Noite fria com lua de sorriso triste

O vento estava cortando seu caminhar lento e bagunçando seus cabelos e pensamentos.
Um ruido rasteiro começou a lhe acompanhar os passos. Não ficou curiosa, nem ansiosa, nem aumentou os passos. Era só um ruido naquela rua vazia e fria.
A noite estava silenciosa e a lua sorria um sorriso triste.
O vento era forte e o ruido aumentava, se aproximava.
De repente, o toque, e tudo se abriu como uma cortina ao começo de um espetáculo.
Era tudo mentira! Tudo uma grande mentira!
A luz se fez no palco e os truques se revelaram tão cabisbaixos quanto um réu confesso.
A verdade é do tamanho do infinito, não é possível abraçá-la de uma só vez, em um único enlace. Mais esperto mesmo, é descobrir as mentiras, aquelas que contamos para nós mesmos. As mentiras pequeninas que se escondem ou se vestem para parecerem gigantes, como um boneco de Olinda. A mentira se esconde embaixo de conforto, distração, diversão e medo.
É mais fácil viver e crer nela do que despí-la.
Ver a mentira é o primeiro passo para encontrar a realidade. É preciso coragem.
Revestimos o feio de beleza para encaixá-lo em nossa projeção ilusionista e nos convencemos que é daquilo exatamente que precisamos para sermos felizes.
Aceitar o conforto é bem mais fácil do que buscar a mentira escondida embaixo de tantas coisas.
A cortina se abriu e não era o começo do espetáculo. O palhaço estava nú.
Era o fim daquele show, neste dia.
A cortina estava aberta, a luz acesa, no palco um palhaço nú, perdido sem sua máscara.
Na platéia, ela sorri, diante da mentira que se dissolve.
Era só uma sacolinha plástica, embalada pelo vento, que a perseguia.
Ela não parou, não olhou para trás, não se arrependeu, não chorou, não culpou.
A noite estava fria e a lua, sorria triste, diante de mais uma ilusão despida.
O palhaço estava nú.

**Nota da autora, eu mesma.
Este post nasceu de parto prematuro. Insight da madrugada, a primeira insone do mês de setembro.


Paulinha Costa

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