Eu estava arrumando umas caixas
antigas e encontrei uma caixa de cartinhas. Tinham várias delas de amor, todas
escritas na minha pré-adolescência, todas para uma pessoa. Cartas que não foram
entregues. Existe uma magia e um mistério em cartas não entregues.
Estas cartinhas tão doces e tão
puras me fizeram lembrar de uma parte de mim que eu nem me lembrava mais.
Uma menina que sabia escrever
cartas de amor, com poesia, com coragem, cartas de coração aberto. Uma menina
que não tinha medo. Uma menina que sabia o que queria e sabia expressar seus
sentimentos de forma clara, honesta, sem joguinhos, uma menina sincera.
Embora tivesse coragem, as cartas
não foram entregues, o que aconteceu?
O rapazinho pelo qual todo o meu
coração sorria e trazia para minha barriga todas as borboletas do mundo, não
nutria por mim os mesmos sentimentos. E descobrir isto foi muito dolorido, mas
muito mesmo, foi a primeira vez que meu coração teve contato com este
sentimento. Foi a primeira paixão arrebatadora. Até então eu também não sabia o
que era ter um coração cheio de paixão rejeitado. Era como se alguém tivesse
rejeitado o presente mais especial que alguém poderia ganhar, o meu coração,
inteirinho. Ingenuidade de uma romântica, ainda, não corrigida.
Ele simplesmente não gostava de
mim. Não da forma que eu gostaria. E aquelas cartas foram para a caixinha, para
o porão e para o esquecimento, até hoje.
Hoje eu não sei mais do
rapazinho, nunca fui atrás de notícias e isso foi bom para me lembrar que mesmo
a rejeição do amor mais bonito também a gente esquece, até o amor a gente
esquece, e as pessoas também. É a gente que escolhe o que permanece, porque no
fim é a gente que escolhe tudo, nossos amores e nossos sofrimentos.
Tudo passa. O que hoje pode
parecer um sentimento sem fim, daqui a algum tempo pode se tornar só uma caixa de
cartinhas de amor esquecidas num porão.
A vida é curta demais para você
gastar sua energia com alguém que não quer escolher você.