Domingos de Oliveira na FLIP

Para mim ele foi inesquecível, ouvi-lo foi de uma graça que produz sorrisos até agora.
Seu eu pudesse iria beijá-lo e dizer: Te ouvir hoje foi um presente que fez meu coração sorrir nostálgico.

Trechos:
DOMINGOS: Há pessoas que sofrem com a separação. Para outras, mais raras, ela é um alívio.

Tive cinco casamentos e cinco separações e não tenho nada a dizer sobre o assunto. Há algumas coisas que quanto mais se vive, mais se conhece, mais se pensa e mais obscuras ficam.

Minha primeira separação foi muito sofrida. Foi nessa época que conheci a psicanálise e, logo depois, o álcool.

Minha segunda separação foi muito sofrida. Eu tinha três namoradas e brochava com todas elas.

Não conheço um casal decente que não tenha um sólido desejo de separação.

Continuo querendo me separar a Priscila e ela de mim, porque somos pessoas normais e nos amamos muito.

A verdadeira arte de viver talvez seja tentar ser o que você é, o que, naturalmente, é muito difícil.

RODRIGO: 99% da nossa vida passamos fazendo coisas banais. Indo ao banco, ao médico, no trânsito. Temos que extrair um significado mais profundo e ressignificar esses momentos. Se não soubermos revalorizá-los, não tem escapatória, e a vida de torna insuportável.

DOMINGOS: Não existe banalidade no mundo. Ela é apenas aparente. A vida de todo mundo é um turbilhão, que escondemos para cumprir nossos papéis sociais,

Abaixo, o texto do final de "Separações", de Domingos de Oliveira, lido por Rodrigo Lacerda em homenagem ao cineasta.

"O Homem Lúcido sabe
que a vida é uma carga tamanha de acontecimentos e emoções que ele nunca se entusiasma com ela
Assim como ele nunca tem memórias
O Homem Lúcido sabe
que o viver e o morrer são o mesmo em matéria de valor
posto que a vida contém tantos sofrimentos que a sua cessação não pode ser considerada um Mal
O Homem Lúcido sabe
que ele é o equilibrista na corda bamba da existência
Ele sabe que por opção ou por acidente é possível cair no abismo a qualquer momento interrompendo a sessão do circo
Pode tembém o Homem Lúcido optar pela vida
Aí então ...
Ele esgotará todas as suas possibilidades
Ele passeará pelo seu campo aberto pelas suas vielas floridas
Ele saberá ver a beleza em tudo!
Ele terá amantes, amigos, ideais
urdirá planos e os realizará
Resistirá aos infortúnios e até mesmo às doenças
E se atingido por um desses emissários
saberá suportá-lo com coragem e com mansidão
E morrerá, o Homem Lúcido, de causas naturais e em idade avançada
cercado pelos seus filhos e pelos seus netos que seguirão a sua magnífica aventura.
Pairará então sobre a memória do Homem Lúcido uma aura de bondade
Dir-se-á: "Aquele amou muito. Aquele fez muito bem as pessoas!"
A Justa Lei Máxima da Natureza obriga que a quantidade de acontecimentos maus na vida de um homem se iguale sempre à quantidade de acontecimentos favoráveis
O Homem Lúcido porém
esse que optou pela vida com o consentimento dos deuses
tem o poder magno de alterar essa lei
Na sua vida, os acontecimentos favoráveis serão sempre maioria...
Porque essa é uma cortesia que a Natureza faz com Os Homens Lúcidos"

Acrescento:
"Temos a arte para que a verdade não nos destrua”. Nietzsche.
E o ser humano deve então ser lúcido, muito lúcido para amar e perder, perder e amar, amar e perder… É dura a vida. Nós bebemos, quebramos mãos, visitamos psiquiatras. Nós sofremos, mas temos a arte. Por ela, vivemos. (Domingos)
Lendo essas palavras me sinto tão pequenininha, assim um ser humano meio perdido mesmo.
Tudo assim escrito e organizado parece tão óbvio e tão certo que dá a sensação (falsa, claro) de que a vida funcionaria perfeitamente se a gente deixasse tudo fluindo na mais perfeita ordem.
E ai me pego aqui a pensar que a minha vida é um caos disfarçado de uma organização dissimulada.
E eu aqui sigo a tirar as mãos dos olhos por alguns segundos e olhar esta bagunça para logo em seguida colocar as mãos de volta sem ter coragem para encarar tudo que eu tenho que arrumar.
E aquele pó embaixo do tapete acumulado a anos, que eu tropeço e insisto em deixar pra lá só para não levantar a poeira que incomoda. "Deixa lá, amanhã eu olho pra isso, e amanhã é sempre amanhã e nunca chega.

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