Jardins e afetos



Há ensinamentos que não se apresentam, ficam guardados em algum canto da gente por um tempo, germinando, como uma sementinha lançada despretensiosamente pelo vento. Um vento violento muitas vezes, tão forte que não deixa espaço nem tempo para outras coisas, além de nos segurarmos para não desabarmos.
Algumas relações também são assim. Passam pela gente de uma forma tão arrasadora, que naquele momento não conseguimos absorver o ensinamento que todo relacionamento carrega.
Eu desvendei um ensinamento recentemente, de uma relação que já se foi há muito tempo, há tanto que já havia deixado de ser importante, até agora. Hoje eu me sinto preparada para agradecer à vida por ter vivido aquilo.
São nos detalhes que o amor se estabelece, com a mesma sutileza com que a convivência e a intimidade vão minando as gentilezas.
Relacionamento é como jardim, é preciso cuidado e disposição para que esteja sempre bonito e livre das pragas e ervas daninha.
O que pode ocorrer algumas vezes é que a mesma praga repetidas vezes pode cansar o jardineiro, que, depois de tantas tentativas em curar a planta, como tudo que conhece, acaba por desistir, e lança a planta para fora do jardim, para que não contamine as outras.
Quantas vezes nos cansamos em salvar alguém de seus vícios, seus traumas, seus conflitos, seus padrões, de si mesmo? Como se pudéssemos! Mesmo sabendo que na verdade ninguém salva ninguém, seguimos tentando até o ultimo grão de paciência, de energia, de esperança.
Como é difícil aceitar a limitação do outro sabendo (e vendo) que ele pode tão mais! Como é difícil aceitar que não podemos mudar a direção do olhar do outro, quando ele somente consegue direcionar sua visão e sua mente para suas mazelas, para o seu lado mais medíocre, enquanto nós podemos ver seu lado brilhante. Mas a verdade é uma só, ninguém muda ninguém.
O único sentido é a sua própria transformação, não o que acontece em si, mas o que você faz disso dentro de você e como isso provoca a sua reação.
O que afeta seu íntimo? Por que isso te afeta? O que você faz disso? É isso que importa.

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