DURGA, A PODEROSA GUERREIRA E PROTETORA HINDU

 DURGA, A PODEROSA GUERREIRA E PROTETORA HINDU

     texto de Mirella Faur


“Eu me ajoelho perante Ti Durga, eu abaixo a minha cabeça e oro com fervor.

Proteja-me Durga. Teus braços são um abrigo contra todas as maldades,

Acolha-me nos Teus braços e proteja-me Grande Durga!

Om Dum Durgayei Namaha! ”


Om Shree Matre Namaha (eu me ajoelho perante a Mãe)

Jai Ambe Gauri, Jaya Shyaamaa Gauri (eu louvo a Mãe Dourada, eu honro a Mãe Negra)

Jaya Jagatambe, Hey Maa Durga!  (Vitória para Ma Durga, a Mãe do Mundo)

Mahabharata (texto sagrado do hinduismo)


De acordo com a religião hindu, Durga é a “Mãe do Universo”, suprema e inacessível, no entanto, é uma das deusas mais amadas. Sua proteção é inexpugnável, como a de uma fortaleza e ela também elimina o sofrimento. Durga existe eternamente nos corações e mentes dos seus devotos, ela modela, nutre e dissolve nomes e formas, ilumina os sete vórtices de poder do corpo sutil humano. Quando forças demoníacas ameaçam o universo, ela é a sua defensora e a vitória alcançada restabelece o equilíbrio. Durga simboliza também a energia transformadora dentro de nós, que dissolve os aspectos da personalidade que estamos prontos para deixar ir. No Sul da Índia ela é cultuada como uma deusa guerreira, enquanto no Norte é reverenciada como a noiva de Shiva e guardiã da unidade familiar. O culto de Durga existe na Índia desde o século V a.C. e continua sendo um dos mais populares no hinduísmo, celebrado cada ano com um festival - Durga Puja - que lembra uma mescla do Natal cristão e o carnaval, em um país onde sua religião tem 4000 anos. 

Para compreender a complexidade do seu arquétipo, devemos partir do princípio de que a Deusa representa uma totalidade de muitas formas e nomes. Na teologia hindu, os poderes primais são: Criação, Preservação e Destruição. Nas tradições europeias, o poder agressivo pertence ao polo masculino, em contraste com o poder feminino receptivo e nutridor. Na religião hindu o princípio masculino permanece passivo, até ser ativado pelo feminino. Durga é “o supremo poder do Ser Supremo”, o mais conhecido mito é sua vitória, quando matou o demônio Mahisha metamorfoseado em búfalo, depois que os deuses tinham falhado. 

 A seguir, a história desta luta tirada de Markandeya Purana, 82.

“Uma longa luta existiu entre os deuses liderados por Indra e os anti-deuses cujo rei era Mahisha, “o poderoso”, que venceu a guerra e se instalou no céu, enquanto os deuses perambulavam pela terra, sem moradias. Decididos a reverter a situação, os deuses liderados por Shiva e Vishnu concentraram seus poderes e os manifestaram como jatos de fogo colorido em vermelho, branco e preto, saindo das suas bocas e que, unindo-se, se materializaram como uma belíssima forma feminina, pura e radiante. Ela era Durga, a Grande Deusa, que personifica a união de todos os poderes dos deuses e semideuses juntos. O poder de Shiva formou a cabeça, o de Jama, os cabelos, de Shiva, os braços; o poder da Lua, os seios e de Brahma, os pés. Do poder do Sol se formaram os dedos dos pés, de Vasus, as unhas, de Kubera, o nariz, de Prajapati, os dentes, de Agni, os olhos, de Vayu, as orelhas. Cada deus entregou as suas armas à deusa: Shiva entregou o seu tridente (trishula), Vishnu, seu disco (chakra) e Brahma, o japamala e o licor da imortalidade (amrita). Os semideuses presenteiam igualmente à Durga suas armas e atributos: Varuna dá-lhe a concha, Agni, sua lança, Indra, o raio, Yama, um bastão, Surya, seus raios dourados, com os quais a pele da deusa brilha como o próprio Sol. E a montanha Himavat presenteia-lhe um leão mágico como montaria. O exército inimigo, poderoso como o mar enraivecido, ataca a deusa, que simplesmente permanece sentada em seu círculo de fogo, pois as armas demoníacas não conseguem atingir a deusa. O leão balança a juba, e ela sopra sua concha, produzindo um som aterrorizante e anunciando uma vitória que seria prontamente sua. A cada exalação que ela faz, um novo exército se materializa, prestes para a batalha. As Matrikas, as energias de todos os deuses, vêm igualmente em seu auxílo. Finalmente, ela invoca os poderes que os deuses lhe tinham outorgado para materializar Kali, a devoradora do tempo, que é sua forma mais terrível. Durga começa a lutar, matando todos os guerreiros que ousam colocar-se ao alcance de suas armas mortíferas. Ao ver seu exército assim dizimado, Mahishasura solta um grito de ira e assume sua forma de búfalo. Começa a galopar em direção à deusa, matando todos os guerreiros que seu alento de fogo alcança. Quando Durga percebe o ataque do búfalo-demônio, concentra novamente suas forças e começa assim uma feroz e sanguinária luta entre eles. Mahisha ou Mahisasma, depois que assumiu diversas formas, se transformou em búfalo. Durga lançou seu laço e prendeu o búfalo, que instantaneamente se transformou num imenso leão. A deusa corta a cabeça do leão, mas este se transforma em um elefante, que por sua vez é prontamente decapitado por ela. Mahishasura assume novamente sua forma de búfalo e é preso à terra pelo pé de Durga, que finalmente corta sua cabeça, vencendo assim a batalha. Quando o demônio morre, seu exército inteiro se esvai no ar. Então, Deuses, Devas, Gandharvas, Apsaras e humanos vem apresentar seus respeitos e agradecimentos, fazendo um puja para ela. "Inclinamo-nos perante ti. És a boa fortuna dos virtuosos, a inteligência nos corações dos eruditos, a fé no coração dos bons, a modéstia no coração dos justos. Que possas sempre proteger o universo."

Um dos aspectos mais notáveis dos cultos hinduístas é a sua elaborada e diversa iconografia. Existem muitas representações de Durga, suas pinturas e estátuas estão em todos os templos e altares e cada um dos detalhes retrata algo sobre sua natureza e atributos. Durga é extremamente bela, geralmente coroada com ouro, vestida com sáris vermelhos (cor do poder), ricamente bordados, cavalgando um leão ou um tigre; estes detalhes revelam atributos de coragem, poder, vontade, determinação. Às vezes ela tem três olhos, o esquerdo indicando desejo ou a Lua, o direito, ação ou o Sol e o centro da testa, fogo e conhecimento. É cercada por oito ou mais yoginis, espíritos femininos portando espadas e consideradas feiticeiras, ou por Dakinis, forças femininas aterrorizantes. 

A imagem de Durga matando o demônio metamorfoseado em búfalo é o retrato do triunfo das forças do Bem sobre o Mal. Os símbolos que caracterizam Durga são as armas que ela segura nas mãos.

- A concha de Vishnu, o poder do som.

- O arco e flechas doados por Rama que representam energia.

- O raio, do Indra que pode destruir qualquer coisa.

- O botão de lótus é a espiritualidade doada por Brahma.

- O disco giratório (no seu dedo), o chacra de Vishnu que destrói o mal.

- A espada representa o conhecimento de Shiva que corta através da confusão.

- O tridente, também de Shiva, combate a inação e a ação, causas dos males físicos, mentais e espirituais. O tridente simboliza as três qualidades humanas: Satwa (a pureza mental e a mente contemplativa), Rajas (atividade e energia dos desejos e ambições) e Tamas (letargia e estresse). Para ter paz e felicidade devemos ter o equilíbrio entre elas.

Outros objetos de poder incluem taça de vinho, mala (rosário hindu), escudo ou lança. Nas imagens, o leão parece feroz, o búfalo agonizante, enquanto a deusa é serena, sorrindo, aparentemente prestando pouca atenção à batalha, porém percebe-se a sua concentração perfeita do corpo, mente e espírito. Durga é armada e perigosa, uma eficiente protetora contra qualquer mal. A palavra sânscrita durga significa um lugar protegido e difícil de alcançar. Durga protege a humanidade ao destruir as forças malignas: as energias negativas e os vícios como arrogância, egoísmo, ciúme, ódio, maldade, preconceitos, cobiça.

Uma descrição diferente dos símbolos os associa com suas oito mãos, que protegem os fiéis em todas as direções. O chacra com o disco giratório na sua mão direita superior representa o dharma, o cumprimento dos deveres e responsabilidades. A concha na sua mão esquerda superior – que produz o mantra OM –simboliza a felicidade em realizar os deveres, sem ressentimentos. A espada - na segunda mão direita inferior - simboliza o conhecimento que ajuda na erradicação dos vícios e das qualidades negativas. O arco e a flecha - na sua segunda mão esquerda inferior - simbolizam energia e recomendam que ao enfrentar dificuldades na vida, devemos preservar nossos valores e caráter. O lótus - na terceira mão esquerda inferior - simboliza desapego e desprendimento e ensina a expansão da consciência, assim como a flor de lótus se eleva da lama e revela sua beleza imaculada. Esta é a única maneira de receber as bênçãos. O bastão - na terceira mão inferior - é o símbolo de Hanuman e representa devoção e entrega, aceitando os fatos da nossa vida como a vontade divina e mostrando devoção e aceitação. O tridente - na quarta mão direita inferior - significa a coragem para eliminar os aspectos negativos e enfrentar os desafios. A quarta mão direita inferior estendida simboliza o perdão e as bênçãos; devemos perdoar a nós e aos outros pelos erros e males causados. O leão é o símbolo das tendências animalescas descontroladas (raiva, arrogância, egoísmo, ciúme, maldade) e o fato dele ser montado por Durga, é um lembrete e incentivo às pessoas para conhecerem seus defeitos e não ser por eles controlados. O tigre representa o poder ilimitado possuído por Durga, usado para proteger e destruir o mal.

A deusa Durga é venerada sob nove formas e nomes, cada aspecto reverenciado durante um dia do festival Navratri no mês sagrado de Aswin (entre setembro e outubro).

1. Shailaputri, “a Filha das Montanhas” - uma das primeiras encarnações de Durga- monta um touro e segura um tridente e um lótus; equiparada com Parvati, a consorte de Vishnu. 

2. Brahmacharini é cultuada no segundo dia do Festival, como uma deusa que segura um rosário e uma vasilha de água e ensina austeridade e o caminho para o êxtase.

3. Chandraghanta cavalga o leão, segura um lótus e tem uma meia lua na testa. Simboliza paz e prosperidade e possui dez mãos.

4. Kushmanda é a “Criadora do Universo”, cujo brilho criou o ovo cósmico. Acredita-se que a sua luz impede o domínio da escuridão sobre a Terra. Cavalga um leão e tem dez mãos.

5. Skanda Mata, a mãe de Kartikeya, carrega o filho nos braços, está sentada sobre um lótus e tem três olhos.

6. Kathyayani é a filha do sábio Kathya.

7. Kaalratri é a forma mais feroz de Durga, tem a pele escura, a aparência descuidada, três olhos e uma guirlanda de relâmpagos. Apesar de aparentar fúria e agressão, ela assegura aos seus devotos que irá protegê-los do mal.

8. Maha Gauri demonstra paz e pureza, é vestida de branco, cavalga um touro e leva nas mãos o tridente (trishul) e um pequeno tambor (damaru). A sua mão direita é elevada em sinal de benção.

9. Siddidatri cavalga um leão e é a mais benévola forma de Durga, abençoando todos os devotos e lhe conferindo poderes mágicos.

As nove formas citadas são apenas as principais, pois Durga tem 108 nomes oficiais que são entoados nas orações e canções. As mais conhecidas são Devi, Deusa, Jaya, Mangalaya, Vijaya, Varada, Auspiciosa, Conquistadora, Doadora, Vitoriosa. Os outros títulos (sem citar os complicados nomes hindus) são: “A Deusa dos três mundos, Aquela que é lindamente vestida e usa guirlandas bonitas, A que se assemelha ao Sol nascente, Bonita como a Lua cheia, A portadora de muitas armas, A destruidora de Mahisha, Deusa suprema celestial, A que confere a vitória na guerra, A que garante a remoção do sofrimento, Doadora de bênçãos, Protetora dos viajantes e da terra, Protetora contra a ignorância, desespero e males causados por inimigos, Guardiã das colinas e do mar, Deusa benevolente que garante sucesso em todos os empreendimentos”.

Durga é considerada uma manifestação de Shakti ou uma combinação das qualidades de Lakshmi, Sarasvati, Kali, que se expressa pelas suas armas, emblemas e mudras (gestos rituais). Ela representa a pura energia divina (jyoti) que é a personificação do poder feminino e criativo. Como Grande Mãe, é a destruidora dos demônios que existem dentro ou fora de nós. Ao mesmo tempo feroz e paciente, como personificação da compaixão divina, Durga nos oferece conhecimento, força, energia, ação, sendo nossa Protetora e Defensora divina.  Em situações de perigo ou pânico devemos apelar a Ela, mas devendo manter o nosso equilíbrio, avaliando a real natureza dos nossos desafios e problemas e o apego aos antigos padrões de medos limitantes. Podemos nos ver ajoelhados aos pés de Durga, percebendo a força que emana das suas armas e que afastam os nossos inimigos. Mesmo como Protetora, Durga é uma “Mãe Terrível” também para nós, mostrando como devemos encarar os medos e limitações, descobrir nossas verdades e, com a sua ajuda, agir ou decidir.

Celebrações de Durga

O festival Navratri ou Durga Puja dura nove dias, do final de setembro até começo de outubro, cada dia sendo dedicado a uma forma específica da Deusa. Esta festa é a maior e mais popular entre os festivais hindus, sendo não apenas uma data religiosa, mas um feriado nacional em toda a Índia e nas comunidades hindus no mundo. A razão deste festival é celebrar a visita que Durga - encarnada como Uma - faz aos seus parentes no mundo humano. Pode ser visto como o Natal europeu ou o carnaval brasileiro, quando tudo para e todo mundo se empenha em preparar decorações e imagens de barro. As imagens mostram Durga sozinha ou cercada pelos seus quatro filhos: Kartik, Ganesh, Sarasvati e Lakshmi, representando o “Protetor, o Iniciador do puja, o Conhecimento e a Provedora” aspectos que em sua totalidade manifestam o poder amplo de Dureza. Principalmente no Sul da Índia, o festival é uma celebração extática, com uma ininterrupta série de cantos de louvação, poemas, orações, oferendas, danças, comidas e bebidas, cada dia tendo uma cerimônia diferente. No final, as imagens são entregues de forma ritualística no rio, para levar Durga de volta ao seu marido – Shiva ou Vishnu – na sua morada nas montanhas, de onde fluem os rios. São entoados cantos melancólicos chamados agamami, para as pessoas se despedirem da Deusa.

Em Bengali, o festival dura dez dias e as pessoas seguem alguns preceitos religiosos e jejuns nos primeiros dias para depois mergulharem na atmosfera de alegria e celebração. Comemoram-se as seguintes etapas:

Maha Shasti – a chegada de Durga e dos seus filhos para a Terra é anunciada com tambores e a remoção de véus das estátuas de Durga.

 Maha Saptami – no sétimo dia, no nascer do Sol, uma árvore é vestida com seda amarela e bordados vermelhos para personificar Durga, tornando-se o ponto central das procissões conduzidas por sacerdotes e músicos e com oferendas de nove tipos de plantas consagradas a Deusa.

Maha Ashtami – comemora a vitória de Durga vencendo o demônio Mahishasura em forma de búfalo. Em alguns lugares remotos ainda se sacrificam animais, prática cada vez menos usada. São recitados hinos em sânscrito e feitas oferendas de flores e as meninas são honradas com uma cerimônia Kumari puja.

Maha Navami – o nono dia, é o auge da celebração, que começa após uma cerimônia de purificação e continua com música e dança.

Dashami é o último dia, quando as pessoas se despedem com tristeza da Deusa, cujas estátuas são levadas para o rio.

Sendo a personificação do poder cósmico, Durga é difícil para definir, suas qualidades sendo excessivas e opostas. Quando furiosa, ela é associada com Kali e apesar delas terem representações e cultos diferentes, são aspectos da mesma energia feminina – Shakti. Os hindus acreditam que a Kali se originou da testa de Durga com o propósito de matar os demônios Shimbu e Nishumbu. No calor da batalha, Kali perdeu o controle e começou a destruir tudo que encontrava na sua frente, parando somente quando o deus Shiva ficou se prosternando na sua frente. Uma imagem popular de Kali a mostra pisando no peito de Shiva, com os olhos arregalados e a língua à mostra, como se fosse por espanto ou remorso.

No entanto, Durga é também Mataji, a “Mãe do Universo”, que ensina as mulheres encontrarem seu poder interior e a independência para conseguirem alcançar seus objetivos. Durga é um modelo para desafiar os estereótipos sociais, ela apoia as mulheres que decidem permanecer solteiras ou adotam comportamentos e relacionamentos diferentes dos padrões habituais, desafiando restrições, proibições ou perseguições. Ela é a companheira e aliada das mulheres que desafiam as convenções e regras impostas pelas estruturas sociais ou culturais patriarcais e masculinas. A rebeldia personificada pela Durga deve ser fundamentada na definição clara dos valores e objetivos honestos, justos e íntegros. Semelhante ao arcano da Força do tarô, a postura de Durga cavalgando – ou abrindo a boca - de um leão ou tigre, é uma perfeita ilustração da liberdade e domínio necessários para enfrentar limitações, destruir amarras e criar uma forma de expressão pessoal. Como uma comparação, pode-se dizer que Durga tem as habilidades guerreiras de Kali, mas sem a sua ferocidade e descontrole. Durga reúne em si a beleza, a força física, a ação ou a espera, a habilidade de destruir ou curar, protegendo assim a individualidade integral das mulheres.

Durga pode ser invocada como proteção nos embates, desde que a motivação seja justa, pois a retidão pessoal é essencial para obter a sua ajuda. Durga promove apenas causas corretas e que beneficiem o Universo. Por isso é necessário meditar bastante antes de invocá-la, para avaliar se a causa é justa e não prejudicará outras pessoas. 

Ritual para Durga

Diferente de outros arquétipos divinos, Durga –assim como Kali - é uma “deusa viva”, seu culto fazendo parte de uma das maiores religiões atuais e as suas celebrações mobilizando um imenso séquito de devotos. Ela foi reverenciada desde os mais remotos tempos e é mencionada nas escrituras sagradas hindus como os Puranas e Vedas. Pelas diferenças geográficas, culturais e sociais, existem variações na maneira em que a deusa é honrada. Por isso, mesmo que não temos muita proximidade com a cultura hindu, se nos prepararmos com respeito e cuidado, estudando suas características e atributos, poderemos atrair suas bênçãos e pedir que ela faça parte da nossa vida. 

Sem precisarmos de um templo ou sacerdote, para realizarmos um culto individual (pujana) na nossa casa, devemos preparar um espaço adequado, em cujo centro iremos colocar um altar coberto com uma toalha de seda amarela, uma imagem ou estatueta da Durga, incenso de sândalo, guirlandas de flores (amarelas ou vermelhas), uma lamparina ou vela vermelha. Como oferenda, arroz cozido com açafrão ou curry, algumas laranjas ou mangas e chá indiano, temperado com garam masala (mistura de especiarias). 

As etapas a seguir são as seguintes:

1- Purificação – pessoal (banho com sal e essência de sândalo) e do ambiente (incenso de sândalo). Para honrar a origem de Durga, devemos vestir uma túnica indiana (amarela ou vermelha) ou um sári. Para completar a purificação, salpicaremos no altar e no ambiente, água aromatizada com essência (de rosas, melissa, laranjeira).

2 - Harmonização – entoar mantras olhando a imagem da Deusa (o mais simples é OM ou os mais específicos do CD: Hey Ma Durga, de Krishna Das). 

“Hey Ma Durga, Hey Ma Durga

Jai Jagadambe Hey Ma Durga,

Ma Kali Durge Namo Namah

Jai Jagadambe Ma Durga, Jai Jagadambe Ma Durga

Hey Ma Durga, Hey Ma Durga”.

3 - Honrar as quatro direções (começando no Leste) juntando as palmas das mãos e dobrando os joelhos em saudação para cada direção.

4 - Louvar Durga – ler ou rememorar o seu mito quando derrotou o demônio-búfalo. Entoar seu mantra de reverência Jai Mata Durga Jai Jai (“reverencio a Mãe Durga”) ou entoar seus títulos. Acender vários bastões de incenso e balançá-los na frente da imagem.

5- Contemplar a imagem de Durga observando cada detalhe do seu corpo, ornamentos, armas. Depois de algum tempo, fechar os olhos e vê-la na sua tela mental enquanto entoa seu mantra. Aos poucos irá perceber a sua presença, envolvendo-a no seu brilho, removendo medos e bloqueios. Afirmar com convicção que está protegida e segura no seu maternal abraço (pode criar uma afirmação mental ou por escrito, que irá pronunciar quando sentir algum medo ou perigo ao seu redor).

6- Uma ampliação desta visualização pode ser feita ao se concentrar em algum objetivo específico, algum obstáculo ou energia negativa (interna ou externa). Sentindo a presença de Durga ao seu lado, imaginar o crescimento do seu poder interior, o fortalecimento da sua vontade e coragem tomando conta do seu ser. Projetar mentalmente estas qualidades ampliadas como se fossem flechas alcançando seu alvo, eliminando os obstáculos e aniquilando as negatividades. Manter a visão da sua vitória e conquistas na sua mente e perceber como a sua aura ficou impregnada com o vermelho da ação corajosa e o dourado do sucesso alcançado”.

7 - Agradecimento – inclinar-se perante a imagem, elevar a vasilha com o arroz, o chá, as flores e as frutas colocadas sobre uma bandeja, agradecendo a presença e proteção da Deusa na sua vida. Apagar a vela com os dedos molhados e guardar os objetos do altar. Levar depois a oferenda para um rio, lago, mar ou perto de uma árvore frondosa.

Culpa e responsabilidade

 Eu gosto de pensar sobre o significado das coisas, principalmente quando envolve sentimentos. 

Eu não sou do tipo que se sente culpada. Foram anos de terapias e práticas para ressignificar e entender a diferença entre culpa e responsabilidade. Além de décadas da minha vida onde permiti que me manipulassem a partir da culpa que me incutiram, quando na verdade eram  suas próprias neuroses, traumas e crenças distorcidas. Coisas que deveriam estar sendo tratadas em terapia e não sendo atiradas como lanças nefastas em relacionamentos e afetos, todos eles, incluindo amizades e familiares, além do amoroso. Essa minha INdisponibilidade para satisfazer a expectativa do outro sobre aquilo que ele gostaria que eu sentisse para atender sua necessidade, é um tipo de liberdade, que não sem dor, me faz reconhecer quem eu realmente sou e o que genuinamente brota no meu coração e não do meu ego. A dor vem de perceber que ao não permitir que meu coração seja colonizado, alguns confundem com frieza e desamor, mas eu costumo pagar o preço. Distorções do significado de amor, amizade e afeto que foram sendo metamorfoseadas em sofrimento comunitário e sacrifício. Amor é mais próximo de liberdade do que de expectativa e, não tem nada a ver com querer que o outro supra a necessidade que eu mesma deveria suprir, sobre meu bem estar, minha alegria, minha felicidade. 

Então assumir a responsabilidade é totalmente diferente de se sentir culpada. E todos nós deveríamos refletir sobre este desejo maléfico de que os outros sintam culpa para que se movam como a gente acha que seria mais “amoroso “ e também refletir, honestamente sobre o prazer que pode surgir ao ver o outro se sentindo culpado por algo que nos afetou. Amenizar danos é assumir a responsabilidade e arcar com as consequências de um ato. E, muitas vezes implica em atitudes efetivas e não em sentimento de culpa, pois sentir-se culpado não altera em nada o que foi feito ou dito ou não feito ou não dito. A corrupção do coração nasce no ego carente e desesperado por ser amado, por ser validado em suas distorções. 

Que todos nós possamos encontrar em nossos corações a verdade essencial de nosso ser. E, com aceitação e amorosidade possamos permitir que cada um seja o que pode ser, porque isso é ser adulto, isso é ser espiritualizado afetivamente. 

Não colonize o coração de alguém e não permita que façam isso com o seu. 

Se relacionar em liberdade é que é amar verdadeiramente.

Amor e Liberdade

O amor é generoso e liberta.

Não me ofereça seu sacrifício como prova de amor;

Não me dedique nada que seja produzido a partir do seu esforço como expressão do seu amor;

Não me trate com calculada e treinada delicadeza para me convencer do seu amor;

Não deixe de ser quem você é para validar o seu amor;

Não use o amor para justificar seu ego, sua carência, seus traumas; não é para isso o amor; 

O amor não exige que você se mutile ou se sacrifique para atender as expectativas do ego;

O amor não tem nada a ver com expectativas;

O amor naturalmente se manifesta e se expressa, não por esforços, mas apenas pelo estado legítimo e natural amoroso;

O amor não exige estratégias, pois não produz moedas de troca; 

O amor não estimula a opressão e nem a prisão de te encaixar em um modelo padrão que tira sua liberdade; o amor não te encaixota;

O amor não dá espaço para  a colonização; isso é seu ego viciado quem faz;

O amor não faz você imune, nem isento, nem perfeito, nem  aprovado, não é disso que se trata o amor;

O amor não quer que você idealize sua manifestação neste mundo; pelo contrário, ele quer que você aceite a sua imperfeição; ele te estimula a ser você mesmo, completa e alegremente;

Amor e liberdade são almas gêmeas, um não existe sem o outro.

No universo amoroso o elemento básico do amor é você poder ser quem você é, com  liberdade para se expressar plenamente, em luz e sombra; Relaxar em você mesmo, sem ter que atender às expectativas do outro, sem pressão, sem projeção;

O amor não se sujeita a ser utilizado como barganha, sentença ou desculpa, pois é grande demais pra isso; 

O amor não compactua suas fantasias dramáticas, faz o oposto, as destrói;

Se você ama verdadeiramente alguém, o seu SER se manifesta livremente sem medo e sem condições; afinal o AMOR sabe que só pode florescer se houver verdade em quem somos. O amor ama a verdade e por isso costuma revelar o que está obscuro e inconsciente;

O amor genuíno faz brotar seres genuínos;

O amor te faz íntegro se sua essência não se corrompe; E se dissolve se a verdade do seu coração for corrompida;

E tudo isso produz a liberdade e o relaxamento naturalmente, sem esforço, sem obrigação, sem condicionamento, sem exigência, só você sendo quem você pode ser e permitindo que o outro seja como pode e consegue ser. Isso é AMOR.

O amor não espreme , não frustra, não obriga;

O amor não te entristece, ele te ajuda a perceber suas vulnerabilidades para que você possa se fortalecer através do amor; 

A sabedoria do amor começa de você para você mesmo; o estado amoroso é primeiro para você mesmo; 

E se você não se sente assim diante do amor, há em você muitas camadas de dor que precisam do seu cuidado e atenção para que não distorçam o amor em servidão;

O amor só pode existir em liberdade e relaxamento;

O resto foi construído pelos romances, pelo seu ego e pela Disney.

Julgamento


jul.gar, transitivo

emitir juízo
sentenciar
decidir como juiz ou árbitro
decidir por sentença
supor, conjeturar
formar opinião ou juízo crítico sobre; avaliar
jul.gar, intransitivo

pronunciar sentença; sentenciar
ter-se por; considerar-se


Está no dicionário, importante contextualizar.

Eu pratico a tentativa de não julgar. Nem sempre consigo, mas cada vez que sim, nossa(!) que maravilha e leveza que é.

Imagine que vida mais leve seria se pudessemos olhar para tudo como se fosse a primeira vez, sem dar tanto espaço para essa mente cheia de julgamentos, preconceitos e crítérios?

Eu tenho vários amigos que compartilham comigo seus segredos inconfessáveis porque sabem que eu estou nessa prática há muito tempo. E isso acaba intensificando a minha prática. Um desafio e tanto, mas como é feito com pessoas do meu afeto, me trazem mais bons resultados.

O que seria não julgar, quando a mente já tão acostumada a fazer isso automaticamente, não pede licença para fazer imediatamente?
Talvez um voto, que pode começar por se observar para perceber o quanto é pesado o julgamento automatizado, o quanto cruel e pouco compassivo e empático é este automatismo julgador. E, mais ainda, como é incrivelmente cruel a reprodução disso, de você para você mesmo. O que acontece fora, está acontecendo dentro.

Não julgar também tem muito de compaixão e humildade, e julgar tem muito de arrogância e egocentrismo, com algo de se achar superior. (alerta de julgamento na postagem ;(

Julgar é fechado. Apreciar, contemplar, observar é aberto.

Quando julgamos fixamos aquilo, aquele ou aquela que estamos julgando em uma caixa, deixamos de dar o espaço para sua manisfestão, expressão genuína que possui o potencial latente de nos ensinar.

Aquilo que nos ensinaram sobre julgar bom e mau, preto e branco, escuro e claro - nos deixou tão limitados... Deixamos de ver a magnitude da vida porque estreitamos nossa visão.
E não significa que julgar é só aquilo que você fala de negativo (quem dera) julgar também é expressar o positivo.
 Isso me lembrou uma fala do Lama Samten

"Mas você é ótima, Tatá! Isso é um julgamento. Esse julgamento é venenoso, porque se eu digo que você é ótima, numa outra hora eu posso dizer que você não é ótima, porque eu começo a julgar, e isso introduz uma avaliação. A porta dos infernos começa com um elogio. Então, eu não quero oferecer essa porta dos infernos pra ti. Eu ofereci isso assim só para mostrar que essa é a porta dos infernos. “Mas você é uma boa menina”. (Risos) No inferno não está escrito inferno. Está escrito céu. Mas é um céu sob condições. E céu sob condições é mortal. Imagina, se tu quer enganar as pessoas, arrastar elas para um buraco, tu não vais escrever: LUGAR HORRÍVEL! Tu vais escrever: LUGAR MARAVILHOSO!"

Que tal aproveitar que 2020 está começando e fazer um voto de evitar o julgamento e observar quando escaparem de você?

Estaremos juntos nessa.

"Que possamos apreciar e nos relacionar com todos como apreciamos o por do sol. Ao contemplá-lo você não fica julgando se está melhor ou pior do que ontem, se deveria ter mais laranja ou mais vermelho ou menos rosa, se foi rápido ou demorado. Você apenas se permite por aqueles instantes repousar seu olhar e sua atenção naquela contemplação. da natureza"

Bons votos! Boas práticas!

Também

Para começar bem o ano

1 . Desafie o medo.
Fuja do que é confortável. Esqueça a segurança. Viva no lugar onde você tem medo de viver. Destrua sua reputação. Seja notório.

2 . Seja corajoso.
Não se contente com as histórias que vieram antes de você. Desvende seu próprio mito.

3. Seja grato.
Use a gratidão como uma capa e ela preencherá todos os buracos de sua vida.

4 . Aja.
Por que eu deveria ficar no fundo de um poço, se eu tenho uma corda forte em minhas mãos?

5. Tenha fé.
À medida que você começar caminhar, aparece o caminho.
6. Abrace contratempos.
Se você fica irritado com cada atrito, como você vai ser lapidado?
7. Olhe para dentro.
A sua tarefa não é buscar o amor, mas apenas procurar e encontrar todas as barreiras dentro de si mesmo, que você construiu para se proteger contra o amor.
8. Aprenda com o sofrimento.
A ferida é o lugar por onde a luz entra em você.
9. Não se preocupe com o que os outros pensam de você.
Eu quero cantar como os pássaros cantam , não me preocupar com quem ouve ou o que eles pensam .
10. Faça o que você ama.
Deixe-se ser atraído pela força pungente do que você realmente ama.

Inspirado na obra de Rumi, por Tiffani Gyatso