grande amor, é a sua primeira e mais forte referência masculina, é sua fonte de inspiração na relação homem-mulher, é seu ponto de partida nas relações afetivas.
Meu pai sempre teve defeitos como qualquer ser humano, mas soube, com toda a sua simplicidade, me mostrar o que é o amor, como se deve demonstrar, oferecer e receber carinho. 
Graças a ele eu soube que o carinho a gente oferece e ponto, a outra pessoa aceita se quiser, sem obrigação, sem cobrança, sem esperar nada como retorno.
Meu pai sempre foi muito carinhoso comigo, mesmo quando não estávamos mais perto fisicamente, ele me telefonava para dizer que me amava e que sentia saudade e para me perguntar se eu estava feliz. Sempre me dizia para buscar um trabalho pelo qual eu fosse apaixonada porque trabalhar sem amar o que se faz era muito cansativo. Foi o que eu fiz. Hoje amo apaixonadamente o que eu faço e não me canso.
Meu pai me ensinou a ser independente, desapegada, a ser do mundo e a ter sede de conhecimento.
Meu pai me ensinou que o respeito é coisa que não se exige, ele é emanado por você, as pessoas ao seu redor apenas o sentem porque ele já está em você.
Ele sempre respeitou minhas escolhas, apesar de as vezes não concordar com algumas delas, nunca invadiu minha vida com opiniões e julgamentos que eu não tenha pedido. 
Isso tudo não quer dizer que ele nunca tenha errado comigo em nossa vida compartilhada, isso não vem ao caso hoje, porque hoje é o dia de falar dos acertos e não dos enganos. 
Eu tenho certeza que ele não concordou comigo muitas vezes e que me julgou (talvez) mas isso ele fez em silêncio, pois não me castigou com seus pensamentos e julgamentos contrários, o que eu agradeço imensamente. Não há nada pior para uma filha que está passando por momentos difíceis do que no meio do seu inferno ter que argumentar com seu pai ao invés de poder correr para seu colo.
Todos erramos, todos nos enganamos, nenhum de nós é o senhor da razão. E a vida, cada um tem a sua para cometer seus próprios erros, a consequência disso é de cada um e ninguém tasca.
Meu pai me ajudou a ser quem eu sou, me ajudou a ter coragem para me arriscar, me ajudou a identificar quem me ama, me ajudou a ter senso crítico e a defender meu ponto de vista com dignidade.
Mas sem dúvida a coisa mais importante que meu pai me ensinou foi sobre ser amada.
Na minha vida amorosa eu posso ter me enganado em relação ao caráter dos meus companheiros, mas de forma alguma eu errei quanto o amor deles por mim. Talvez na minha ilusão juvenil eu tenha imaginado que aquele amor seria capaz de mudar qualquer coisa, até caráter ou personalidade, hoje eu sei que nem o maior amor do mundo é capaz destas coisas.
Meu pai me ensinou a ser amada com qualidade, com bem estar, me ensinou tão bem, que mesmo amando e sendo amada, sou capaz de ir embora se não sinto o bem estar na relação.
Meu pai me ensinou a ser segura de mim mesma, do meu sentimento, me ensinou a amar com qualidade, e por este critério eu posso errar de pessoa, mas jamais por amar ou ser amada de menos.
Ser pai de menina é isso, elevar o critério de escolha, contribuir com a qualidade da seleção natural.
Valeu pai! Te amo!


O meu, o seu, o nosso

Cada um nós somos um universo inteiro.
Não julgue, tente aceitar, entender nem sempre é possível, as vezes melhor é nem tentar.
Todos nós temos o nosso próprio deserto para atravessar, o nosso próprio inferno para conhecer e os nossos (todos) fantasmas para aprender a conviver enquanto não encontramos o exorcismo que funcione.
Conversando com uma cubana, me lembrei que uma vez ouvi de uma mulher aflita, "quando a porta do quarto se fechou e estávamos na cama aos beijos e carinhos, um a um me apareceram todos os fantasmas, minha terapeuta, por sorte, também apareceu e me mandou ir ao banheiro e me concentrar para que eles se fossem".
Julgamos que sabemos muito sobre o outro, o suficiente para prever seus pensamentos, adivinhar suas razões, quando na verdade somos todos um mistério uns para os outros.
É imensurável a distância entre duas pessoas e suas razões, suas motivações, seus desejos conscientes, sem contar seu inconsciente, que muitas vezes, governa tudo silenciosamente, manipulando vidas sem qualquer escrúpulo.
Somos mutantes, indeterminados, impermanentes. Somos como a lua e suas fases, cada qual com sua beleza e sombras. 
Somos como o tempo, amanhecemos ensolarado e chovemos ao entardecer.
Ainda bem que o sol nasce e outro dia vem e vai;
Somos como o tempo passando impunemente;
E as vezes nem sequer nos damos conta do que ficou no dia anterior.

Não há amor que resista a tanto perdão

Não estava caminhando, apesar de andar, sentia como se flutuasse, livre.
A sensação de liberdade é assim quando se revela, assemelha-se a um início de voo, primeiro flutua-se depois impulsiona-se e por fim voa.
Estava triste com a constatação, mas libertava-se da prisão que sua paixão a impunha. 
Por dois anos perseguia o desejo de ser única, sofrendo a cada descoberta que o dividia com a "novidade" do momento. A cada nova professora, a cada nova aluna, a cada nova vizinha, a qualquer mulher bonita que passasse, o temor pelos olhares interessados a entorpecia. 
Somente uma mulher que já fora traída e perdoara é quem a poderia compreender a insegurança, a desconfiança, o medo, a sensação de ameaça se aproximando.
Assim era sua vida a dois, seu marido seria perfeito se não fosse pela sua voracidade pelas mulheres. Todos os dias a despertava com beijos e carinhos, sem se importar com o desfecho da noite anterior, a cada dia um novo dia, ele dizia, e assim o fazia.
Eram parceiros nas afinidades, eram amigos que compartilhavam a vida e amantes perfeitos na cama, enfim um casal como poucos se viam.
Ele é professor de música na universidade, sua paixão pela música acabava por seduzir a todos e mais ainda as garotas.
A primeira vez que foi descoberto foi pelas artimanhas de uma aluna apaixonada, que pensou em destruir-lhe o casamento para ficarem juntos. O que a pobre não imaginou é que seu professor não tinha qualquer plano em divorciar-se, amava sua esposa, não imagina a vida sem ela, era para ele, como a música, essencial.
A esposa, ao deparar-se com aquela ninfeta na porta de sua casa dizendo o quanto amava seu marido e queriam estar juntos como marido e mulher, respirou fundo e sorrindo disse-lhe que era a terceira a bater em sua porta com a mesma história, então que fosse embora logo para desfrutar o que restara daquela diversão de seu marido porque não costumava durar mais do que uma semana.
Fechou a porta e chorou o fim de suas dúvidas e começo de uma nova vida, já não ignorava mais as aventuras do seu marido.
Ele lhe contou tudo, mas garantiu que não passavam de aventuras sem importância, não passavam de três encontros, nunca ficava com nenhuma mulher mais do que três vezes, pois não queria envolvimento com nenhuma outra mulher além dela.
Desde então sua vida se dividia entre o céu de uma vida a dois perfeita (quando ele estava com ela) e o inferno de saber que ele estava com outras quando não estava com ela. 
Ela desenvolveu mil e uma maneiras de saber quem era "a da vez" e isso a sangrava a cada descoberta. Sangrou tanto que morreu, seu amor foi morrendo pouco a pouco, lentamente dolorido, disfarçado, silencioso. Pouco a pouco perdeu a curiosidade em saber se ele estava dando aula ou passando seu tempo com a "novidade da semana". Pouco a pouco deixou de revistar sua roupa, sua carteira, seu celular, pouco a pouco não se interessava pelas afinidades dos dois, pouco a pouco buscou outros interesses individuais, pouco a pouco mudou de guarda roupa, pouco a pouco mudou de ambientes, pouco a pouco refez sua vida individualmente e pouco a pouco deixou de amá-lo e passou a amar-se.
Foi caminhando ao vento que sentiu sua liberdade apropriada, refeita, sólida.
Não há honestidade em uma relação onde somente um é feliz.
Não há amor que resista a tanto perdão.
Ninguém passa imune por tamanha indulgência.

Pegue a sua quota de bem estar e seja feliz!

A sensação de bem estar percebida por alguém depois de um encontro, um e-mail, uma mensagem, um telefonema é o sinal mais confiável e irresistível para a continuidade de um relacionamento, seja ele qual for, independente do nível.
A questão é que algumas vezes essa sensação desaparece. O fato dela ter nascido em determinado momento não garante que ela se desenvolva, as vezes o bem estar não resiste aos três primeiros encontros, outras vezes persiste por mais alguns e não se sustenta.
Pode acontecer de alguém que te fez tão bem em algum momento da sua vida de repente, depois de anos, passa a fazer mal, ou simplesmente se torne indiferente.
A questão é que a gente muda o tempo todo, a reação química de hoje pode não acontecer amanhã. O que te interessa hoje pode ser completamente diferente amanhã. Não existe fórmula mágica, nem explicação racional para essa afinidade, as vezes ela acontece, as vezes não, as vezes ela se perde, as vezes ela se transforma, as vezes ela só precisa de um tempo para se ajustar novamente, felizmente, as vezes ela se renova a cada novo encontro.
Acontece que nós somos imediatistas, ansiosos e achamos que o mundo gira em torno de nós mesmos.
Quando estamos do lado lá, quando somos a pessoa que já não causa o interesse, nos sentimos revoltados, rejeitados, tristes e buscamos as razões (que talvez não existam) para explicar algum distanciamento.
Nada permanece igual indefinidamente. As pessoas mudam, o tempo muda, os interesses mudam, tudo se transforma com o passar do tempo. Não se deprima, não amargue a vida, siga em frente e confie na vida.
O melhor disso tudo é perceber, depois de um tempo de distância, que o tempo foi necessário para que se  pudesse encantar novamente com a mesma pessoa.
Rubens Alves citando T.S. Eliot "E o fim de todas as nossas explorações será chegar ao lugar de onde partimos e conhecê-lo então pela primeira vez". Os caminhos da alma são circulares, voltam sempre ao princípio. - Variações Sobre o Prazer, Rubens Alves, Editora Planeta, pag 57 e 58
É delicioso sentir este encantamento surgindo novamente, mais forte, mais maduro, menos ingenuo, mais lúcido.
Só o tempo é que certifica algumas coisas, não adianta correr, chorar, se inconformar, simplesmente é assim, aceite.
A vida não tira nada da gente, ela ensina sobre a impermanência das coisas. Quanto mais rápido você aprender, menos vai sofrer!
Ser feliz deve ser a sua meta porque aqui todo mundo tem a sua quota de bem estar, não deixe a sua pra lá.



Eu quero a vida viva!


Eu quero dias de sorrisos de artista, dias de banho de cachoeira, dias de abraço de criança;
Eu quero a sensação refrescante da brisa no dia quente;
Eu quero o sabor do primeiro gole daquele vinho maravilhoso;
Eu quero dançar de mansinho com a cabeça apoiada no ombro certo;
Eu quero a noite  perfeita que não termine;
Eu quero dias de sol, alternados com dias de céu cinza e a chuva para lavar a alma;
Eu quero amar e conquistar e continuar amando o que conquistei;
Eu quero dia de prosa boa, comida boa e bebida boa e o compartilhar com os bons;
Eu quero a sensação de vida ganha depois de uma conversa;
Eu quero trocar experiências de riqueza vivencial;
Eu quero saúde e tempo de vida para desfrutar o amor;
Eu quero compartilhar todo o amor que meu coração for capaz de produzir, conduzir e espalhar;
Eu quero o olhar amoroso, o sorriso de carinho e o silêncio cúmplice.
Eu quero tempo e atitude para ler os livros, ver os filmes, escrever as cartas, organizar as fotografias;
Eu quero perceber o amor antes da carência, da conveniência, do desejo, do tédio de um dia vazio;
Eu quero desejar apenas o que me cabe e amar os que me amam, mas compreender e aceitar aqueles que não amam;
Eu quero fechar os olhos na tempestade e ter fé suficiente para caminhar tranquilamente com olhos fechados;
Eu quero a surpresa de um gesto amável, gentil, leal;
Eu quero o toque dos lábios na pele;
Eu quero sentir o cheiro da sua pele depois do banho; depois do amor, depois do sono;
Eu quero o beijo quente e suave que me diga, sem palavras,  o quanto somos melhores juntos;
Eu quero a percepção de que a vida é mais colorida quando eu olho para você;
Eu quero o suspiro depois do orgasmo e o soninho de preguiça depois;
Eu quero respirar a vida em toda a sua força e não achar que estou viva porque ainda respiro;
Eu quero que você saiba:
Para ser feliz a dois, somente sendo, primeiro, feliz em um, pois felicidade se soma.

Não se mate, de Carlos Drummond de Andrade


NÃO SE MATE
(Carlos Drummond de Andrade)



Carlos, sossegue, o amor 
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija, 
depois de amanhã é domingo 
e segunda-feira ninguém sabe 
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para 
as bodas que ninguém sabe 
quando virão, 
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você, 
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas, 
vitrolas,
santos que se persignam, 
anúncios do melhor sabão, 
barulho que ninguém sabe
de quê, 
pra quê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito 
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam. 
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos, 
mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.




Um traço muito recorrente no Drummond é o humor, é um poeta com um humor incrível, que tem varias motivações no humor. 
Vejam que graça e que simplicidade isso:

"Carlos, sossegue, o amor 

é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija"


Não há nenhuma tragédia, não há nenhum grande drama instalado no fato do amor num momento se anunciar pleno e no outro ele se furtar, ele se subtrair completamente, um dia beija outro dia não beija. 
Sobretudo reduzir o amor ao próprio ato do beijo é de uma enorme simplificação, então o que  Drummond faz aqui é simplificar o problema amoroso para nos dar uma imagem doméstica, muito do nível do casal, da relação a dois:

"hoje beija, amanhã não beija, 
depois de amanhã é domingo 
e segunda-feira ninguém sabe 
o que será."


Ora, o poema vai neste tom humorístico muito leve e depois tem esse momento dramático:
"
Não se mate, oh não se mate,"


E ai parece que o poema entra em uma especie de momento dramático:

"O amor, Carlos, você telúrico,

a noite passou em você, 
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,"


Esta estrofe é muito estranha, lá dentro onde? Porque até então não tem nenhum espaço físico para que haja um dentro, a não ser que haja uma casa, mas veja, "como a noite passou em você" o que surge pra gente é a imagem do sujeito, "o amor, Carlos". Esta coisa é muito do Drummond, ele se tratar na segunda pessoa, ele fala com ele mesmo. Então a nossa câmera de leitor está toda voltada para o Drummond. A primeira tentação nossa é lá dentro de você, Carlos.


"lá dentro um barulho inefável,

rezas, 
vitrolas,
santos que se persignam, 
anúncios do melhor sabão, 
barulho que ninguém sabe
de quê, 
pra quê."


Parece que tem uma televisão ligada e ao mesmo tempo parece que ele está fotografando ou filmando  o inconsciente deste sujeito, Carlos, então este lá dentro é como se fosse o lá dentro dele. E veja, a gente ainda está naquele mesmo poema, "um dia beija, outro dia não beija", aquela simplicidade desapareceu, aquela intimidade, aquele poema transparente que todo mundo imediatamente lê e  se reconhece, desapareceu. O poema agora é outro, ele já exige do leitor um outro nível de investimento, um outro nível de interpretação, uma outra entrega. Até que:

Entretanto você caminha

melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito 
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam. 


O poema ganha aqui uma espécie de tom maior, muito diferente do que vinha lá na primeira estrofe, então é um poema que vai se transformando ao londo dele, que vai mudando de dicções, num mesmo poema. Por Eucanaã Ferraz.

Transcrição da mesa 17 da FLIP 2012, homenagem a Drummond.

Salman Rushdie em entrevista para O Globo em 2003


Eu sou apaixonada por Drummond e este poema é, para mim, muito especial, me identifico com ele da primeira à última estrofe, palavra por palavra.

Nós somos simples e complexos, silenciosos e barulhentos, lúcidos e ignorantes, sempre vai depender do referencial, do momento interno em que estamos, do grau de emoção envolvido, porque nos perdemos vez ou outra. 
Ninguém é cem porcento isso ou aquilo, somos mutantes, pelo menos, eu acredito, (felizmente) uma grande parte de nós.
Esta complexidade do ser humano é que propicia transformação, evolução, busca por novos conhecimentos e alguma (ou muita) dor e sempre muito aprendizado, se você estiver aberto.

"O amor é isso, hoje beija, amanhã não beija."

É como eu costumo dizer: Eu te amo, mas hoje não estou te amando.
As vezes o barulho é tanto que o silêncio é uma questão de vida ou morte.
As vezes o grito é a sentença de vida.

O que a gente precisa é de compreensão e respeito, qualidades inseparáveis do amor, aquele, o amor de verdade.

Seja lá o que for que esteja acontecendo, não se mate, isso passa, como tudo já passou e passará, não é pessoal contra você quando é no outro, é intrapessoal, é ele com ele mesmo, eu comigo mesma, e vai passar porque tudo passa.

O amor no escuro, não, no claro,

é sempre triste, meu filho, Carlos, 
mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.


O que importa realmente, é que aquele dia que foi o dia mais feliz da sua vida, aquela sensação de coração cheio de amor, vida repleta de sentido, isso pode estar ali, na próxima esquina. Esta é a graça da vida.
Nós somos um universo de coisas, mas o universo também está aos nossos pés.
Coragem, é o que a vida quer da gente.