Pegue a sua quota de bem estar e seja feliz!

A sensação de bem estar percebida por alguém depois de um encontro, um e-mail, uma mensagem, um telefonema é o sinal mais confiável e irresistível para a continuidade de um relacionamento, seja ele qual for, independente do nível.
A questão é que algumas vezes essa sensação desaparece. O fato dela ter nascido em determinado momento não garante que ela se desenvolva, as vezes o bem estar não resiste aos três primeiros encontros, outras vezes persiste por mais alguns e não se sustenta.
Pode acontecer de alguém que te fez tão bem em algum momento da sua vida de repente, depois de anos, passa a fazer mal, ou simplesmente se torne indiferente.
A questão é que a gente muda o tempo todo, a reação química de hoje pode não acontecer amanhã. O que te interessa hoje pode ser completamente diferente amanhã. Não existe fórmula mágica, nem explicação racional para essa afinidade, as vezes ela acontece, as vezes não, as vezes ela se perde, as vezes ela se transforma, as vezes ela só precisa de um tempo para se ajustar novamente, felizmente, as vezes ela se renova a cada novo encontro.
Acontece que nós somos imediatistas, ansiosos e achamos que o mundo gira em torno de nós mesmos.
Quando estamos do lado lá, quando somos a pessoa que já não causa o interesse, nos sentimos revoltados, rejeitados, tristes e buscamos as razões (que talvez não existam) para explicar algum distanciamento.
Nada permanece igual indefinidamente. As pessoas mudam, o tempo muda, os interesses mudam, tudo se transforma com o passar do tempo. Não se deprima, não amargue a vida, siga em frente e confie na vida.
O melhor disso tudo é perceber, depois de um tempo de distância, que o tempo foi necessário para que se  pudesse encantar novamente com a mesma pessoa.
Rubens Alves citando T.S. Eliot "E o fim de todas as nossas explorações será chegar ao lugar de onde partimos e conhecê-lo então pela primeira vez". Os caminhos da alma são circulares, voltam sempre ao princípio. - Variações Sobre o Prazer, Rubens Alves, Editora Planeta, pag 57 e 58
É delicioso sentir este encantamento surgindo novamente, mais forte, mais maduro, menos ingenuo, mais lúcido.
Só o tempo é que certifica algumas coisas, não adianta correr, chorar, se inconformar, simplesmente é assim, aceite.
A vida não tira nada da gente, ela ensina sobre a impermanência das coisas. Quanto mais rápido você aprender, menos vai sofrer!
Ser feliz deve ser a sua meta porque aqui todo mundo tem a sua quota de bem estar, não deixe a sua pra lá.



Eu quero a vida viva!


Eu quero dias de sorrisos de artista, dias de banho de cachoeira, dias de abraço de criança;
Eu quero a sensação refrescante da brisa no dia quente;
Eu quero o sabor do primeiro gole daquele vinho maravilhoso;
Eu quero dançar de mansinho com a cabeça apoiada no ombro certo;
Eu quero a noite  perfeita que não termine;
Eu quero dias de sol, alternados com dias de céu cinza e a chuva para lavar a alma;
Eu quero amar e conquistar e continuar amando o que conquistei;
Eu quero dia de prosa boa, comida boa e bebida boa e o compartilhar com os bons;
Eu quero a sensação de vida ganha depois de uma conversa;
Eu quero trocar experiências de riqueza vivencial;
Eu quero saúde e tempo de vida para desfrutar o amor;
Eu quero compartilhar todo o amor que meu coração for capaz de produzir, conduzir e espalhar;
Eu quero o olhar amoroso, o sorriso de carinho e o silêncio cúmplice.
Eu quero tempo e atitude para ler os livros, ver os filmes, escrever as cartas, organizar as fotografias;
Eu quero perceber o amor antes da carência, da conveniência, do desejo, do tédio de um dia vazio;
Eu quero desejar apenas o que me cabe e amar os que me amam, mas compreender e aceitar aqueles que não amam;
Eu quero fechar os olhos na tempestade e ter fé suficiente para caminhar tranquilamente com olhos fechados;
Eu quero a surpresa de um gesto amável, gentil, leal;
Eu quero o toque dos lábios na pele;
Eu quero sentir o cheiro da sua pele depois do banho; depois do amor, depois do sono;
Eu quero o beijo quente e suave que me diga, sem palavras,  o quanto somos melhores juntos;
Eu quero a percepção de que a vida é mais colorida quando eu olho para você;
Eu quero o suspiro depois do orgasmo e o soninho de preguiça depois;
Eu quero respirar a vida em toda a sua força e não achar que estou viva porque ainda respiro;
Eu quero que você saiba:
Para ser feliz a dois, somente sendo, primeiro, feliz em um, pois felicidade se soma.

Não se mate, de Carlos Drummond de Andrade


NÃO SE MATE
(Carlos Drummond de Andrade)



Carlos, sossegue, o amor 
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija, 
depois de amanhã é domingo 
e segunda-feira ninguém sabe 
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para 
as bodas que ninguém sabe 
quando virão, 
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você, 
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas, 
vitrolas,
santos que se persignam, 
anúncios do melhor sabão, 
barulho que ninguém sabe
de quê, 
pra quê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito 
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam. 
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos, 
mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.




Um traço muito recorrente no Drummond é o humor, é um poeta com um humor incrível, que tem varias motivações no humor. 
Vejam que graça e que simplicidade isso:

"Carlos, sossegue, o amor 

é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija"


Não há nenhuma tragédia, não há nenhum grande drama instalado no fato do amor num momento se anunciar pleno e no outro ele se furtar, ele se subtrair completamente, um dia beija outro dia não beija. 
Sobretudo reduzir o amor ao próprio ato do beijo é de uma enorme simplificação, então o que  Drummond faz aqui é simplificar o problema amoroso para nos dar uma imagem doméstica, muito do nível do casal, da relação a dois:

"hoje beija, amanhã não beija, 
depois de amanhã é domingo 
e segunda-feira ninguém sabe 
o que será."


Ora, o poema vai neste tom humorístico muito leve e depois tem esse momento dramático:
"
Não se mate, oh não se mate,"


E ai parece que o poema entra em uma especie de momento dramático:

"O amor, Carlos, você telúrico,

a noite passou em você, 
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,"


Esta estrofe é muito estranha, lá dentro onde? Porque até então não tem nenhum espaço físico para que haja um dentro, a não ser que haja uma casa, mas veja, "como a noite passou em você" o que surge pra gente é a imagem do sujeito, "o amor, Carlos". Esta coisa é muito do Drummond, ele se tratar na segunda pessoa, ele fala com ele mesmo. Então a nossa câmera de leitor está toda voltada para o Drummond. A primeira tentação nossa é lá dentro de você, Carlos.


"lá dentro um barulho inefável,

rezas, 
vitrolas,
santos que se persignam, 
anúncios do melhor sabão, 
barulho que ninguém sabe
de quê, 
pra quê."


Parece que tem uma televisão ligada e ao mesmo tempo parece que ele está fotografando ou filmando  o inconsciente deste sujeito, Carlos, então este lá dentro é como se fosse o lá dentro dele. E veja, a gente ainda está naquele mesmo poema, "um dia beija, outro dia não beija", aquela simplicidade desapareceu, aquela intimidade, aquele poema transparente que todo mundo imediatamente lê e  se reconhece, desapareceu. O poema agora é outro, ele já exige do leitor um outro nível de investimento, um outro nível de interpretação, uma outra entrega. Até que:

Entretanto você caminha

melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito 
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam. 


O poema ganha aqui uma espécie de tom maior, muito diferente do que vinha lá na primeira estrofe, então é um poema que vai se transformando ao londo dele, que vai mudando de dicções, num mesmo poema. Por Eucanaã Ferraz.

Transcrição da mesa 17 da FLIP 2012, homenagem a Drummond.

Salman Rushdie em entrevista para O Globo em 2003


Eu sou apaixonada por Drummond e este poema é, para mim, muito especial, me identifico com ele da primeira à última estrofe, palavra por palavra.

Nós somos simples e complexos, silenciosos e barulhentos, lúcidos e ignorantes, sempre vai depender do referencial, do momento interno em que estamos, do grau de emoção envolvido, porque nos perdemos vez ou outra. 
Ninguém é cem porcento isso ou aquilo, somos mutantes, pelo menos, eu acredito, (felizmente) uma grande parte de nós.
Esta complexidade do ser humano é que propicia transformação, evolução, busca por novos conhecimentos e alguma (ou muita) dor e sempre muito aprendizado, se você estiver aberto.

"O amor é isso, hoje beija, amanhã não beija."

É como eu costumo dizer: Eu te amo, mas hoje não estou te amando.
As vezes o barulho é tanto que o silêncio é uma questão de vida ou morte.
As vezes o grito é a sentença de vida.

O que a gente precisa é de compreensão e respeito, qualidades inseparáveis do amor, aquele, o amor de verdade.

Seja lá o que for que esteja acontecendo, não se mate, isso passa, como tudo já passou e passará, não é pessoal contra você quando é no outro, é intrapessoal, é ele com ele mesmo, eu comigo mesma, e vai passar porque tudo passa.

O amor no escuro, não, no claro,

é sempre triste, meu filho, Carlos, 
mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.


O que importa realmente, é que aquele dia que foi o dia mais feliz da sua vida, aquela sensação de coração cheio de amor, vida repleta de sentido, isso pode estar ali, na próxima esquina. Esta é a graça da vida.
Nós somos um universo de coisas, mas o universo também está aos nossos pés.
Coragem, é o que a vida quer da gente.


As vezes um domingo

As vezes é só uma música despretensiosa que nos faz viajar para dentro de nós mesmos e encontrar um momento que a memória escondeu.
As vezes é uma mensagem no meio da tarde que, rompendo a normalidade da hora, faz o coração pular, feliz.
As vezes é um lembrete lançado na imensidão da internet, como uma flecha lançada em sua direção.
As vezes o erro, as vezes o acerto, mas sempre somos nós. As vezes eu, as vezes você, no fundo somente eu e você, somente nós mesmos, solitários.
A mensagem que insiste em chegar numa ideia que insiste em se esconder.
As vezes é assim, a vida ensinando que há mais detalhes para observar, que a verdade está além do que se ouve ou se vê, a verdade está na motiv-ação, naquilo que precede o ato, além da atitude em si.
As vezes é assim, o coração sabendo de tudo e os olhos querendo fugir.
As vezes a gente se engana, só para ser feliz, sem saber que a verdade é a felicidade em si.
A ilusão é um castelo incrível, bonito e confortável, perfeito se não fosse uma prisão.
As vezes a gente esquece, mas as vezes a gente lembra como tudo deveria ser, como agora.