Eu estava no fundo de mim mesma e ali estava frio e escuro.
Eu caminhei para encontrar meu carro, caia uma garoa fina e o vento frio estava cortante. Tão cortante e frio como a minha dor confusa e assustada, minha derrota tão impotente e gritante.
Era como se eu sentisse uma coisa que nunca havia sentido antes, não sabia como sentir, não entendia o que estava acontecendo, estava estarrecida diante daquela dor tão nova e grande.
Havia deixado o carro a duas quadras que pareceram a volta ao mundo, eu estava sem senso de direção, contato ou tamanho. Quando avistei o carro achei que ele estava achatado, pequeno como se tivessem o prensado. Pensei: "Bateram no meu carro". Apática, sem pensar e pesar. "Amanhã eu vejo isso".
E aquela dor sem nome uivando no meu peito. Eu entrei no carro e imediatamente ele se tornou gigante.
Eu me sentia tão contorcida na minha dor que o carro, de repente, pareceu um mausoléu, gigante e assustador.
Eu me vi tão pequena, tão pequena que parecia que havia encolhido, me sentia tão desamparada e sozinha que o mundo todo parecia uma terra de gigantes e eu, uma formiguinha prestes a ser pisoteada.
Um pavor e medo nasceram neste instante, fazendo minha dor mais carregada.
Pensei que fosse síndrome do pânico e tive a maior compaixão pelas pessoas que sentem isso todos os dias. Me apavorei com a idéia de ser uma delas a partir daquele momento.
Eu dirigi até a minha casa sem nem saber direito como. Na verdade tenho poucas lembranças daquele trajeto, me lembro de tentar permanecer com o veículo na faixa para não bater em ninguém, me sentia entorpecida, sem condições de guiar nem a mim mesma, quem dirá a um carro.
Cheguei em casa salva, mas nem um pouco sã.
Enquanto fechava a porta da entrada de casa atrás de mim, meu corpo se entregou ao total abandono em que me sentia.
Me lembro da sensação da chave girando e meu corpo caindo. Ali fiquei, no chão, esgotada em toda a minha esperança e repleta de dor, mágoa, culpa e desamparo.Chorei e chorei até sentir que meu coração havia se desfeito em lágrimas, chorei até que a tristeza cansasse e me deixasse só. E só fiquei, até pedir ajuda.
Este dia ficou lá atrás, foi o começo de uma nova vida.
Precisamos nos deixar morrer, em alguns momentos, para renascermos livres.
Este dia foi muito difícil, mas marcou o começo de dias melhores. Por causa desse desfalecimento é que pude deixar entrar a luz novamente. Andei pelas trevas e não percebi quando entrei, mas as sombras que me seguiram por algum tempo foram testemunhas do passeio.
Hoje a cada sorriso despretensioso e inesperado, eu agradeço àquele dia ter acontecido. Ele me fez despertar de um sonho triste, de uma ilusão.
Essa foi só uma lembrança de uma pessoa que hoje não sou mais eu, e é só a lembrança mesmo. Não sinto mais nenhum vestígio daquele dia em que me senti tão pequenina quanto uma formiga.
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