Há pessoas que a gente conhece para desencontrar, é um mistério, este querer muda de mão como a lua muda de fases e assim a vontade, daquela que consuma o ato, não se apresenta ao mesmo tempo para os dois.
São caprichos do destino? Medo de realizar o que idealiza? Falta de coragem de arriscar, o que? Viver?
Certa vez ouvi que o medo toma conta do vazio que o amor não preencheu, mas ai, será que é amor?
Talvez seja o amor em meio ao medo. E este pode ser a simples constatação de que o amor não é grande o bastante. Ou quem sabe, seja a dúvida. Não a dúvida de que se ama, mas aquela que faz pensar que é melhor um sonho não realizado do que a certeza de que não é capaz de vivê-lo.
E em caso de amor, uma decepção irremediável pode ser pior do que a frustração de um amor não vivido.
A vida é simples, as pessoas é que são complicadas.
"A vida é a arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida". (Samba da benção - Baden Powell e Vinicius de Moraes)
Por
Francisco Bosco
Para Vinicius, a experiência do amor é trágica. O que
responde por essa tragicidade? O fato de que, para ele, o amor acaba: o amor é
uma intensidade que queima, consome-se e consuma-se, esvaziando-se fatalmente.
O que fazer, então, diante dessa experiência? Aqui começa a força: Vinicius fez
um pacto com as altas intensidades, e dispôs-se a pagar seu preço, igualmente
alto. Pois se o amor é uma alta intensidade que, no tempo, esvazia-se, só lhe
restava aceitar essa dinâmica e acatar o fim do amor - o que significava abrir
novamente a possibilidade de um novo amor, da vivência de uma nova intensidade
alta, e assim sucessivamente.
A força de Vinicius - de suas letras e de sua vida, pois ético e estético estão
aqui indissociavelmente ligados - vem daí, desse pacto com o que para ele se
apresentava como alta intensidade. Essa, às vezes, pode - e deve - ser
negativa; faz parte do preço. Pois é preciso trazer à tona, nesse pacto tão
exigente, a categoria de sacrifício: todas as perdas, toda a
interrupção, tudo aquilo de que é preciso desfazer-se para manter-se fiel às
altas intensidades. Todos os lutos. A força é da ordem de uma firmeza ética. No
pacote do pacto vêm a luminosidade e a obscuridade, os recomeços e os términos
- os extremos das altas intensidades. Ou ainda: altas intensidades só têm
extremos, não há meio-termo.
Nos momentos de iluminação amorosa, no interior da alta intensidade,
ocorrem vislumbres do infinito, promessas de repouso e solução: "A
esperança divina de amar em paz" (Se todos fossem iguais a você -
Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Pouco importa que a esses momentos
sucedam novamente as dúvidas e os términos; isso é apenas o preço -
alto, mas o preço. O que importa é que "A vida é a arte do encontro /
Embora haja tanto desencontro pela vida". (Samba da benção - Baden Powell e Vinicius de Moraes).
Recomendo a litura completa no link http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/article.php3?id_article=1261
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