Nunca podemos dizer que é nosso, mas apenas que passou

O tempo que nos faz esquecer as dores é o mesmo que corre acelerado quando estamos felizes, corre solto, sem perguntar ou pedir permissão. Somente corre.
Eu ando me perguntando ultimamente algumas coisas das quais já tive a mais absoluta certeza. Não sei dizer ainda se isso é reflexo das minhas experiências, medos, ou, se é simplesmente o tempo, este que amadurece tudo, a dor, até a nossa vontade ou a nossa teimosia.
Eu também não posso cobrar do tempo a minha falta de coerência, mas me parece, agora, que a coerência se modifica também com o tempo e a referência.
No fim caímos sempre na mesma natureza das coisas, que são mutáveis e não perpetuam, da mesma forma que nascem, se modificam ou desaparecem sem aviso prévio, no máximo um sinalzinho ou outro, um sussurro, sutil como uma brisa.
Somos livres para mudarmos de ideia, ainda bem. 
E, se, a nossa mudança não ferir ninguém, ai sim é uma grande sorte, porque normalmente fere.
As vezes, eu penso que queria poder esticar o tempo quando estou com as pessoas que amo, num concerto, quando aquela música me toca o coração, embora saiba que é justamente a ideia da impermanência uma das coisas que torna o momento tão especial. Ele vai passar.
Hoje o tempo é meu amigo, eu já não me entristeço por levar às lembranças os meus momentos, algumas delas até ao esquecimento, pois já cumpriram seu papel de professores; Sofrimento só serve para duas coisas: Te aplicar um ensinamento específico e te fazer perceber o verdadeiro valor, a importância de alguma coisa oposta aquilo que te feriu um dia.
Eu não posso reclamar do tempo, ele já me curou muitas vezes.
Desfrutar o momento, para mim, não é através da voracidade, é pela presença, é estar cem porcento presente, entregue especialmente àquele momento, como se ele fosse o último, porque de fato é, não haverá outro igual nunca mais.

"Os dias são velozes como uma flecha indígena.
Voam como uma estrela cadente.
O dia presente está aqui e se dissipa tão rápido;
Que nunca podemos dizer que é nosso, mas apenas que passou."
 filme: Abraham Lincoln: Vampire Hunter






Desencontros

Há pessoas que a gente conhece para desencontrar, é um mistério, este querer muda de mão como a lua muda de fases e assim a vontade, daquela que consuma o ato, não se apresenta ao mesmo tempo para os dois.
São caprichos do destino? Medo de realizar o que idealiza? Falta de coragem de arriscar, o que? Viver?
Certa vez ouvi que o medo toma conta do vazio que o amor não preencheu, mas ai,  será que é amor?
Talvez seja o amor em meio ao medo. E este pode ser a simples constatação de que o amor não é grande o bastante. Ou quem sabe, seja a dúvida. Não a dúvida de que se ama, mas aquela que faz pensar que é melhor um sonho não realizado do que a certeza  de que não é capaz de vivê-lo.
E em caso de amor, uma decepção irremediável pode ser pior do que a frustração de um amor não vivido.
A vida é simples, as pessoas é que são complicadas.


"A vida é a arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida". (Samba da benção - Baden Powell e Vinicius de Moraes)




Por
Francisco Bosco


Para Vinicius, a experiência do amor é trágica. O que responde por essa tragicidade? O fato de que, para ele, o amor acaba: o amor é uma intensidade que queima, consome-se e consuma-se, esvaziando-se fatalmente. O que fazer, então, diante dessa experiência? Aqui começa a força: Vinicius fez um pacto com as altas intensidades, e dispôs-se a pagar seu preço, igualmente alto. Pois se o amor é uma alta intensidade que, no tempo, esvazia-se, só lhe restava aceitar essa dinâmica e acatar o fim do amor - o que significava abrir novamente a possibilidade de um novo amor, da vivência de uma nova intensidade alta, e assim sucessivamente.

A força de Vinicius - de suas letras e de sua vida, pois ético e estético estão aqui indissociavelmente ligados - vem daí, desse pacto com o que para ele se apresentava como alta intensidade. Essa, às vezes, pode - e deve - ser negativa; faz parte do preço. Pois é preciso trazer à tona, nesse pacto tão exigente, a categoria de sacrifício: todas as perdas, toda a interrupção, tudo aquilo de que é preciso desfazer-se para manter-se fiel às altas intensidades. Todos os lutos. A força é da ordem de uma firmeza ética. No pacote do pacto vêm a luminosidade e a obscuridade, os recomeços e os términos - os extremos das altas intensidades. Ou ainda: altas intensidades só têm extremos, não há meio-termo. 

Nos momentos de iluminação amorosa, no interior da alta intensidade, ocorrem vislumbres do infinito, promessas de repouso e solução: "A esperança divina de amar em paz" (Se todos fossem iguais a você - Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Pouco importa que a esses momentos sucedam novamente as dúvidas e os términos; isso é apenas o preço - alto, mas o preço. O que importa é que "A vida é a arte do encontro / Embora haja tanto desencontro pela vida". (Samba da benção - Baden Powell e Vinicius de Moraes).  
Recomendo a litura completa no link http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/article.php3?id_article=1261


Das melhores coisas da vida

Existem pessoas que parecem nos acompanham por toda a vida, com seu valor, sua presença em nossas mais íntimas emoções e pensamentos, com a importância de suas considerações ou com seu silêncio e respeito quando tudo (e somente) o  que você precisa é um colo para depositar suas lágrimas. Você não precisa dizer que não é hora de falar, esta pessoa tem o dom de perceber o que você precisa, mesmo quando nem você ainda sabe. Em meio a dor, muitas vezes, perdemos a capacidade de discernir e alguém resvalado na sutileza é um presente divino.
Quem tem a sorte de ter estas pessoas em suas vidas tem muita, mas muita sorte. Eu tenho e não é só uma.
As vezes esta pessoa não está perto geograficamente, mas sua presença é incontestável. Acolhimento e afeto podem ser transmitidos a distância também, por uma mensagem, um email, um vídeo de um gatinho com uma voz engraçada ou com uma flor.
No entanto, vez ou outra a presença se faz necessária para te devolver o lugar, o eixo, te relembrar quem você é além do ego uivando, ensurdecedor.
Se eu não tivesse mais nada, mas ainda tivesse estes anjos em minha vida, só por isto já teria valido a pena ter passado por aqui.
Hoje eu sou gratidão e amor em toda minha inteireza.
Te  amo
"I see y too"